A rua Pinheiro Machado, em Laranjeiras, é uma das
mais movimentadas da cidade, famosa pelos engarrafamentos que vão desde de manhã
cedo até altas horas da noite, consequência do acesso ao Túnel Santa Bárbara,
inaugurado em 1964. O caos e a poluição transformaram-na em algo irreconhecível
aos cariocas de antigamente, que jamais imaginariam tal destino para aquele que
era um dos locais mais aprazíveis e tranqüilos da zona sul.
Até meados do século XIX, grandes chácaras
dominavam a paisagem, e uma delas pertencia a Domingos Francisco Rozo. Após seu
falecimento, a propriedade foi dividida e os herdeiros abriram, em 1853, uma rua
em suas terras, que recebeu o nome de Guanabara, em homenagem à conhecida baía.
Tiveram o apoio de outro proprietário, José Machado Coelho, abastado comerciante
de café da rua São Pedro, no centro.
Palácio
Guanabara: residência da Princesa Isabel de 1865 até o fim do
Império,
em 1889
José Machado construiu um palacete em seu terreno
em frente à nova rua, que se tornou o principal marco local, por suas dimensões
e opulência. Anos depois, em 1865, o Conde d'Eu, marido da Princesa Isabel, o
compra, entregando a reforma aos cuidados do arquiteto Jacinto Rabelo, discípulo
de Grandjean de Montigny. Nascia o Palácio Isabel.
Após a proclamação da República, a propriedade,
assim como vários outros imóveis da família imperial, foram incorporados aos
bens da nação. No afã republicano de apagar os vestígios do Império, o prédio
passou a ser chamado de Palácio Guanabara. Como residência luxuosa que era, foi
destinado ao papel de hospedagem para visitantes ilustres, geralmente chefes de
estado. O primeiro hóspede chegaria em 1908, o rei de Portugal D. Carlos I, e
para acomodá-lo fez-se uma reforma no palácio. Mas ele não veio, pois foi
assassinado em fevereiro desse ano. Novas reformas foram feitas em 1922 para
receber mais um monarca, o rei Alberto da Bélgica, que teve uma estadia bastante
movimentada, tendo até mesmo escalado o Corcovado. Outras autoridades se
hospedaram no Palácio Guanabara, incluindo o presidente americano Herbert Hoover
e o de Portugal, José Antônio de Almeida.
O último presidente da República Velha,
Washington Luís, passou a utilizar o Guanabara como residência oficial em 1926,
dele saindo deposto pelo golpe de estado de 1930, que iniciou o período
autoritário que culminaria com o Estado Novo e a ditadura Vargas. Os
Integralistas, movimento de inspiração fascista, tentaram invadir o Palácio em
1938, em um golpe articulado com oposicionistas de São Paulo, mas fracassaram, e
muitos foram fuzilados.
A tradição do Guanabara como residência
presidencial terminaria com o presidente Dutra, que se transferiu para o Palácio
do Catete, e, com a mudança da capital a Brasília, em 1960, o palácio tornou-se
sede do governo do Estado da Guanabara até a fusão deste com o Estado do Rio em
1974, continuando até hoje.
Apesar de quase tudo ter mudado à sua volta, o
Guanabara continua sendo uma bela construção, além de um dos mais importantes
cenários da história do Império e da República brasileira, onde tantos episódios
marcantes ocorreram ao longo de seus mais de cento e cinquenta anos de
existência.
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