sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
BARÃO DO RIO BRANCO - CONCURSO DE REDAÇÃO
BIBLIOTECA NACIONAL E A CONSULTA DE DOCUMENTOS ON LINE
Documentos on line
ANCELMO GÓIS
A Biblioteca Nacional vai digitalizar 170 mil documentos de moradores do Rio
(certidões de nascimento, casamento, óbito, divórcios, procurações, registros de
imóveis...).
Em um mês, os cariocas já poderão consultá-los na internet.
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
Solar do Visconde do Rio Seco
Enviado por Ancelmo Gois -
14.2.2012
12h59m
Gois de papel
As fotos de hoje
ESTAS DUAS estátuas neoclássicas, trazidas da Itália, foram
removidas do topo do Solar do Visconde do Rio Seco, construído no final do
século XVIII, na Praça Tiradentes. Serão restauradas pelo Iphan-Rio.
Em
terracota, com 2,10m e 600kg, representam a Sabedoria e a Indústria. Voltarão a
seus lugares assim que a recuperação do prédio, tombado em 1998, for concluída,
até o fim do ano.
Neste meio tempo, ficarão guardadas em caixas de madeira
feitas sob medida
ENTRE O CÉU E O MAR . . .
Entre Céu e Mar |
Escrito por Paulo Pacini | |
Qua, 15 de Fevereiro de 2012 09:22 | |
Quase todos os movimentos de grande transformação
social, merecedores do nome revolução ou não — muitos golpistas e ditadores
gostam de usar a expressão para enobrecer e legitimar suas iniciativas escusas —
são feitos por indivíduos em grande parte idealistas e com intenções sinceras de
transformar a sociedade para melhor. Assim aconteceu com nossa República, um
golpe sem apoio popular levado adiante por militares que desejavam imprimir um
modelo de desenvolvimento baseado nos princípios da filosofia positivista de
Augusto Comte.
Entre os associados incluíam-se fazendeiros
descontentes com o fim da escravidão e muitos intelectuais, alguns de
confeitaria, que liam com avidez livros e jornais que chegavam de Paris nos
paquetes, procurando se alinhar com as posições dominantes no mundo francês das
idéias. Aguardando sua vez, porém, estavam os eternos espertalhões, que, em seu
fisiologismo reptiliano, viam o acesso ao poder como a abertura de amplas
oportunidades de enriquecimento, jamais imaginadas.
Não tardaram em colocar mãos à obra: a partir de
1890, sua ação fez o país ingressar em um período conhecido na história como
Encilhamento, quando o governo emitia concessões para todo tipo de
empreitada, com as quais muitos enriqueceram. Nessa época, ter algum
conhecimento podia tirar rapidamente da miséria um indivíduo ousado e sem
princípios. Por exemplo, o protegido de algum ministro recebia de mão beijada a
concessão para exploração de uma mina de prata em Goiás, a qual ele nunca veria,
pois não tinha recursos nem para a viagem até lá. Só restava vender com
profundo pesar a concessão para uma grande empresa, e se consolar com as
centenas de contos ganhos sem fazer absolutamente nada...
A recém-inaugurada Av. Niemeyer, originalmente destinada a uma ferrovia
Uma das empresas concessionárias de então foi a
Companhia Viação Férrea Sapucaí, que pretendia construir uma ferrovia indo de
Botafogo até Angra dos Reis, em uma distância de 193 quilômetros. Ao contrário
da maioria das iniciativas do encilhamento, havia realmente a intenção de
materializar o projeto, e, a partir de 1891, começaram os trabalhos. Conforme
nos relata Charles Dunlop, já havia sido aberta a boa parte da estrada quando
surgiu um conflito com a Cia. de Melhoramentos da Lagoa, que considerava que a
linha férrea prejudicaria seus trabalhos. Como era esperado, a empresa não
dispunha de capital, e as despesas adicionais implicadas na mudança do trajeto
da linha tornaram impossível o prosseguimento da empreitada. Com isso, a obra
foi abandonada.
Anos depois, em 1913, uniram-se os vários trechos
abertos para a ferrovia na encosta do morro do Vidigal, uma iniciativa do
diretor do Ginásio Anglo-Brasileiro para melhorar o acesso à sua unidade
escolar, o que incluiu o prolongamento da estrada até o Leblon. Logo a seguir, o
comendador Niemeyer, proprietário de terras no local, estendeu a estrada até a
Praia da Gávea (São Conrado), e esta foi inaugurada em 1916. Logo a seguir, a
via seria alargada até a configuração atual, e o nome Niemeyer é uma lembrança
do comendador que legou à cidade esta que é uma de suas mais belas estradas,
onde se contempla um panorama inesquecível.
É difícil imaginarmos hoje, quando a avenida é
percorrida por um tráfego intenso de automóveis, ocasionado pela inexistência
de um sistema de transporte de massa ligando a Barra da Tijuca ao resto da
cidade, que esse antigo caminho, aberto entre céu, mar e montanhas destinava-se
a uma ferrovia litorânea, do Rio até Angra. A situação especulativa durante o
encilhamento, contudo, que mudou o destino da via, felizmente não impediu que
essa acabasse sendo incorporada à vida da cidade.
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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
BARÃO DO RIO BRANCO, UM ORGULHO BRASILEIRO !
Brasília – José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco, foi um dos maiores estadistas e diplomatas da história brasileira. Nascido na cidade do Rio de Janeiro, em 20 de abril de 1845, e filho do Visconde do Rio Branco, também personagem ímpar da diplomacia brasileira, responsável por elevar a representação oficial do Brasil nos Estados Unidos da América ao patamar de embaixada. De berço, o futuro Barão herdaria a bagagem pessoal que o conduziria ao brilhante futuro. O jovem José Maria estudou no Colégio Dom Pedro II, no Rio de Janeiro, e, posteriormente, ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo. Seus estudos foram concluídos na Faculdade de Recife, em 1866. Retornou ao Imperial Colégio Dom Pedro II, dessa vez como professor da cadeira de Corografia e História do Brasil. Ocupou o cargo de promotor público em Nova Friburgo (RJ), foi deputado pela Província de Mato Grosso (1869) e, ao lado de seu pai, representou o País em missão especial no Paraguai. Nos anos de 1870 e 1871, em nova missão especial – ao lado das Forças Armadas, que há algum tempo vinham defendendo as fronteiras do Brasil – participou das negociações de paz entre os aliados e o Paraguai, que encerrou o Conflito da Tríplice Aliança. Algum tempo após seu regresso ao Rio de Janeiro, onde se dedicou ao jornalismo, foi designado Cônsul-Geral do Brasil em Liverpool (Inglaterra) em 1876. Dentre as atividades exercidas, participou como delegado da Exposição Internacional de São Petersburgo. Fruto dos inestimáveis serviços prestados ao Império, recebeu o título de Barão do Rio Branco no ano de 1888. Após a Proclamação da República, foi nomeado Superintendente-Geral na Europa da Emigração para o Brasil, em substituição a Antônio Prado. Em 1893, depois de uma profícua estada na Europa, retornou ao Brasil, onde foi nomeado chefe da missão encarregada de defender os direitos do País na questão envolvendo o território das Missões. O parecer emitido pelo Barão do Rio Branco levou o presidente dos Estados Unidos da América – árbitro encarregado – a decidir a questão