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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

BECO DOS CACHORROS


Beco dos Cachorros
Escrito por Paulo Pacini   
Qua, 01 de Fevereiro de 2012 10:38

Um dos pontos altos do patrimônio histórico carioca, seja por sua importância ou beleza, é sem dúvida o Mosteiro de São Bento, no centro da cidade. Há mais de quatro séculos no alto de um pequeno morro, continua dominando a paisagem local, ainda que esta seja prejudicada pelos muitos prédios vizinhos de alto gabarito.
 

Os monges aqui chegaram em 1589, sendo abrigados na ermida de N.Sª do Ó, onde fica o convento do Carmo, mas pouco depois mudaram para casa própria ao receber como doação a sesmaria de Manuel de Brito, que datava de 1573.  No meio desta se encontrava um morro onde foi erguido o mosteiro e a igreja. Para se ter uma idéia das dimensões das terras, pode-se considerar um polígono cujos lados seriam toscamente a região do atual Primeiro Distrito Naval (antigo Cais dos Mineiros) e todo Arsenal da Marinha, estendendo-se até o Morro da Conceição à Prainha (Praça Mauá). Tudo incluído nesses limites passou a pertencer ao Mosteiro, fato oficialmente reconhecido pela Prefeitura do Distrito Federal em levantamento feito em 1906.
 

beco_cachorros

O Beco dos Cachorros com a Candelária ao fundo, antes das reformas de Passos
 

Apesar da grande extensão, nos séculos XVI e XVII as terras ainda eram de difícil aproveitamento, e, com a chuvas, seu alagamento transformava o morro em verdadeira ilha. No local onde seria a futura Rua dos Pescadores (Visconde de Inhaúma) havia um rio que drenava parte das águas, mas que, com chuva e maré alta, facilitava mais ainda as enchentes. Com paciência e aplicação, contudo, os beneditinos paulatinamente conquistaram o terreno, sendo o rio desviado para próximo de onde é a rua D. Gerardo, tornando o terreno mais propício à implantação de uma grande horta, que forneceria os gêneros alimentícios necessários.
 

Junto a um trecho desse grande terreno havia um caminho que, saindo da rua dos Pescadores, dava acesso à Prainha, passando junto ao Morro da Conceição, e recebendo, por esse motivo, o nome de Caminho da Prainha. Com o crescimento e a conquista dos alagados, no século XVIII um trecho dessa via recebeu nome menos anônimo, o de rua de Gaspar Gonçalves, morador local. Décadas após, nova mudança, e a rua  virou o Beco dos Cachorros. Embora pareça pouco elegante, a alcunha popular tinha sua razão de ser: em um dos lados da rua ficava a horta dos beneditinos que, além da cerca, era protegida por vários cães contra os possíveis e prováveis ladrões de hortaliças.
 

Ainda nessa época o Mosteiro decidiu alugar uma parte do terreno para a prática de uma das diversões mais populares do setecentismo —fora a briga de galos — que era o Jogo da Bola. Na verdade, nada tinha a ver com o futebol, que não tinha não havia sido inventado, e sim com a Bocha. Havia outros terrenos para jogo de bola, mas esse era um dos mais populares. Seria necessário o destino favorecer a cidade com a vinda da côrte portuguesa anos depois para que as limitadas diversões da era colonial pudessem ceder lugar a práticas mais interessantes e variadas.
 
A construção da Igreja de Santa Rita a partir de 1721 e sua elevação a matriz em 1751 transformou-a em ponto focal da área, o que fez com que o beco mudasse mais uma vez em 1852, para Travessa de Santa Rita, o que, bem ou mal, tinha uma relação com o local. Mas como o nome das ruas é mais uma das moedas das quais os políticos freqüentemente fazem uso, tal não perdurou, mudando a seguir para Alcântara Machado, alguém que, por mais ilustre que possa ter sido, não tem patavina a ver com a rua e sua história. Mais um desrespeito amputando um vínculo com fatos e personagens do passado que, com seus esforços, sucessos e fracassos construíram essa grande cidade.

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