História emparedada no convento de Santo Antônio
Durante restauração, arquitetos encontram os mais antigos confessionários do país
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RIO - Além de devolverem à cidade um importante bem tombado, as obras de
restauração do conjunto do Convento de Santo Antônio, no Largo da Carioca, estão
revelando preciosidades arquitetônicas. Durante a prospecção da nave da igreja,
arquitetos que trabalham na terceira fase das intervenções encontraram atrás da
parede três antigos confessionários que datam da época da conclusão da
construção (1628) e haviam sido cobertos por concreto numa das muitas reformas
feitas no templo. Segundo os responsáveis pelo projeto, trata-se dos
confessionários mais antigos do Brasil, já que, até então, só havia registro de
peças semelhantes no Convento de Santa Teresa D’Ávila, em Salvador. As
descobertas vão além: as equipes também acharam dois coruchéus (remate de uma
coluna em forma de pirâmide) e o óculo (abertura para a entrada de luz) original
da fachada, que permitirão a reconstituição do formato do antigo frontão do
período colonial. Um painel com uma simulação de como ficará a nova (antiga)
fachada foi colocado na frente da igreja.— Havia quatro confessionários na
igreja que foram feitos na própria alvenaria, integrados ao muro. Isso nos
permite dizer que são do século XVII. Até então, os mais antigos eram os do
Convento de Santa Teresa D’Ávila, do século XVIII — conta o arquiteto Olínio
Coelho, responsável pelo projeto de restauração arquitetônica. — Uma peça foi
destruída com a abertura de uma parede para o convento. Encontramos os três
restantes.
Um dos confessionários foi achado quando a equipe retirou o púlpito para
restauração. Dentro do óculo, outro achado: partes de uma das esferas que
ficavam sobre os coruchéus tinham sido usadas como enchimento. Com base no que
restou da peça, explicam os especialistas, será possível calcular o raio da
esfera e fazer uma réplica.
— Na entrada, encontramos ainda dois dos arcos que compunham a fachada
original e um grande arco no lado esquerdo que era da galilé, espécie de varanda
que fazia transição entre as áreas externa e interna da igreja. Com essas
descobertas, poderemos devolver a fachada que a igreja tinha quando sua obra foi
concluída, em 1628 — diz Felipe Borel, um dos arquitetos do projeto de
restauração.
Segundo os responsáveis pela restauração, a maioria das reformas do prédio
ocorreu no começo do século XIX. E muitas descaracterizaram a construção. O
telhado do convento, por exemplo, foi elevado em cerca de um metro para receber
as novas telhas, para garantir maior caimento.
Nas obras do convento também houve descobertas importantes na restauração das
cinco capelas do período barroco, já em fase de conclusão. A retirada de várias
camadas de tinta revelou tons de dourado, efeitos marmorizados e pinturas raras.
Misturadas a imagens de madeira, foram encontradas peças de terracota, do início
do século XVII, como as que retratam o nascimento e a morte de São
Francisco.
— Somente na restauração das capelas levamos um ano. E ainda vamos finalizar
uma delas. No altar-mor, a equipe de restauradores está neste momento devolvendo
o brilho aos entalhes de madeira com folhas de ouro e aos portais, de lioz. Os
trabalhos de restauração da igreja devem durar ainda dois anos — explica
Felipe.
Dividida em quatro fases, as obras foram iniciadas em 2007. Esta terceira
fase será concluída em 2014 e prevê a restauração da nave, do claustro, das
celas e das capelas. Esta etapa está sendo feita pelo Centro de Projetos
Culturais (Cepac), em parceria com o Iphan. Na quarta fase, serão restaurados o
cemitério, os jardins e as lojas. As obras incluem a troca dos dois elevadores
antigos e a instalação de mais dois elevadores panorâmicos. Até agora, já foram
gastos R$ 19 milhões. Ao todo, a restauração custará R$ 45 milhões. O projeto é
patrocinado por Vale, BNDES, Petrobras, Grupo Multiplan, Icatu Holding e
ABC/Africa Publicidade.
Tombada pelo Iphan desde 1938, a construção completou 404 anos do lançamento
de sua pedra fundamental (feito em 1608) no dia 4 deste mês. O historiador e
arquiteto Nireu Cavalcanti lembra que o convento abrigou um importante centro
educacional no século XVIII. E que a chegada dos franciscanos revitalizou aquele
pedaço da cidade:
— Quando aceitaram se instalar naquele morro, os franciscanos fizeram uma
exigência: que fossem feitas melhorias no entorno e aberta uma rua (hoje São
José) do morro até a orla.
Mesmo em obras, a igreja continua aberta: as missas foram transferidas para
uma sala no convento e, partir do dia 13, haverá visitas guiadas (é preciso
marcar pelo telefone 2210-5356).
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