favoravelmente às pretensões brasileiras em 1895. Em 1898, o Barão do Rio Branco engajou-se em nova questão diplomática: a Questão do Amapá com a França. Dessa vez, a arbitragem coube à Confederação Suíça. A argumentação de nosso ilustre representante – constituída de sete volumes – levou o árbitro, Presidente Walter Hauser, a decidir a questão em favor do Brasil, o que elevou o nome do Diplomata José Maria da Silva Paranhos Júnior. Concluída a Questão, ele foi nomeado Ministro Plenipotenciário em Berlim (Alemanha), de onde saiu em 1902 para assumir, a convite do Presidente da República, a Pasta de Relações Exteriores. O Barão do Rio Branco deixou a pasta em 1912, por motivo de falecimento, em 10 de fevereiro. Muitas foram suas ações na área de Diplomacia e de Política e tais ações o tornaram um personagem ímpar na História do Brasil. Foi chanceler, embaixador, presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, Membro da Academia Brasileira de Letras, Ministro de Estado, autor de uma obra sobre a História Militar do Brasil e um dos principais responsáveis pela definição pacífica do atual contorno geográfico do País. Tamanha foi a comoção nacional causada por seu falecimento que, há 100 anos, a Nação adiou, para o mês de abril, um de seus maiores eventos, o Carnaval. Trecho publicado na Gazeta de Notícias, de 11 de fevereiro de 1912. "Morreu ontem o Barão do Rio Branco. Há dias a sua vida era a agonia prolongada pelos recursos da ciência. A cidade, os estados, o país inteiro, as nações vizinhas, a América, o mundo indagavam ansiosa da saúde do grande homem. E o grande homem caíra para não se levantar. Fora com um imenso soble, que resistindo anos e anos ao vendaval e a interpérie, dominando a vida, de repente estala e cai. Dizer do Barão do Rio Branco uma rápida impressão de dor, de luto, de lágrimas, quando o país inteiro soluça é bem difícil. E sua obra foi enorme e grandiosa. Ele teve duas vidas: a do jornalista de talento que se fez cônsul e a do cônsul que se transformou no maior dos brasileiros pelo seu desinteressado amor à Pátria, e no maior dos diplomatas contemporâneos pelo seu alto espírito, pela alta compreensão da função que exercia. Ele foi o dilatador do Brasil, alargando-o e aumentando-o em terras, graças ao seu engenho, sem um leve ataque à justiça e ao seu direito." Em respeito a este vulto sem par, o Exército Brasileiro se alia à Casa de Rio Branco, ao Ministério das Relações Exteriores e ao País com esta singela homenagem! |
CANHÕES SÃO ENCONTRADOS NA ZONA PORTUÁRIA
Arqueólogos acham canhões de pelo menos 400 anos na Zona Portuária
Equipe localiza dois exemplares que podem ser os mais antigos do país
Um dos canhões descobertos na Rua Sacadura Cabral, no Centro Foto de
leitor / O Globo
RIO - Uma equipe de arqueólogos do Museu Nacional descobriu na segunda-feira,
na Zona Portuária, dois canhões que podem ser os mais antigos do Brasil. Os
trabalhos, coordenados pela professora Tânia Andrade Lima, fazem parte do
monitoramento arqueológico realizado no decorrer do projeto Porto Maravilha, de
revitalização da Zona Portuária.
Os dois canhões, em princípio, são ingleses e do século 17. De acordo com
Tânia, há a possibilidade, porém, de serem do século 16:
— Isso os tornaria, talvez, os mais antigos do Brasil. Com certeza são os
mais antigos do Rio. Estávamos escavando os trapiches do século 19 que existem
ao longo da Rua Sacadura Cabral e, inesperadamente, surgiram essas peças. Os
equipamentos faziam parte de uma bateria de canhões que ficava ao longo da
praia, no pé do Morro da Conceição.
Os armamentos teriam servido para defender as terras cariocas de invasões.
Era, segundo a arqueóloga, parte de um sistema de defesa que funcionava ao longo
da costa. Agora, os profissionais do Museu Nacional vão começar as análises
técnicas para detalhar a história dos objetos.
A equipe é a mesma que, desde março de 2011, pesquisa o material arqueológico
encontrado no Cais do Valongo, ali perto, ao longo da Avenida Barão de Tefé. Os
pesquisadores já conseguiram retirar objetos que permitem remontar como era o
cotidiano dos escravos que chegavam da África, como mera mercadoria, na primeira
metade do século 19. Os materiais resgatados do solo mostram, sobretudo, como os
negros tentavam proteger seus corpos diante do tratamento imposto por
portugueses e ciganos especializados na compra e venda de escravos.
Depois das escavações, deve ser erguido no local um memorial da diáspora
africana.
Peças de dominó, moedas e cristais no Cais do Valongo
A arqueóloga Tânia Andrade Lima, que coordena a escavação no Cais do Valongo,
explica por que os objetos dos escravos são tão importantes.
— Os negros não puderam depor sobre seu sofrimento, desespero, angústia,
trajetória e jogo de cintura para sobreviver aqui. Mas aqui temos um discurso
silencioso. Largaram essas coisas para trás, no chão. Por meio desses materiais,
estão falando acerca deles mesmos para nós e seus descendentes. É a herança que
deixaram — conta a arqueóloga.
A Rua do Valongo, atual Camerino, era o endereço das lojas de venda de
escravos, descritas por viajantes como dantescas. Antes de serem postos à venda,
os africanos eram separados. Os que chegavam de viagem com graves problemas de
saúde iam, sem misericórdia, diretamente para o Cemitério dos Pretos Novos. Os
doentes tratáveis eram levados para o Lazaredo, local onde eram curados e
engordados para futura venda. Tudo funcionava como um grande complexo.
— A realeza se fez suficientemente lembrada e escreveu sobre si mesma. Já os
negros do Valongo foram cuidadosamente tapados por toneladas de terra,
precisamente em cima, para Teresa Cristina Maria de Bourbon chegar e se casar
com Dom Pedro II na década de 1840. O Cais da Imperatriz foi feito sobre o
Valongo porque aquela área era uma vergonha — explica Tânia.
Detalhes de como era a vida no porto há 200 anos
O jogo era proibido na primeira metade do século 19. Mesmo assim, escravos e
pessoas que frequentavam a região apostavam freneticamente. A Zona Portuária já
era conhecida por ser um local do "tudo pode". Os dados e peças de dominó
achados nas escavações representam a transgressão possível às leis daquela
época. Foram encontradas várias peças de dominó. A parte de baixo era feita com
osso de boi e ficava presa com uma espécie de prego à madeira gravada com os
números do jogo. Impressiona a qualidade e o padrão do material, produzido com
poucos recursos, mas que garantia um mínimo de distração e diversão a quem não
tinha direito à liberdade.
As moedas de cobre encontradas pela equipe do Museu Nacional eram de
baixíssimo valor na época. Várias estão perfuradas no meio porque os escravos as
usavam como talismãs. Para eles, o cobre era coberto de simbolismo, entendido
como um metal sagrado que protegia o corpo. Também foram achados cristais de
quartzo que, segundo a crença dos escravos, serviam para refletir o "mal".
— Eles tentavam se proteger desesperadamente de todas as formas. Achamos
muito material para a proteção do corpo, que era violado e brutalizado — diz
Tânia.
