Durante muito tempo, a expansão da cidade do Rio
de Janeiro seguiu duas principais direções: a norte-noroeste, acompanhando os
trens de subúrbio, e ao sul ao longo do litoral. O exemplo mais importante da
última tendência é sem dúvida o bairro de Copacabana, quase inteiramente
despovoado até o final do século XIX, quando empreendimentos imobiliários e a
chegada do bonde, além de outros serviços essenciais, deslancharam seu
crescimento.
Era necessário organizar a ocupação, e assim os
incorporadores, representados principalmente pela Empresa de Construções Civis,
definiram, já em 1894, um layout para o novo bairro, posteriormente
acrescido de extensões e novas ruas, mas essencialmente o mesmo até hoje. Dentre
os logradouros criados e nomeados, figuram duas praças importantes e conhecidas:
a Praça Malvino Reis, atual Serzedelo Corrêa, em frente à estação de bondes e na
parte mais movimentada, e a Praça 26 de janeiro, conhecida há muito como do
Lido. Mas qual a origem de seu nome?
Praça do Lido nos
anos 40. Ao fundo, à esquerda, vê-se o restaurante em
uma
casa de estilo normando, construído em 1928. Deu o nome
ao local e foi
demolido no começo dos anos
60.
A modernização da cidade, iniciada no começo do
século passado, teve em Copacabana sua expressão mais viva, sendo o bairro
mostrado como antítese ao centro da cidade, velho e decadente. Esse estado de
espírito, predominante na época, fazia com que houvesse uma necessidade premente
de mostrar ao mundo que éramos também desenvolvidos, em um esforço de
auto-afirmação e negação do próprio passado. Esse sentimento foi também
acentuado por dois eventos importantes, as exposições de 1908 e 1922. A
primeira, marcando o centenário da abertura dos portos às nações amigas,
realizada na Praia Vermelha, apresentou o novo Rio ao mundo, com sua Avenida
Central, um boulevard parisiense em pleno trópico. A exposição de 1922,
centenário da Independência, foi realizada com a destruição do Morro do Castelo,
símbolo odioso aos olhos da burguesia de então, que gostaria de anular a própria
história. Contentaram-se, contudo — além de ganhar muito dinheiro — com o fim da
mais importante peça do patrimônio histórico, a cidade original do Rio de
Janeiro, perdida para sempre.
No intuito de promover a nova imagem e oferecer
aos visitantes de 1922 um local em Copacabana para seu lazer, o prefeito Carlos
Sampaio construiu na Praça 26 de janeiro o restaurante Lido, além de um posto do
Serviço de Salvamento, para prestar socorro às vítimas de afogamento. O
restaurante foi substituído em 1928 por uma construção de estilo normando,
transformando-se em um dos principais pontos de interesse e lazer do novo
bairro, sobrevivendo até 1960. Muitos músicos famosos se apresentaram no local,
que também realizava diversos bailes de carnaval. A Praça então já se chamava
Irmãos Bernardelli, em homenagem a Rodolfo e Henrique Bernardelli, dois dos mais
importantes artistas plásticos do período entre o final do século XIX e início
do seguinte e moradores do local.
A Praça dos Irmãos Bernardelli, conhecida por
todos como do Lido, continua sendo um dos pontos mais conhecidos, oferecendo um
oásis de lazer em um bairro que a especulação imobiliária restringiu tal tipo de
área quase que únicamente à areia da praia. Mesmo tendo tudo mudado à sua volta,
o Lido pode se orgulhar de uma origem que remonta ao tempo em que Copacabana não
era mais que um areal recém descoberto pela cidade.
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