quarta-feira, 7 de abril de 2010
segunda-feira, 5 de abril de 2010
REGATAS DE BOTAFOGO
Nada era mais estranho à juventude carioca do século XIX que a prática de esportes.
Ao contrário de hoje, o esforço físico era tido como prejudicial e sempre que possível evitado para proteger a saúde, pois qualquer enfermidade podia tornar-se fatal.
As poucas exceções à regra provinham de indivíduos ligados às forças armadas ou à canoagem na baía de Guanabara, cuja origem se perdia no tempo, sendo muito anterior à chegada dos colonizadores portugueses.
As primeiras disputas da modalidade se deram em torno de 1850, por iniciativa de alguns adeptos.
Um dos registros mais antigos é de 1846, com uma regata entre duas canoas de Jurujuba à praia de Santa Luzia, no Rio.
Uma curiosidade para a época, este tipo de competição se repetiria esporadicamente, como em 1851, 1855, 1862 e 1888.
Ao se aproximar o final do século, o esporte ganha popularidade, coincidindo com a fundação de alguns dos clubes mais conhecidos, como Flamengo, Botafogo e Vasco, que posteriormente desenvolveriam sua divisão de futebol.
Outros, famosos na época, como o Boqueirão do Passeio, iriam desaparecer.

Domingo de festa, regata em Botafogo na década de 1910
Neste tempo, a enseada de Botafogo era a preferida dos esportistas. Águas relativamente calmas e proximidade com o centro da cidade, onde estavam as sedes da maioria dos clubes, consagraram o local.
Na praia, uma estreita faixa de areia recebia os barcos após as regatas, tendo à sua volta um público empolgado, cuja presença conferia mais brilho aos eventos.
Mas em realidade ainda se lidava com a improvisação, pois eram necessários investimentos mínimos em infraestrutura para maior sucesso dos espetáculos.
Tal ocorreria no início do século seguinte, sob o comando de Pereira Passos na prefeitura do Distrito Federal.
No processo de urbanização da orla, do centro à zona sul, a linha costeira foi retificada no Flamengo e em Botafogo, e construída a avenida Beira-Mar.
Do traçado original, o mar recuou dezenas de metros em Botafogo, através de um grande aterro.
Foram construídas pistas de acesso e jardins, e, junto à orla, um muro de pedra que resistisse às imprevisíveis ressacas.
Coroando a obra, em 1905, foi erigido um pavilhão no meio da enseada, com elegante estrutura metálica.
Ponto de chegada das regatas aos domingos, esta novidade contribuiu para o fim do preconceito contra a modalidade, que passou a atrair a elite da sociedade, cujos filhos adotariam o esporte que décadas antes era tido como atividade socialmente inferior e inadmissível.
O pavilhão de Passos testemunhou inúmeros eventos, como o primeiro Campeonato de Remadores do Brasil, em 1911, disputado com barcos de quatro remos e vencido pelo Rio de Janeiro, e uma regata internacional em 1922, em comemoração ao centenário da Independência.
A partir de 1927, as competições seriam disputadas na Lagoa Rodrigo de Freitas, levando a seu abandono e desaparecimento.
Suas imagens, contudo, permanecem como testemunho do nascimento esporte como atividade popular e indissociável da vida moderna do Rio de Janeiro.
MEMÓRIA DO RIO

Livro de arquiteta conta o deslocamento do poder no Rio pelo tempo
Carolina Monteiro e Flávio Dilascio, Jornal do Brasil
A explicação sobre essas mudanças e as relações de poder que as permearam está em um estudo da arquiteta Rachel Sisson, publicado em 1986 e relançado agora no livro Espaço e poder – os três centros do Rio .
O primeiro centro da cidade, ainda na época colonial e de Reino Unido a Portugal, foi a Praça 15. Uma das vantagens da região era a proximidade com o mar, ou seja, um caminho direto para Lisboa e para o resto do mundo.
– A Praça 15 reunia os prédios mais representativos do poder, entre os quais podemos destacar o Palácio e a Catedral da Sé – comenta Rachel.
A área chegou, inclusive, a ser o centro do império português, quando dom João VI veio para o Brasil, em 1808.
Na Praça 15, estavam reunidos os poderes civil, comercial, político, militar e religioso.
Assim como construções de uso e dimensões especiais que se tornaram marcos.
No período monárquico, o centro do
Àquela época, a área do então centro da cidade ia muito além da que vemos hoje na Praça da República.
O campo de Santana ia até onde é hoje a Central do Brasil. Ali, estava a Igreja de Santana, que deu nome ao espaço.
Segundo a autora, entre as edificações representativas do poder imperial na época, estavam a sede para o Senado da Câmara, que abrigou também a Câmara Municipal e o Supremo Tribunal de Justiça.
– Alguns momentos marcantes da história brasileira aconteceram no Campo de Santana, como a aclamação de dom Pedro I como Imperador Constitucional do Brasil e o seu casamento com Dona Leopoldina.
Os centros se caracterizam por marcos do poder civil, religioso e militar – diz a autora do livro.
O último centro do Rio de Janeiro antes da transferência da capital para Brasília foi a Praça Floriano, mais conhecida como Cinelândia.
Um fator que favoreceu de forma determinante a mudança para lá foi a construção da avenida Central, hoje Rio Branco.
Além da nova via, a transferência do eixo para a Praça Floriano foi resultado da ação do poder vigente, que edificou no local a Câmara Municipal, o Palácio Monroe, a Biblioteca Nacional, o Teatro Municipal e o Museu Nacional de Belas Artes.
A convergência da avenida Central com a avenida Beira-Mar indicou um novo eixo de expansão do Rio, em direção à Zona Sul, que englobava os bairros preferidos pela elite.
– Achei interessante como o conhecimento dos fatores determinantes na estrutura física do Rio consolida a imagem e o significado do Centro como o conhecemos hoje – comenta a filha da autora, Marta Prochnik, que teve a iniciativa da publicação do texto como livro, pela editora Arcos.
22:44 - 04/04/2010
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