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
A Igreja de N.Sª da Saúde
A Igreja de N.Sª da Saúde |
Escrito por Paulo Pacini | |
Seg, 21 de Novembro de 2011 13:23
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Durante o século XVIII, a expansão do Rio de Janeiro iria acontecer em várias
frentes, rompendo assim os limites da antiga cidade. O crescimento foi
estimulado pelo ouro das Minas Gerais que, ao transitar rumo à metrópole,
deixava modesto mas valioso óbolo, o qual, como água no deserto, dava vida nova
à povoação. Uma das regiões incluídas ficava a oeste da Prainha (Praça Mauá), e era alcançada ao longo da costa por um caminho que é hoje a rua Sacadura Cabral. A enseada, chamada de Valongo, logo depois ganhou acesso adicional por uma passagem se esgueirando pelos pântanos entre os morros da Conceição e Livramento, onde é a atual rua Camerino. O Valongo seria conhecido posteriormente pelo comércio de escravos, após a transferência dessa atividade para o local, ordenada pelo Marquês do Lavradio, vice-rei de 1769 a 79, assim tendo continuado até 1831, quando o tráfico negreiro foi oficialmente extinto, apesar de continuar a pleno vapor.
Igreja de N.Sª da Saúde, construída em 1742
e que deu nome ao bairro
A região era ocupada por chácaras, algumas de grandes dimensões. Uma delas
pertencia a Manoel da Costa Negreiros, em cujos domínios estava incluído o morro
da Saúde. O pitoresco local, banhado pelo mar, inspirou ao proprietário a
construção de uma capela dedicada a N.Sª da Saúde, em agradecimento aos favores
concedidos pela santa. As obras, iniciadas em 1742, ficariam concluídas algum
tempo após, tornando-se o templo ponto de referência conhecido.A partir da criação do cais do porto, no início do século passado, com o aterro da orla e a descaracterização do bairro, a igreja entrou em processo de decadência, e, apesar de tombada pelo patrimônio histórico, foi abandonada e teve vários ítens roubados, como a pia batismal, painéis de azulejos portugueses, e até dois sinos. A situação só foi revertida a partir de 2001, quando iniciou o processo de restauração com a supervisão do IPHAN, concluído em 2007. O cuidadoso trabalho restituiu as melhores características, em que pese a ausência das peças anteriormente roubadas. O maior problema para o público, contudo, é conseguir entrar no templo, pois está sempre fechado e raramente se realizam missas. Seria importante que as autoridades competentes, eclesiásticas ou governamentais, resolvessem essa situação para que os interessados possam desfrutar essa bela peça de nossa história, resgatada da destruição mas ainda não integrando a vida cultural da cidade, posto que inacessível. O interior da igreja, belamente restaurado |
O Aljube
O Aljube |
Escrito por Paulo Pacini | |
Qua, 23 de Novembro de 2011 17:31
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Muitas instituições do estado moderno são
rotineiramente ignoradas, a menos, como é comum, que tornem-se alvo de
insatisfações, pelo serviço deficiente ou ausente. Infinitas subdivisões do
aparelho governamental, materializando-se muitas vezes em dores de cabeça para o
cidadão, são aceitas tacitamente como um dado de realidade, como se tivessem
sempre existido. Nada poderia estar mais distante da verdade
histórica. Durante o período colonial, muito pouco do que consideramos como aparato governamental existia, não só pelas limitações materiais vigentes, com o grosso da riqueza nacional exportada para a metrópole, como também pelo fato de que vários serviços prestados pelo estado moderno não eram considerados como de sua alçada, como a assistência à saúde e a educação, funções desempenhadas no Rio de Janeiro principalmente pela Santa Casa de Misericórdia e Colégio dos Jesuítas no Castelo, respectivamente. O foco das atividades do governo da Coroa voltava-se à administração e segurança da colônia, com o fito de garantir a exportação das riquezas, e a maior parte das obras deste período foi direcionada nesse sentido, como a construção de fortalezas. A existência física dos habitantes da colônia, contudo, também dependia de uma infraestrutura mínima, como o abastecimento de água, e também nisso se investia, muitas vezes com décadas de atraso, como aconteceu com o aqueduto da Carioca, que levou cinquenta anos para fornecer o líquido. O sistema judicial desde cedo foi implantado, existindo já no século XVII uma cadeia na várzea, no térreo do prédio da Câmara, no início da rua da Misericórdia (trecho da Primeiro de Março), onde fica hoje a Assembléia Legislativa. O prédio original ficava no Morro do Castelo, e os vereadores, assim como a maioria dos habitantes, desejava um local na planície, para evitar as ladeiras do morro. Da cadeia da rua da Misericórdia saiu Tiradentes para a fôrca, em 1792.
A cadeia do Aljube na
rua da Prainha (do Acre) em gravura de Thomas Ender
Mas não só autoridades civis enfrentavam problemas relativos ao comportamento
criminoso e transgressivo: não raro eram presos religiosos por desordem ou
alguma infração, e sua presença junto aos presos comuns tinha por vezes
consequências indesejáveis, com estes fomentando a revolta dos primeiros. Como
não se podia alterar o material humano disponível, preferiu o bispo D. frei
Antônio de Guadalupe partir para a construção de casa própria para seus presos,
evitando os inconvenientes do convívio com condenados e autoridades
seculares.Comprou então D. Antônio um terreno, por volta de 1733, e iniciou a construção da prisão eclesiástica, o Aljube. O terreno situava-se na rua da Prainha, esquina com Ladeira da Conceição. A rua da Prainha hoje em dia equivale a duas: a Leandro Martins, junto ao Morro da Conceição, e a do Acre, da Uruguaiana até a Praça Mauá (Prainha). Durante o século XVIII, a cadeia cumpriu sua finalidade sem problemas quanto à lotação. Apesar de imunda e insalubre, havia espaço suficiente. Eis que chega a Côrte, em 1808, e tudo vira à avessas. O Aljube recebe uma enxurrada de presos vindos da cadeia secular, situada ao lado do Paço dos Governadores, pois foi requisitada como moradia para os funcionários que serviam a D. João e família, alojados no palácio. As condições se deterioraram incrívelmente, lembrando as cadeias atuais. Onde cabiam 20 pessoas, havia em torno de 400, sem nenhum tipo de instalação sanitária, comida ou ventilação, um verdadeiro inferno. Só com a construção da Casa de Correção (a cadeia da Frei Caneca), em 1840, é que a situação tornou-se mínimamente aceitável. O Aljube foi abaixo em 1906, durante as reformas feitas na gestão de Pereira Passos na prefeitura. Apesar da construção não ter valor especial, testemunhava uma época de nossa história em que o senso de ética e dever de muitos religiosos era bastante frouxo, a ponto de muitos serem encarcerados. Em seu lugar ergue-se hoje um estacionamento de dois andares, monumento a espelhar os valores e atitudes de uma sociedade diferente e pretensamente moderna, mas nem por isso necessáriamante melhor que a de outrora. |
O Bairro da Misericórdia
O Bairro da Misericórdia |
Escrito por Paulo Pacini | |
Qua, 30 de Novembro de 2011 15:43
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Reconhecer o passado de uma cidade a partir de
sua aparência atual é uma tarefa às vezes difícil, com resultados variados. Por
vezes, trechos inteiros são preservados, como os centros históricos, e é comum,
nesse caso, que tornem-se ponto focal de mudanças que reinstituam o pedestre
como prioridade, criando áreas sem circulação de automóveis, e onde o transporte
coletivo atende com eficiência às necessidades do público morador e flutuante,
com o metrô ou bonde, hoje chamado de VLT. Assim ocorreu em várias cidades
européias, muitas incluídas no grupo de mais alto índice de qualidade de
vida.
