Botequins se modernizam de olho nos turistas e nos fiscais
Em média, notificações atingem 10 estabelecimentos
POR Francisco Edson Alves
O DIA
O garçom Canetinha (Wenderson Machado, 40), é famoso pelas dezenas de canetas no avental. | Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia
Perto dali, no bairro de Fátima, o Rio Barcia tirou os azulejos velhos,
colocou mesas com tampo de mármore, mas manteve os clientes fiéis. Francisco
Souza, 51, largou a vida de garçom há 20 anos e junto com os colegas, José
Pereira, 52, e Valdir Pereira, 55, comprou o Barcia.
“Hoje, servimos mais de 80 pratos de comidas de boteco diferentes, melhoramos
a decoração e banheiros”, ressalta o popular Souza, que também diversificou o
cardápio.
As obras que melhoraram, mas reduziram o ambiente, inspiraram o nome do
ex-Antônio e ex-Rex, em Ipanema. Agora ele é o Bunda de Fora. “Como não cabe
todo mundo, boa parte dos frequentadores fica na calçada”, explica, orgulhos, o
cliente Paulo Rocha, 64 anos, que rebatizou o bar.
Para ‘biriteiros’
famosos, boteco é estado de espírito
Famosos ‘levantadores de copos’, como o músico e compositor Moacyr Luz,
aprovam as reformas. “Tudo evolui. O ambiente pé sujo quem faz são os
frequentadores. Se o cartunista Jaguar e meia dúzia de biriteiros entrarem em
qualquer bar arrumadinho, vira pé-sujo”, garante. Até o teólogo Leonardo Boff
dedicou uma de suas crônicas ao botequim.
“O boteco é um estado de espírito, o lugar do encontro com os amigos e os
vizinhos, da conversa fiada, da discussão sobre o último jogo de futebol, dos
comentários da novela, da crítica aos políticos e dos palavrões bem merecidos
contra os corruptos. Ninguém é rico ou pobre. É gente que usa a gíria popular.
Há muito humor, piadas”, definiu Boff.
Livro ensina mandamentos
de quem faz calo no balcão
Os tradicionais ovos coloridos, carne assada, caldos, costela no bafo,
músicas bregas, imagens de santos, discos de vinil, pôsteres de times nas
paredes de azulejos de cores chamativas ajudam a manter a nostalgia e a
clientela nos botecos pés-sujos.
Em seu livro intitulado ‘Jaguar de Bar em Bar – Confesso Que Bebi, Memórias
de um Amnésico Alcoólico’, o cartunista Jaguar, que sabe de cor e salteado os
endereços de centenas de botequins do Rio, ensina alguns mandamentos dos
frequentadores de carteirinha:
“Cachaça da boa não dá amnésia; meia-trava é uma parada no bar para tomar
umas e jogar conversa fora, o que não é obrigatória; além de ser bom de copo, é
preciso encarar petiscos ‘de responsa’, como coxa de frango, ensopados, fígado
de galinha, moela, carne assada e sanduíche de fritada; e ‘botequeiro’ que é
‘botequeiro’ bebe em pé, com o cotovelo criando calo no balcão”,
ensina.
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