As Caras do Rio: Na Lapa, antiguidade é posto
POR Cristine Gerk
O DIA
Rio - "Vovó morreu? Chama a Rosário!” Não, ela não trabalha em
funerária nem em cemitérios. Rosário de Fátima Nazareth, 57, peregrina por casas
e porões do Rio "garimpando", como define sua busca por antiguidades de
valor.
É chamada nas mortes porque muitos querem se desfazer de
lembranças. Todos os objetos que encontra e avalia de olho como "coisa boa" leva
para vender nas feiras do Lavradio, da qual participa desde a fundação, há 16
anos, da Praça 15 e na sua loja na Tijuca.
Melhor amigo: o tempo.
Pior inimigo: a internet. “O povo vê gente oferecendo velharia a preços
absurdos e acha que vale isso mesmo”, critica.
Essa carioca com
olho de lince tem coleção pra lá de inusitada. Desde objetos comuns, como taças
e porcelanas, até boneca alemã de 1910 bem maltratadinha que quer vender a R$
500. Garante que tem comprador.
Foto: João Laet / Agência O Dia
“Uma vez comprei por R$ 8 um
castiçal de prata de um homem vendendo no chão da rua. Vendi por R$ 800 a um
colecionador, que revendeu por R$2.500 em antiquário na Zona Sul”,
conta.
Para Rosário, o campo está bom porque as pessoas hoje se
desprendem mais: “A gente vai e as coisas ficam. Pra que dar trabalho para os
filhos? Deixa com a Rosário”, opina.
Ela começou na profissão, que hoje
também é artigo raro, depois que seu marido empresário, rico, faliu.
“A
vida toda fui madame. Quando ficamos pobres, precisei me virar”, lembra ela, há
18 anos no ramo. Graças à sua experiência, sabe avaliar bem o valor dos objetos
que encontra.
Foto: João Laet / Agência O Dia
“Sei se a peça é boa pela
dificuldade de ver outra igual. É a raridade. Muitos tentam vender gato por
lebre. Às vezes o clima fica tenso, levamos muita tranqueira para ter algo bom”,
comenta ela, ressaltando que cada produto vendido tem uma história cheia de
sentimento. “Às vezes as pessoas se arrependem e até pedem de volta”.
A
única antiguidade com preço tabelado são as moedas. As mais novas, de cruzeiro e
cruzado, valem pouco: R$ 1. As mais antigas chegam a R$ 100.
Segundo
Rosário, a maior procura é por relógios de parede, rádios antigos, binóculos e
óculos de apoio no nariz. Tem coisas que ela pega para si, ‘não aguenta’. Adora
biscuit, cristais e pratos.
Pelas suas mãos, já passaram relíquias, como
pastas e bengala que pertenciam a Antônio Basílio, que deu nome à rua na Tijuca.
Seu filho, professor de História, confisca as moedas mais antigas para
colecionar.
Ela já decorou novelas e filmes, como o do Chico
Xavier. Mas seu xodó mesmo é fazer a feira do Lavradio. No início, Rosário
expunha no chão, na lama. Agora, tem quatro bancas em frente ao hotel Casablanca.
“Isso aqui é minha cachaça,
não vivo sem, super astral. Adoro me fantasiar de dama de época, queria que todo
mundo da feira se vestisse assim”, sugere.
1 - Quando tem feira
do Rio Antigo (Na Lavradio)?
Todo primeiro sábado do mês, mas agora
em dezembro haverá edição também no dia 15, por causa do Natal.
2
- São quantos expositores?
Mais de 400. A feira vai da Av. Mem de Sá
à Visconde de Rio Branco, das 10h às 19h, e é realizada pela Associação Polo
Novo Rio Antigo.
3 - Há outras atrações além da venda de
produtos?
À tarde, há apresentação de grupos musicais na entrada da
Praça Emilinha Borba, além dos artistas que cirulam pela rua.
4 -
Quantos visitantes por edição?
Até 2006 circulavam por lá cerca de 8
mil pessoas. Hoje, são entre 17 e 20 mil a cada edição, muitos deles turistas
internacionais.
5 - Há quanto tempo existe?
São 16
anos. Está consolidada como um espaço democrático, reunindo alguns dos melhores
antiquários, sebos e artesanatos da cidade.
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