Contudo, não é raro que partes ou bairros tenham ficado quase irreconhecíveis, como em uma cirurgia plástica desastrada, e que deles pouco ou nada subsista, quando muito alguns pontos de referência que permitem visualizar, pela imaginação, a antiga aparência. Um dos locais mais antigos do Rio de Janeiro, que quase completou quatro séculos de existência, inclui-se nessa categoria, e hoje, em que pese sua importância histórica, restam só vestígios a lembrar o velho bairro da Misericórdia. Inicialmente um trecho do litoral aos pés do Morro do Castelo, com sua cidade fundada por Estácio de Sá, foi o primeiro porto da comunidade, amplamente utilizado pelos padres da Companhia de Jesus, missionários pioneiros que construíram seu Colégio também no morro logo acima. A presença dos religiosos daria o primeiro nome ao local: Praia e Porto dos Padres da Companhia. Como o transporte dos diversos bens ladeira acima era extremamente penoso, os jesuítas construíram uma espécie de plano inclinado, da praia até o topo, que por sua vez daria nome à futura Travessa do Guindaste, posteriormente conhecida como Costa Velho. Misericórdia, quatro séculos de história terminando em completo abandono A Rua da Misericórdia teria sido aberta em torno de 1569, e, como área portuária, tinha intensa atividade comercial, constituindo-se a primeira etapa de expansão fora dos limites da cidadela no Morro do Castelo. Teve rápido crescimento, e, durante a Colônia, foi neste local — estreita faixa de terra entre a Igreja de São José e a Santa Casa e Igreja de N.Sª de Bonsucesso — que ficavam os mais importantes contratadores, os principais armazéns e o Conselho da Câmara e cadeia, onde é hoje a Assembléia Legislativa. Várias ruas, becos e travessas compunham o velho bairro, todas com alguma significação histórica. O Largo do Moura, por exemplo, que recebeu este nome por lá se aquartelar em 1767 um regimento vindo daquela cidade portuguesa, se tornou um dos locais onde a fôrca era montada. Esta, por sua vez, daria nome a um beco próximo, o da "Boa Morte", em uma amostra de sarcasmo colonial. Outro local, o Beco do Teatro, foi assim chamado por situar-se atrás do Teatro de S. Januário, um dos mais antigos e onde aconteceu o primeiro baile de carnaval, em 1846. O bairro, desaparecido no século passado, talvez tenha sido a área do Rio de Janeiro associada com a maior quantidade de eventos históricos, em seus quase quatro séculos. Hoje pouco resta, só alguns prédios antigos na Rua D. Manuel, além da Igreja de N.Sª de Bonsucesso e o antigo Arsenal de Guerra, hoje Museu Histórico Nacional, na outra extremidade. Entre estes dois pontos, nada. A Misericórdia começou a ser riscada do mapa com a destruição do Morro do Castelo e a Exposição de 1922, e foi vítima de um período no qual se sentia vergonha do passado que aquelas ruas representavam. Não eram testemunho dos séculos de luta e conquista a ser valorizado, e sim uma mácula a ser escondida e largada para morrer à mingua. As últimas casas desapareceriam em 1953, e hoje o espaço é progressivamente ocupado por obras faraônicas de concreto e vidro, que metamorfoseiam o desfigurado em irreconhecível. O antigo conjunto arquitetônico, caso preservado, poderia constituir-se em precioso acervo do rico, embora desfalcado, patrimônio histórico carioca. Seu destino deve servir como matéria de reflexão acerca das prioridades que norteiam as intervenções feitas pelo estado no tecido urbano, normalmente orientadas por interesses imediatistas e venais. A Misericórdia infelizmente já se foi, mas muito ainda resta do passado do Rio de Janeiro, e só a força da comunidade poderá impedir novos assaltos ao que pertence a todos, e que assim deveria permanecer. |
Compras na Ouvidor
Compras na Ouvidor |
Escrito por Paulo Pacini | |
Qua, 07 de Dezembro de 2011 11:05
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Dezembro: mais um ano se encerra, iniciando para
o comércio a alta temporada, quando multiplicam-se as compras na corrida
natalina, junto com os festejos a encerrar mais um período. A febre consumista,
exacerbada pelos meios de comunicação modernos, leva o público a lojas e centros
comerciais espalhados pelo Rio de Janeiro, com ítens para qualquer poder
aquisitivo. A variedade de mercadorias e sua distribuição torna impossível
destacar um local mais representativo desse setor, e também caracterizar o
cliente típico, tendo o consumo se generalizado no seio da sociedade. No
passado, contudo, tal era possível, pelo menos relativamente, pela existência de
um ponto focal transformado em referência do comércio carioca e até mesmo do
Brasil, que foi a antiga Rua do Ouvidor.
Um dos primeiros caminhos saindo da principal
artéria da área litorânea, a rua Direita (Primeiro de Março), rumo ao interior,
foi conhecida inicialmente como rua do Aleixo Manuel, começando a ser chamada do
Ouvidor em meados do século XVIII, quando lá passaram a residir os ouvidores
enviados pelo rei de Portugal. Uma rua como as outras, relegada à própria sorte
pelos governantes da época, despertaria do longo sono colonial com as grandes
mudanças experimentadas desde a chegada da côrte portuguesa, em 1808.
Ouvidor de outrora, paraíso consumista e rua mais elegante O fim do isolamento do país, tanto por tornar-se, da noite para o dia, metrópole do reino português, quanto pela pressão da Inglaterra, que exigia livre trânsito para seus negociantes, trouxe levas contínuas de estrangeiros que chegavam ao novo, estranho e tropical país, visando as amplas possibilidades de ganho proporcionadas pela presença do rei português e seu séquito. Como se esperava, comerciantes ingleses assumiram a dianteira, mas um novo grupo progressivamente dominaria a cena: os franceses, cuja presença cresceu vertiginosamente após a chegada da conhecida missão artística, em 1816. Com eles, vinha o luxo e a elegância, estranhos ao habitante local, através do comércio de tecidos, perfumes, jóias, livros, móveis e muito mais, além da prestação de vários serviços sofisticados, como cabeleireiros, modistas, gastronomia, etc.
Esse batalhão de profissionais, em sua maior
parte, não tardou em fazer fortuna, criando e educando uma nova geração de
consumidores em um território virgem e alheio à sofisticação européia. Foi o
início do que levaria a rua ser conhecida, na maior parte do século XIX, como a
"via dolorosa dos maridos pobres", expressão de Machado de Assis em seu conto
O Lapso (Histórias sem Data), pois poucos orçamentos resistiam às compras
feitas por uma esposa inconsciente ou irresponsável neste paraíso consumista do
passado.
Ali, em cada vitrine, espreitava o demônio da
tentação, seja em lojas como a Notre Dame de Paris, que desde 1848 foi um
dos principais centros da moda, e também a Casa Raunier, perfumarias como
a Desmarais, Wallerstein e Bernardo, fotógrafos como Georges
Leuzinger, Marc Ferrez e Insley Pacheco, e joalherias como a dos irmãos
Farani. Além disso, era frequentada por intelectuais, atraídos pelas
muitas livrarias com as últimas novidades de Paris, como a Garnier.
Vários jornais também lá tiveram endereço, como o Correio da Manhã e a
Gazeta de Notícias.
Modistas, cabeleireiros, joalheiros... lá se ia o orçamento do mês A importância da Ouvidor como centro de consumo e moda continuou nas primeiras décadas do século XX, mas paulatinamente se esvaziou, à medida em que a cidade crescia e o comércio sofisticado se estabelecia na zona sul. A descaracterização da rua acompanhou a vulgarização do centro da cidade, transformando-o em local exclusivo de trabalho, com população não residente. Na década de 1980, o incentivo ao comércio de rua ilegal causaria sua mais profunda decadência, fato que permanece até os dias de hoje, em maior ou menor grau. A rua do Ouvidor, como as outras, também sofreu as consequências, com a anarquia diária dos camelôs em frente às portas de suas lojas, levando muitos comerciantes a procurar refúgio no interior dos shoppings, único modo garantido, hoje em dia, de se resguardar do caos e proteger o negócio.
