O discreto charme de outras joias arquitetônicas
Pouco conhecidos, prédios nos estilos art nouveau, art déco e moderno ajudam a embelezar a cidade
Art déco. O Tabor Loreto, no Flamengo, com a grade vazada para os salões
Ana Branco / O Globo
RIO - Eles não criaram a paisagem carioca. E, nem sempre, são os autores dos
grandes ícones da arquitetura da cidade, como o Teatro Municipal ou o Edifício
Gustavo Capanema. Mas marcaram sua assinatura em belas construções, que hoje
fazem do Rio um mosaico interessante de diferentes estilos e épocas. Com um
pouco de calma e o olhar atento, o pedestre descobre verdadeiras obras de arte a
céu aberto em meio à selva de pedra. E ainda faz uma viagem ao passado.
Em frente ao número 734 da Rua do Russel, na Glória, é necessário algum tempo
de observação para apreciar todos os detalhes do casarão em estilo art nouveau.
Comparado a Gaudí, o italiano Antonio Virzi é o arquiteto da construção de três
andares, chamada de Casa Villino Silveira, hoje propriedade do empresário Eike
Batista. A formas de Virzi são imprevisíveis, e cada pequena ornamentação
surpreende o olhar, como os laçarotes em ferro presos às colunas.
Virzi chegou ao Rio em 1910, foi professor da Escola Nacional de Belas Artes
e construiu diversas propriedades para uma burguesia carioca mais extravagante.
A Casa Villino Silveira data de 1915 e foi erguida para Gervásio Renault da
Silveira, fabricante do Elixir de Nogueira.
— Se tivesse feito o mesmo na Itália, teria sido um arquiteto de renome
internacional — afirma o arquiteto Alberto Taveira, do Instituto Estadual do
Patrimônio Cultural (Inepac).
Professor de história e teoria da arquitetura na Universidade Rural, Claudio
Antônio Lima Carlos diz que o art nouveau valoriza elementos naturais e o estilo
livre, como os que são vistos no endereço:
— Nada do Virzi é previsível, ortogonal ou simétrico.
No mesmo trecho da Russel, o Edifício Milton é outra joia arquitetônica,
classificada como eclética, com algumas formas em art déco. No passado um dos
endereços mais elegantes da cidade, com seu portal de mármore verde, o prédio
foi projetado por Adolpho Dourado Lopes, em 1929.
— Ele era dono, em sociedade, da construtora Gusmão, Dourado &
Baldassini, uma das maiores do Rio na época. Eles faziam prédios imensos — diz
Taveira.
O telhado é inspirado no renascimento francês, e as venezianas verdes que
ainda restam chamam a atenção. O nome do imóvel veio do seu construtor e
primeiro proprietário, Milton Carvalho, sócio do magazine A Exposição.
Andando mais um pouco, a Praia do Flamengo reserva algumas pérolas. O Tabor
Loreto, no número 244, tem a assinatura do arquiteto francês Henri-Paul Pierre
Sajous, também autor do Biarritz, a poucos metros de distância e ícone do art
déco. No mesmo estilo, o Tabor Loreto (de 1940) é mais grandioso e
vanguardista.
— A grade em ferro batido que chanfra a quina do prédio é extremamente
moderna para a época — analisa o presidente do Instituto Art Déco Brasil, Márcio
Roiter.
Sajous foi autor de outras construções importantes, como os prédios da Mesbla
e da Associação Comercial.
Entre os projetos escondidos na paisagem e que merecem destaque para o
arquiteto e historiador Nireu Cavalcanti está o do Liceu de Artes e Ofícios, na
Rua Frederico Silva, Cidade Nova. De 1957, o conjunto tem o formato de E e três
blocos interligados por passadiços. O desenho é de Enéas Trigueiro Silva. Antes,
o arquiteto projetara escolas durante a administração de Anísio Teixeira na
Diretoria de Instrução Pública do Distrito Federal (1931-1935).
— Eu o considero pós-moderno. Destaco o uso de elementos do modernismo, como
o cobogó, as rampas, os pilotis e o teto plano — diz Nireu.
O passado do Centro do Rio espremido entre espigões de
vidro
A Avenida Rio Branco, no Centro, reserva um corredor curioso de prédios que
começa na esquina da Rua do Ouvidor e segue pela Miguel Couto. Com edifícios
envidraçados e de cor escura em volta, o grupo de construções antigas e
coloridas se destaca na paisagem. A mais chamativa é a da Ouvidor 116, na
esquina com a Miguel Couto, com seu estilo eclético e influências egípcias,
vistas em duas esculturas no segundo pavimento e em pinturas nas paredes. O nome
do arquiteto foi esquecido no tempo. Ao lado, há dois exemplares art déco: um
construído pela empresa J.A. Costa & Cia. em 1932, de cor ocre, seguido por
outro de 1931, cinza, do arquiteto e construtor Joaquim da Silva Cardoso.
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