Edgard Catoira
Rio de Janeiro
05.06.2012 16:26
Implosão da História do Brasil
Marcelo Roberto Ferreira, presidente da Associação Comercial
e Empresarial da Cidade Nova (ACECN), região portuária do Rio de Janeiro, tem
seu escritório ao lado da prefeitura. Defensor do patrimônio histórico da
cidade, Ferreira cria caso onde encontra degradação de imóveis ou sítios
históricos. E a Cidade Nova, agora centro de atenção da revitalização do porto,
é rica em bens culturais das épocas do Brasil Colônia e Império. Com o início
das obras, que realmente deixarão o bairro renovado e lindo, Ferreira circula,
querendo evitar que se destrua qualquer vestígio importante de épocas
passadas.
Foi assim que, no dia 30 de maio passado, ele soube que em escavações ao lado
da prefeitura, foi encontrada uma casa inteira, construída entre final do século
XIX e inicio do XX. Imediatamente ele conseguiu falar com o prefeito Eduardo
Paes, que não tinha ainda tomado conhecimento da descoberta. Mas era tarde
demais. No dia seguinte, porém, quando foi ver a casa, ela já tinha sido
demolida. Ferreira ainda fotografou o que restava, lamentando ver imensas pedras
de granito arrebentadas.
Quando ele me contou esse fato, procurei a vereadora Sônia Rabello (PV), que
também tem inspecionado as obras do porto com a mesma visão de preservar o
passado da História, que não é só do Rio, mas do Brasil.
Nesse mesmo dia, a vereadora, no plenário da Câmara Municipal, tentou evitar
que fosse aprovado o projeto enviado pelo prefeito que autoriza o Banco Central
a aumentar o gabarito do prédio que pretende levantar no local. Ela, inclusive,
denunciou que o Banco Central sabe, mas não avisou, que no terreno existe
importante acervo arqueológico, parte do antigo cais do Valongo, onde eram
desembarcados os escravos, e o cais da Imperatriz, construído para receber
Tereza Cristina, em 1843, que mais tarde seria imperatriz do Brasil.
Poucos vereadores apoiaram a solicitação de Sônia Rabello e resolveram, mesmo
sem pesquisa mais apurada, aprovar o projeto do BC.
O que ninguém sabia era que, naquele exato momento, o Ministério Público
Federal abria inquérito para investigar se essas obras têm licença dos órgãos
ambientais e arqueológicos. É claro que as licenças não existem: o próprio IPHAN
ainda não tem conclusões sobre as pesquisas desses sítios arqueológicos.
O poder econômico, porém, mais uma vez prevaleceu. E as implosões para as
obras começaram no sábado, dia 2 de junho.
Isto quer dizer que mesmo que o Ministério Público consiga tentar proteger o
patrimônio, tudo já estará demolido. E Sônia Rabello diz que as “implosões
levarão consigo o patrimônio arqueológico do Brasil”, lembrando que o Rio tem
sua história revelada no porto, mostrando “como e por que a cidade se tornou
capital de referência do país.”.
Assim, o presidente da ACECN pode continuar na sua luta inglória – todo o
patrimônio histórico está sendo tratado como o casarão que ele tentou preservar.
Implodidos.
Ficam no ar, as perguntas da vereadora:
Será que esta história vai ser revelada, como em Roma, ou será enterrada ou
implodida para sempre? Quem são os responsáveis?
Volto a me lembrar de minha avó Manoelinha, quando dizia – “o negócio é se
queixar para o bispo.” Sendo que, no caso do Rio, nem o bispo pode preservar
nosso patrimônio.
Em tempo: também há uma semana, na Praça Antero de Quental, no Leblon, foram
encontrados utensílios, moedas e um muro do século XVIII. Recolhidas as peças
portáteis, o terreno foi liberado para a construção de um prédio. Não se sabe se
o muro, parte da História do Rio, era tão desimportante assim.
Paro por aqui, porque descasos como estes estão acontecendo em todo o
município há tempos.
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