É impossível e até mesmo absurdo pensar que a
Ouvidor do passado poderá voltar algum dia, pois a sociedade e as condições são
totalmente diferentes, e é como se estivéssemos noutro planeta. Mas é plenamente
legítimo e justificável que a comunidade aspire viver em ruas limpas e
ordenadas, sem os flagelos que atingem diáriamente todos os pedestres,
especialmente no centro da cidade. Para isso, é necessário que os responsáveis
pela ordem pública façam muito mais que os esporádicos choques propagandísticos
de ordem, quase sempre de muito baixa voltagem.
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O Senado e sua Rua
O Senado e sua Rua |
Escrito por Paulo Pacini | |
Qua, 14 de Dezembro de 2011 12:04
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Excluindo-se a área central do antigo Rio de Janeiro, situada entre o mar e
os quatro morros mais próximos — Castelo, Santo Antônio, São Bento e Conceição
— e tendo como limite, pelo menos por um bom tempo, a Vala, canal de escoamento
situado onde é a rua Uruguaiana, pouco se explorou do território que conhecemos
atualmente. Pântanos, alagados e outros terrenos igualmente difíceis restringiam
a ocupação, que só deslanchou a partir de meados do século XVIII, com
continuadas obras de drenagem. Nesse mesmo século, em locais mais afastados, ainda se encontravam grandes propriedades, chácaras enormes, cuja área valeria uma fortuna hoje em dia. Uma das maiores, senão a maior, pertenceu ao guarda-mor das minas Dr. Pedro Dias Paes Leme, sendo formada pela compra de dois terrenos, um indo da encosta do Morro de Santo Antônio até a rua do Lavradio, e outro desta até a lagoa da Sentinela, já extinta e situada no encontro das atuais ruas Frei Caneca, Santana e Mem de Sá, conforme relata o historiador Vieira Fazenda. Incluído na área estava um morro, chamado inicialmente de Pedro Dias, nome do dono das terras, e depois morro do Senado. O cume desta elevação situava-se onde é hoje a praça Cruz Vermelha, com mais de 50 metros de altura. Bonde de burros perto da cocheira Recreio, na Rua do Senado do século XIX O Senado da Câmara, é oportuno salientar, era na verdade um órgão local, equivalente à Câmara de Vereadores. O título de Senado foi concedido pelo rei de Portugal por especial deferência, mas não se relaciona com o Senado do Império, cuja sede ficava no Campo de Santana, onde é hoje a Faculdade de Direito da UFRJ, antiga casa do Conde dos Arcos. A insistência do Senado pela abertura deu nome à rua, assim como ao morro limítrofe, conforme foi dito. A nova progressivamente adquiriu extensão, e na época de D. João VI já ia um pouco além da rua dos Inválidos. A drenagem final da lagoa da Sentinela, em meados do século XIX, possibilitou o nascimento de outro trecho, indo do local da lagoa em direção à parte já existente, que saía da rua do Espírito Santo. Os dois segmentos, contudo, ainda estavam separados pelo Morro do Senado, que só começou a ser desmontado em 1880. Só então pôde ser concluída a Rua do Senado em sua totalidade, como nos é conhecida. Era uma rua como as de antigamente, onde não havia zoneamento que impedisse comércio ou moradia, fazendo parte de uma região populosa e de intensa atividade. Ficou conhecida por abrigar cocheiras e empresas de aluguel de veículos de tração animal, como as famosas carruagens da empresa S. Mendes & C, ainda bastante procuradas até a primeira década do século XX. O local tem hoje lojas várias, muitas delas dedicando-se à venda de antiguidades, além de utensílios, ferramentas, alimentação, prestação de serviços e outros. Sobre essa área pitoresca, contudo, paira a ameaça da especulação imobiliária, exemplificada pela construção de um prédio monstruoso na esquina das ruas dos Inválidos e Senado, em terreno que foi e deveria continuar a ser do metrô, para construção da linha 2. A obra ameaçou até mesmo fisicamente os imóveis, provocando rachaduras e prejuízos, sendo interditada pela justiça durante o ano de 2010. Uma construção desse tipo, que jamais poderia ter sido autorizada nesse endereço, além disso, ignorou as condições do terreno, que, como mostra a história, era formado por trechos alagados posteriormente aterrados. Esperemos que fatos como esse não se repitam, e que locais históricos e pitorescos como essa rua possam continuar sua existência pelos tempos afora, sem as ameaças dos abutres do lucro fácil. |
UMA PEDRA NO CAMINHO . . .
Uma Pedra no Caminho |
Escrito por Paulo Pacini | |
Qua, 21 de Dezembro de 2011 09:53 | |
É fato relativamente conhecido que Copacabana só
começou a se desenvolver no final do século XIX, quando começou o loteamento e
serviços básicos foram implantados, dentre eles a linha de bondes da Companhia
Ferro-Carril do Jardim Botânico, que chegou em 1892, após a abertura do Túnel
Velho.
Os novos moradores pouco souberam da história
anterior do novo bairro, desde quando era um rincão abandonado, habitado por
alguns pescadores, de modo geral inviável pela distância e obstáculos
geográficos que o separavam do que é hoje a zona sul e o resto da cidade.
Durante o século XVIII o local foi literalmente colocado no mapa, pois, após as
invasões francesas de 1710 e 1711, a coroa portuguesa procurou fortalecer as
defesas e, temendo ser vítima de outro ataque, construiu postos militares em
pontos remotos, com alta probabilidade de desembarque inimigo.
Copacabana no século XIX, com o Inhangá separando a praia em duas metades
Nessa época, o grande areal era ocupado por
algumas fazendas, as quais se dedicavam ao cultivo de abacaxis, que segiam em
lombo de mula até Botafogo, de onde eram transportados por canoas até a praia
pelo rio Berquó, hoje subterrâneo, e daí embarcados até o centro do Rio. Os
militares instalaram vários postos, como o da Vigia do Leme, onde fica o atual
forte, e uma antiga fortificação, cujos arcos permanecem no alto da Ladeira do
Leme. Além das obras de maior porte, foram colocadas baterias em alguns pontos
da praia, e dentre essas uma no Inhangá.
A formação rochosa do Inhangá era a principal
referência desse litoral, pois ficava quase em seu ponto médio, separando a
costa em dois trechos: à sua esquerda, de quem olha para o mar, a praia da Vigia
do Leme, e à direita a praia de Copacabana. A divisão Copacabana/Leme não tinha
como referência a Av. Princesa Isabel, obra feita quase dois séculos após, e sim
esse acidente geográfico.
A Pedra do Inhangá na praia, século XIX. Ao fundo, a Igrejinha de Copacabana
O Inhangá, ponto pitoresco e conhecido, iria
desaparecer por partes, até a quase invisibilidade atual. O trecho junto ao mar
seria demolido a partir de 1905, quando foi iniciada a abertura da Av.
Atlântica, que inicialmente só tinha seis metros de largura. A pedra estava no
caminho da nova via projetada, e com sua remoção a faixa litorânea realizou seu
primeiro avanço em direção ao mar. Nos anos 20, foi demolido mais um pedaço do
morro, para unir os dois segmentos da Av. N.Sª de Copacabana, que este separava.
Após a construção do Hotel Copacabana Palace, mais uma parte cederia lugar à
piscina do hotel, em 1935. O resto foi embora nos anos 50, com a construção de
prédios, e o que resta hoje, escondido atrás das fachadas, pode ser visto em uma
visita ao Colégio Estadual Pedro Álvares Cabral, na rua República do Peru. A
consciência de sua localização facilita a compreensão das transformações
ocorridas e documentadas em fotografias há mais de cem anos.
