Há mais de quatrocentos anos, em 1589, chegavam
ao Rio dois frades para se unir às fileiras de religiosos que aqui estavam em
missão evangelizadora. Frei Pedro Ferraz e frei João Porcalho, contudo, eram os
primeiros beneditinos na cidade, vindo somar a representação de sua ordem àquela
dos jesuítas, presentes desde o início da colonização.
Sem muitas opções de hospedagem, pois a cidade
havia sido criada há poucos anos, o governador Salvador Correia de Sá os
encaminhou à ermida de N.Sª do Ó, que possuía um hospício anexo. A primitiva
habitação situava-se onde é a atual igreja e convento do Carmo, com o mar
quebrando a poucos metros, no meio da Av. Primeiro de Março. Os religiosos
aceitaram de bom grado a oferta, mas ficariam por pouco tempo, pois receberam em
doação uma grande área desmembrada da sesmaria pertencente a Manuel de Brito e
seu filho, Diogo de Brito Lacerda. O terreno se estendia do atual Primeiro
Distrito Naval até o Morro da Conceição, incluindo a Praça Mauá, e nele se
encontrava um morro, chamado de Manuel de Brito, escolhido para a construção do
mosteiro e igreja.
Igreja de
N.Sª de Monserrate, no Mosteiro de São Bento:
patrimônio
secular preservado
No local já havia uma ermida, contudo, dedicada a
N.Sª da Conceição, erigida por Aleixo Manuel e sua esposa, que foi doada aos
beneditinos com a condição que estes realizassem os festejos da padroeira. Assim
foi feito, e os dois frades se mudaram para o morro, que ficou conhecido como de
São Bento. Outros companheiros se uniram aos pioneiros, logo a seguir. Alguns
anos depois, contudo, em 1602, mudou-se a padroeira dos beneditinos de N.Sª da
Conceição para de N.Sª de Monserrate, em gesto político, segundo Vieira Fazenda,
para agradar o governador Francisco de Sousa, que era devoto da santa e que
muito havia favorecido a ordem. N.Sª da Conceição iria para o morro em frente,
que até hoje leva seu nome.
A antiga capela, porém, não atendia às
necessidades da ordem, a qual havia crescido em importância, com seu patrimônio
avolumado pelas doações de fiéis. Assim, decidiu-se por uma nova igreja, cuja
obra iniciou em 1633. As pedras vieram do morro da Viúva, e foi concluída em
1642. O prédio é exatamente o mesmo de hoje, mas sua decoração interna, uma das
mais ricas e artísticamente valiosas do Brasil, levaria bem mais de um século
para se completar.
A igreja e mosteiro de São Bento foram parte
integrante de todos episódios importantes da história carioca, especialmente
durante o período colonial. Sofreu até mesmo ataques físicos, como o bombardeio
feito pelo corsário francês Duguay-Trouin em 1711, que se apoderou da Ilha das
Cobras e voltou seus canhões contra a bateria instalada no Morro de São Bento. O
mosteiro, como toda cidade, acabou caindo nas mãos do invasor, e teve de pagar
sua parte do resgate.
Figuras públicas de vulto freqüentaram os bancos
de seu colégio, assim como grande número de profissionais, e a excelência de seu
ensino, de fama secular, continua formando parte substancial da elite
intelectual brasileira.
A paz
atemporal do claustro beneditino
A existência contínua por mais de quatro séculos
do mosteiro de São Bento é uma dádiva cultural não só para a cidade do Rio de
Janeiro, mas também para todo país, pois se trata de um monumento histórico e
artístico de primeira ordem. Sua sobrevivência tornou-se possível pelo fato de
que a Ordem teve força suficiente para se defender quer das investidas de vários
governos, quer de especuladores, que trocariam sem pestanejar esse tesouro por
dinheiro fácil e rápido. Em defesa do mosteiro certamente também se levantaram
seus ex-alunos, muitos em posição de poder, para que este fosse
conservado.
Muitas outras igrejas e ítens do patrimônio não
tiveram essa sorte, e desapareceram para sempre, vítimas dos interesses velados
ou ignorância dos governantes, ou nas mãos de aproveitadores. O mosteiro de São
Bento mostra como poderia ter sido preservado e valorizado muito do que foi
destruído, mantendo o legado da história da formação da cidade. A comparação
entre o que foi mantido e o que se foi deve estar sempre presente nas mentes e
corações daqueles que visitam São Bento, visita aliás obrigatória e imperdível,
não só para turistas, mas para todo morador dessa cidade.
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