Após a derrota e expulsão do invasor francês da Guanabara, os governantes portugueses, com a cidade instalada no alto do Morro do Castelo, então chamado de Descanso, começaram a distribuir terras entre os pioneiros de primeira hora, pois sua ocupação era um objetivo prioritário.
Longe da área central formaram-se alguns engenhos e fazendas, tanto ao sul quanto ao norte. O maior quinhão foi abocanhado pela Companhia de Jesus, cuja sede ficava no Colégio do Morro do Castelo. Sua fazenda começava no Engenho Velho e prosseguia até Inhaúma, uma extensão tão grande que é difícil até mesmo conceber hoje em dia como estando em mãos de uma só pessoa ou instituição.
Rua do Riachuelo, antiga Estrada de Matacavalos, um dos primeiros
caminhos para se chegar à zona norte, utilizado desde o século XVI
Seja como for, sua criação, assim como das outras propriedades, originou um tráfego de pessoas e bens entre a periferia e o centro, e, no caso da zona norte, o principal responsável foi a fazenda dos jesuítas. Para chegar até lá, contudo, era necessário superar vários obstáculos que se repetiam por toda parte: terrenos alagados originados pela retenção de águas pluviais.
Uma das possibilidades de se alcançar a lagoa da Sentinela, ponto de partida para Catumbi, Mataporcos (Estácio), Rio Comprido, S. Cristóvão e Engenho Velho, era o Caminho de Capueruçu, seguindo o trajeto das atuais ruas da Alfândega e Moncorvo Filho, desviando dos pântanos para chegar na área da lagoa, próximo ao encontro das ruas Frei Caneca, Mem de Sá e Santana, daí continuando rumo norte.
Logo surgiu outra alternativa, dessa vez partindo junto ao Morro do Desterro (Santa Teresa) na região da Lapa, e seguindo pela encosta da montanha, sempre que possível alguns metros acima dos alagados bem ao lado. Como o tráfego, conforme assinalado acima, era composto principalmente por veículos e tropas de animais dos jesuítas, a via recebeu deles seu primeiro nome: Caminho do Engenho dos Padres da Companhia.
Quando fazia sol, em plena estiagem, o caminho, ainda que tão ruim como os outros, era utilizável, mas quando chovia sua travessia tornava-se extremamente penosa e arriscada. Situado entre dois grandes morros, de Santa Teresa e Pedro Dias (depois do Senado, desaparecido totalmente em 1908), ficava junto a um grande alagado, chamado de sanga sem nome, formado pelas águas estagnadas. Na ocasião das chuvas, a enxurrada descendo os morros transformava tudo numa grande lagoa pantanosa e intransitável.
Os animais de carga que tivessem a infelicidade de ali passar nessas condições sofriam muito, e, ante a exaustão causada pelo tremendo esforço de tentar superar o obstáculo, muitos não conseguiam e acabavam morrendo, fato que levou, no início do século XVIII, ao novo nome do caminho: Azinhaga, e, posteriormente, Estrada de Matacavalos. Em 1848, tornou-se oficialmente Rua de Matacavalos, e, como conseqüência de uma vitória brasileira na Guerra do Paraguai, em 1865, passou a se chamar de Rua do Riachuelo, o que continua até o presente.
Via de grande movimento em um dos bairros mais densamente povoados do Rio de Janeiro, a rua traz em seu próprio trajeto, subindo e descendo suavemente ao lado da encosta do Morro de Santa Teresa, a lembrança de tempos antigos, em que uma curta viagem podia tornar-se uma aventura com lances imprevisíveis
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