Copacabana pertence essencialmente ao século XX,
e sua urbanização atendeu às necessidades da época. A implantação precoce de
serviços essenciais garantiu o sucesso da empreitada imobiliária, fazendo com
que o bairro litorâneo incorporasse toda uma nova região. Hoje em dia, contudo,
tornou-se necessário pensar em sua evolução e em projetos que melhorem a
qualidade de vida dos habitantes. Obras favoráveis ao pedestre, reduzindo as
ameaças à segurança e bem estar representadas pelo trânsito pesado e seus
veículos estariam em linha com iniciativas similares empreendidas em países
desenvolvidos.
Em 1965, o urbanista Doxiadis apresentou um plano
para a renovação do Rio de Janeiro, encomendado pelo governo Carlos Lacerda.
Incluída estava sua visão para Copacabana, onde era proposta uma separação entre
pedestres e automóveis, transferindo as lojas e serviços instalados ao nível da
rua para o primeiro andar dos prédios, e construindo um piso unindo o novo
nível, o qual só seria acessível aos pedestres. Como era de se esperar, o
projeto não seguiu adiante, haja visto seu grande impacto . Mas o que sobressai
é que, há 50 anos atrás, um especialista de grande calibre colocou como
prioridade a separação de pessoas e o caos e perigo do trânsito, um dos
principais fatores de degradação da vida cotidiana. Tal intenção pode ser
materializar de várias formas, através, por exemplo, da prioridade ao transporte
coletivo e restrições à circulação de veículos, ou outro modo
alternativo.
Proposta de Doxiadis para Copacabana em 1965: separação entre veículos e pedestres
A reumanização dos espaços públicos, colocando
como objetivo central o pedestre, é a tendência das melhores e mais avançadas
propostas urbanísticas do século XXI. Após mais de cem anos de deformação do
espaço físico das cidades para servir ao automóvel, abre-se uma nova era em que
ser humano e meio-ambiente são colocados em primeiro plano, de onde nunca
deveriam ter saído, aliás, e uma adaptação ao novo paradigma faz parte do
processo.
A pedra atual a ser removida hoje, contudo, é a
falta de vontade política, que usualmente posterga à eternidade quaisquer
iniciativas que não revertam em ganho político. A conscientização e a cobrança
por parte das comunidades é o único antídoto conhecido para esse mal
crônico.
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O Terraço do Passeio
O Terraço do Passeio
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Escrito por Paulo Pacini | |
Qua, 28 de Dezembro de 2011 10:18 | |
O Passeio Público, além de lugar aprazível, tem a honra de ter sido a
primeira área de lazer do Rio de Janeiro, construído em uma época que poucos
governantes se preocupavam com a qualidade de vida dos habitantes, mas antes
possuir a colônia e garantir o saque de suas riquezas.
Felizmente, para os cariocas, o vice-rei Luís de Vasconcellos foi exceção a
tal atitude, encarregando seu amigo e artista Mestre Valentim da construção do
belo jardim, inaugurado em 1783. Com magnífica vegetação e obras de arte,
tornou-se local predileto para o espairecimento da população, que lá ia até
mesmo à noite, caso estivesse na lua cheia. A obra mais conhecida do acervo
artístico do parque sempre foi o chafariz, conhecido como Fonte dos Amores, que,
apesar de perder vários elementos ao longo do tempo, como as cegonhas e o
coqueiro, ainda está presente. Do lado oposto, fica o menino que derrama água no
barril, com a frase "Sou útil ainda brincando". O original, de mármore, foi
roubado no século XIX, e o que lá está — por enquanto — é uma cópia de
chumbo.
Terraço do
Passeio no tempo do Império, ainda à beira-mar
A estátua do menino ficava em uma parte do Passeio ignorada hoje, que foi o
seu terraço. Formado por uma grande área, tinha balaustrada e ficava à
beira-mar, com ondas quebrando junto ao paredão. Para complementar, Luís de
Vasconcellos criou dois pavilhões no terraço, um em cada extremidade. Tinham
forma quadrangular, decorados por artistas mestres em sua arte, um por Francisco
dos Santos Xavier, o Xavier das Conchas, e o outro por Francisco Xavier Cardoso,
o Xavier dos Pássaros. Usando conchas e penas de pássaros, cada um dos pavilhões
foi ornamentado utilizando-as como elemento básico, com grande sucesso na época.
Em seu interior, haviam vários murais de Leandro Joaquim. Infelizmente, o
abandono que se seguiu, junto com ressacas violentas, deteriorou os pavilhões,
que foram demolidos em 1817.
A vinda da côrte portuguesa e a Independência do Brasil não mudaram a
situação do pobre Passeio, cada vez mais depredado e decadente, e só durante a
Regência, em 1835, é que foram colocadas grades de ferro e feitas mais algumas
obras de manutenção, mas foram surtos esporádicos em meio ao abandono
prolongado. Seu destino só mudaria com D.Pedro II, em cujo governo, em 1854, foi
concluída a construção de dois pavilhões octogonais no terraço, em substituição
aos antigos, e em 1862 a reforma geral sob comando do paisagista francês
Glaziou.
O mar
afastado e o terraço em 1910, tendo em frente a nova avenida
A partir de então, o terraço do Passeio se tornaria um dos pontos preferidos
do parque. Em 1870, foi instalado no local um bar volante, onde tocava todas as
noites uma banda alemã e era servida cerveja da Guarda Velha, uma das fábricas
mais antigas, a 400 réis a garrafa. O cliente podia saborear a bebida enquanto
apreciava a bela paisagem da baía da Guanabara. A abertura da Av. Beira-Mar, em
1906, afastou definitivamente o mar, e também causou a demolição da balaustrada
do terraço, decretando seu fim enquanto área de lazer, pois do som de ondas
quebrando passou-se ao barulho de automóveis e outros veículos, perdendo dessa
forma o principal atrativo.
Restam algumas imagens recordando essa época mais tranquila, e não deixa de
surpreender que o terraço do Passeio, cuja rua em frente tem um dos piores
tráfegos de toda cidade, pudesse um dia ter sido local tão tranquilo, e, quem
diria, à beira-mar.
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MUSEU REAL
Museu Real
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Escrito por Paulo Pacini | |
Qua, 25 de Janeiro de 2012 10:59
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A exuberância da natureza brasileira sempre
causou profundo efeito em quem entra em contato com suas cenas grandiosas, mesmo
que para muitos que moram em cidades isso só aconteça em viagens. O verde, as
árvores, o céu azul, exercem efeito revigorante na alma, possibilitando uma
pausa saudável ao cinza e à vida confusa dos centros urbanos com seus
engarrafamentos, poluição e violência.
Se isso acontece hoje, quando a quase totalidade
da mata atlântica já desapareceu, e os predadores avançam firmemente na
destruição completa da Amazônia, muitas vezes com apoio governamental, imaginem
o que foi há trezentos anos, com quase tudo intocado e com limites que pareciam
englobar a terra toda. À fascinação do primeiro momento, com a qual se
negociava, seguia-se uma coexistência, na qual o cenário integrava-se
inconscientemente, vindo para primeiro plano inevitáveis questões práticas e de
interesse utilitário.
O encanto da paisagem natural, contudo, nunca
deixou de comover o vice-rei Luís de Vasconcellos, que, estando em posição de
poder, sentiu-se compelido a algo fazer a respeito. A racionalização de sua
admiração materializou-se em projeto bastante palpável de história natural:
criar um local que abrigasse coleções de animais típicos da terra, para
incentivar o estudo da ornitologia. Acreditava que o conhecimento da natureza
local favorecesse uma melhor exploração dos recursos da colônia, pelo menos foi
essa a justificativa para a despesa. Para tal foi construído um prédio no Campo
da Lampadosa, área pouco ocupada perto da futura Praça Tiradentes, ainda com
vários alagados. O prédio, logo chamado de Casa dos Pássaros, ficava em frente à
atual Av. Passos, onde está hoje um terreno baldio transformado em
estacionamento.
Museu Nacional, ex-Real, no Campo de Santana (gravura de Bertichem -1856)
Os encarregados tinham como missão aumentar a
coleção com a caça de novos espécimes, sendo que muitos foram fácilmente obtidos
abatendo-se aves que ficavam na lagoa da Pavuna, onde é o Largo de São
Francisco. Com o tempo, reuniu-se acervo razoável, com centenas de exemplares. A
Casa dos Pássaros, contudo, como tantos outros imóveis, foi desalojada com a
chegada da côrte portuguesa em 1808. Suas coleções foram guardadas e o prédio
utilizado como oficina de lapidação.
Sómente em 1818 as peças veriam a luz de novo,
pois, de acordo com a iniciativa do ministro Tomás Antônio de Vila Nova
Portugal, foram adquiridos os imóveis de João Rodrigues de Pereira de Almeida,
no Campo de Santana, para a instalação do Museu Real. A nova casa dedicada à
história natural passou a incluir coleções de minerais, além da parte zoológica.
Com a Independência, a instituição foi prestigiada, pois José Bonifácio, ele
mesmo mineralogista, lhe dedicou especial atenção. Foi estimulada a colaboração
de estrangeiros como Langsdorff e Saint-Hilaire que, em suas viagens
exploratórias, enviaram novos exemplares. Um fato curioso deu-se em 1822, quando
o manto imperial de D.Pedro I foi feito com as penas dos tucanos do museu, que
teve sua coleção assim desfalcada.
O prédio também abrigou duas instituições
significativas histórica e culturalmente, a Sociedade Auxiliadora da Indústria
Nacional, fundada em 1828, e o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, de
1838. Com D.Pedro II, ampliaram-se as áreas de estudo, sendo incluídos os
campos de anatomia comparada, agricultura, artes mecânicas, numismática, dentre
outros. Para o sempre crescente acervo a falta de espaço era uma constante, e,
com o fim do Império, decidiu-se transferir o museu para a Quinta da Boa Vista
em 1892, onde permanece até hoje.
Em 1907 mudou-se para o prédio o Arquivo
Nacional, lá ficando até 1985, quando foi para a antiga Casa da Moeda, do outro
lado da praça, reformada há poucos anos e uma das mais belas construções do
local. O antigo museu está em restauração sob supervisão do Iphan, uma
iniciativa elogiável que resgata mais uma peça valiosa daquele que é um dos mais
belos conjuntos arquitetônicos históricos do Rio de Janeiro, situado no entorno
do Campo de Santana.
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BECO DOS CACHORROS
Beco dos Cachorros
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Escrito por Paulo Pacini | |
Qua, 01 de Fevereiro de 2012 10:38 | |
Um dos pontos altos do patrimônio histórico
carioca, seja por sua importância ou beleza, é sem dúvida o Mosteiro de São
Bento, no centro da cidade. Há mais de quatro séculos no alto de um pequeno
morro, continua dominando a paisagem local, ainda que esta seja prejudicada
pelos muitos prédios vizinhos de alto gabarito.
Os monges aqui chegaram em 1589, sendo abrigados
na ermida de N.Sª do Ó, onde fica o convento do Carmo, mas pouco depois mudaram
para casa própria ao receber como doação a sesmaria de Manuel de Brito, que
datava de 1573. No meio desta se encontrava um morro onde foi erguido o
mosteiro e a igreja. Para se ter uma idéia das dimensões das terras, pode-se
considerar um polígono cujos lados seriam toscamente a região do atual Primeiro
Distrito Naval (antigo Cais dos Mineiros) e todo Arsenal da Marinha,
estendendo-se até o Morro da Conceição à Prainha (Praça Mauá). Tudo incluído
nesses limites passou a pertencer ao Mosteiro, fato oficialmente reconhecido
pela Prefeitura do Distrito Federal em levantamento feito em 1906.
O Beco dos
Cachorros com a Candelária ao fundo, antes das reformas de
Passos
Apesar da grande extensão, nos séculos XVI e XVII
as terras ainda eram de difícil aproveitamento, e, com a chuvas, seu alagamento
transformava o morro em verdadeira ilha. No local onde seria a futura Rua dos
Pescadores (Visconde de Inhaúma) havia um rio que drenava parte das águas, mas
que, com chuva e maré alta, facilitava mais ainda as enchentes. Com paciência e
aplicação, contudo, os beneditinos paulatinamente conquistaram o terreno, sendo
o rio desviado para próximo de onde é a rua D. Gerardo, tornando o terreno mais
propício à implantação de uma grande horta, que forneceria os gêneros
alimentícios necessários.
Junto a um trecho desse grande terreno havia um
caminho que, saindo da rua dos Pescadores, dava acesso à Prainha, passando junto
ao Morro da Conceição, e recebendo, por esse motivo, o nome de Caminho da
Prainha. Com o crescimento e a conquista dos alagados, no século XVIII um trecho
dessa via recebeu nome menos anônimo, o de rua de Gaspar Gonçalves, morador
local. Décadas após, nova mudança, e a rua virou o Beco dos Cachorros. Embora
pareça pouco elegante, a alcunha popular tinha sua razão de ser: em um dos lados
da rua ficava a horta dos beneditinos que, além da cerca, era protegida por
vários cães contra os possíveis e prováveis ladrões de hortaliças.
Ainda nessa época o Mosteiro decidiu alugar uma
parte do terreno para a prática de uma das diversões mais populares do
setecentismo —fora a briga de galos — que era o Jogo da Bola. Na verdade, nada
tinha a ver com o futebol, que não tinha não havia sido inventado, e sim com a
Bocha. Havia outros terrenos para jogo de bola, mas esse era um dos mais
populares. Seria necessário o destino favorecer a cidade com a vinda da côrte
portuguesa anos depois para que as limitadas diversões da era colonial pudessem
ceder lugar a práticas mais interessantes e variadas.
A construção da Igreja de Santa Rita a partir de
1721 e sua elevação a matriz em 1751 transformou-a em ponto focal da área, o que
fez com que o beco mudasse mais uma vez em 1852, para Travessa de Santa Rita, o
que, bem ou mal, tinha uma relação com o local. Mas como o nome das ruas é mais
uma das moedas das quais os políticos freqüentemente fazem uso, tal não
perdurou, mudando a seguir para Alcântara Machado, alguém que, por mais ilustre
que possa ter sido, não tem patavina a ver com a rua e sua história. Mais um
desrespeito amputando um vínculo com fatos e personagens do passado que, com
seus esforços, sucessos e fracassos construíram essa grande cidade.
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DO DESTERRO A CIDADE NOVA ! . . . RIO MARAVILHA !
|
Escrito por Paulo Pacini
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Qua, 08 de Fevereiro de 2012 11:18
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Até o século XVIII, aquela parte da cidade que
chamamos Mangue fazia jus ao nome, pois o mar entrava terra a dentro por onde é
a Av. Francisco Bicalho, dobrava à esquerda e só terminava nas proximidades do
Campo de Santana. Nessa grande área desaguavam ainda vários rios, como o
Maracanã, Joana, Trapicheiro, Comprido e Catumbi, além das águas estagnadas
próximas ao Morro do Senado, onde fica a atual Praça da Cruz Vermelha. A mistura
da água salgada do mar com a dos rios criou condições favoráveis ao
desenvolvimento de um ecossistema de manguezais, com toda sua flora e fauna
típicas.
O cheiro, contudo, não era dos mais agradáveis, e
com o objetivo de algum dia conquistar a área, foram empreendidas algumas
iniciativas, como as do vice-rei Conde da Cunha, mas a escala da tarefa
ultrapassava os modestos limites coloniais, ficando este vasto manguezal quase
no mesmo estado. Sómente após a chegada da côrte portuguesa, em 1808, é que se
começou a pensar seriamente no gigantesco projeto de aterro.
A tranquila
Vila Guarani cem anos atrás. A rua no meio da foto é provavelmente a atual
Figueira de Melo
Um primeiro incentivo ocorreu após a mudança da
Família Real para a Quinta da Boa Vista, que, pelo seu afastamento dos órgãos
administrativos localizados no Centro, obrigava o monarca a deslocamentos
rotineiros. Para evitar a tediosa viagem pelo caminho seco, mas longo, via rua
do Conde (Frei Caneca), Catumbi e Estácio, fez-se um aterro que permitisse à
carruagem real passar pelo mangue de São Diogo, atingindo São Cristóvão após
cruzar uma ponte. O local continuava malcheiroso e pestilento, por causa dos
mosquitos, e à D. João só restava tapar suas nobilíssimas narinas durante os
poucos minutos do trajeto.
Para estimular a ocupação e empurrar o problema
para os cidadãos, foi baixada em 1824 uma portaria que isentava de tributação os
prédios construídos no local, desde que os proprietários providenciassem os
respectivos aterros. Posteriormente, o governo realizou algumas obras que
progressivamente conquistaram mais trechos. Mas a urbanização como hoje
conhecemos com seu canal central só pôde ser concluída em 1860, com os trabalhos
empreendidos pelo Barão de Mauá.
O canal do Mangue seria prolongado até o cais do
porto a partir de 1903, sendo realizados aterros que retificaram o litoral. De
um lado, desapareceria a Praia Formosa, que ficava onde é a rua Pedro Alves,
enquanto que do outro estava a Vila Guarani , trecho do atual bairro de São
Cristóvão próximo ao canal e à Av. Francisco Bicalho. Um bairro modesto, servido
desde 1883 pelos bondes a burro da Empresa Ferro-Carril de Vila Guarani, logo
adquirida pela Cia de Carris de Vila Isabel.
Essa região esteve por muito tempo ligada ao
transporte ferroviário, passando a receber os trens da E.F. Rio d'Ouro desde
1919, na estação de Francisco Sá, e a seguir com a construção em 1926 da
majestosa gare central da E.F. Leopoldina, a estação Barão de Mauá. Havia uma
vasta rede de trilhos, que conduzia aos armazéns do Cais do Porto, para o
transporte de diversas mercadorias.
Foi recentemente anunciado que a prefeitura
pretende desenvolver nessa área um projeto de urbanização e construção de
prédios apelidado com mais um nome carnavalesco de "Porto Maravilha", no qual
estão incluídos trechos em ambos lados da Av. Francsico Bicalho, do lado de São
Cristóvão e perto da rua Pedro Alves. Nessa última, o espaço será conseguido
através de mais uma destruição do patrimônio ferroviário, um conjunto de pátio
de manobras e armazéns que data do início do século passado. Do outro lado,
pretende-se construir mais um "centro de convenções", culminado por uma torre
bestial de 45 andares, próxima à estação da Leopoldina.
Por melhores que sejam as intenções, e, pelo
retrospecto, elas geralmente não são muito boas, com interesses velados
comandando as iniciativas, é forçoso analisarmos algumas das implicações mais
sérias dessa ação.
Terminal
Marítimo da Gamboa, onde foi construída a "Cidade do Samba"
(Memória
Histórica de Estrada de Ferro Central do Brasil -
1908)
Em primeiro lugar, o patrimônio ferroviário é um
bem precioso, construído com sacrifício desde o século XIX, e é uma
infraestrutura dedicada à produção básica, transportando cargas que seriam
impossíveis e anti-econômicas para o transporte rodoviário. Essa malha de
transporte estava articulada com o Cais do Porto, outra obra voltada para o
setor produtivo real. Por razões de conjuntura econômica, o porto do Rio perdeu
grande parte de seu movimento, mas continua disponível, podendo voltar a
tornar-se um dos mais importantes. Se os acessos ferroviários não existirem
mais, assim como os armazéns, que se transformariam no gênero "cultural", a
capacidade do porto ficaria sériamente comprometida, e por essa razão deveria se
pensar com cuidado no que se propõe. Nos últimos anos o estado vem avançando no
patrimônio ferroviário com avidez, como na construção do "Engenhão", que
liquidou as oficinas da Central do Engenho de Dentro, e na "Cidade do Samba",
que ocupou a área do Terminal Marítimo da Gamboa.
Essas obras com certeza enriqueceram vários
arquitetos e empreiteiras, além, é claro, de muitos no poder executivo e
legislativo. Mas com isso não foram eliminadas possibilidades futuras de
desenvolvimento? Em vários países no mundo todo, as ferrovias se expandem a
pleno vapor, tanto no transporte de passageiros como no de cargas, incluindo
milhares de quilômetros de vias de alta velocidade. Aqui, se destrói o que
conseguiu sobreviver ao século XX em favor do samba e do futebol...
Outro ítem questionável é a torre de 45 andares
perto da Leopoldina. Mais uma monstruosidade a agredir não sómente os moradores
locais e estimular a especulação imobiliária, mas uma violência à paisagem, que
irá macular para sempre o panorama visto por quem chega ao Rio de Janeiro e
passa pela Av. Francisco Bicalho para se dirigir ao Centro, Zona Sul ou Tijuca.
Esse monumento à insensatez irá quebrar a linha das montanhas e a visão do
Cristo Redentor, sendo do ponto de vista turístico um verdadeiro suicídio. Mas a
lógica de sua construção é provávelmente outra, ou melhor, a de sempre, de
enriquecer alguns mesmo que com prejuízo de muitos.
Seria importante que a comunidade se informasse e
adotasse uma postura em relação a essas propostas, que, na forma que se
encontram, poderão causar mais danos que benefícios a todos, depois que a
cortina de fumaça da Copa do Mundo e da Olimpíada se dissipar.
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DESDE 1872 . . . DERRUBADAS PELA PREFEITURA DE PAES ! . . . VERGONHA !
Enviado por Ancelmo Gois -
10.2.2012
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12h59m
As fotos de hoje
As figueiras do Flamengo
A COLUNA TEM um xodó especial pelas figueiras do Flamengo,
plantadas, acredite, em 1872, por iniciativa de Auguste Marie François Glaziou,
diretor de Parques e Jardins da Casa Imperial. Por isto, entende a posição do
leitor Maurício José Marzano do Nascimento, que teme pela sorte desta árvore no
Largo do Machado (foto maior), cujos ramos desabaram sobre dois carros, terça,
por volta de meio-dia. Mas a Comlurb garante que, embora o corte tenha sido
feito até uma altura onde se eliminasse o risco de novos acidentes, as brotações
podem se desenvolver e voltar a criar uma copa. Já esta outra figueira (foto
menor), na Rua Senador Vergueiro, perto do antigo Hotel dos Estrangeiros, não
teve a mesma sorte. Tombou para sempre há dez dias. A finada foi testemunha do
assassinato do senador Pinheiro Machado, ali em frente, no dia 8 de setembro de
1915. Mas aí é outra história
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