O Convento de Santa Teresa é sem dúvida um dos pontos altos do patrimônio histórico carioca, dominando a paisagem sobre a Lapa e a região do Passeio há mais de 250 anos. A bela construção, à qual se tem acesso por uma ladeira bastante íngreme, chamada de Santa Teresa, tem uma história que iniciou mais de cem anos antes da instalação do convento.
Igreja de N.Sª do Desterro no Convento de Santa Teresa, cuja
origem é uma ermida construída no século XVII
Tudo começou em torno de 1620, quando Antônio Gomes do Desterro, proprietário de terras e engenhos, construiu uma ermida dedicada a N.Sª do Desterro, santa de sua devoção. Os supostos favores obtidos por vários fiéis aumentaram a freqüência, e junto à ermida foram construídas casas para os romeiros que ali iam buscar auxílio. A fama da Senhora do Desterro cresceu ainda mais a partir de um episódio ocorrido em 1650. Um jesuíta e historiador residente no Colégio do Morro do Castelo, chamado Simão de Vasconcellos, caiu gravemente enfermo, e, segundo a história, começou a melhorar exatamente no instante em que foi celebrada uma missa em sua intenção pelo padre João de Almeida, na Ermida do Desterro.
Antônio Gomes legou várias propriedades à Ermida, o que, junto com as contribuições dos fiéis, garantiu a existência do pequeno templo, que estava sob os cuidados de um ermitão. Em 1714, a ermida abrigou três frades marianos, que vieram ao Rio com o intuito de fundar um convento, mas acabaram desistindo e partiram dois anos depois. A seguir, em torno de 1720, foi a vez dos capuchinhos italianos ocuparem a ermida. Ficaram na hospedagem dos romeiros, a qual não estava em boas condições, enquanto aguardavam a construção de casa própria. Em 1742 mudaram-se para seu convento, na rua que passou a ser chamada, pela sua presença, de Rua dos Brabonos, a atual Evaristo da Veiga.
Estátua de S. João da Cruz, no Convento de Santa Teresa, com
os prédios do centro do Rio ao fundo
Foi exatamente durante o período em que os capuchinhos estavam na Ermida que Jacinta Aires, junto com sua irmã Francisca, passaram a frequentar suas missas. Sua devoção religiosa levou à criação da Ermida do Menino-Deus, na rua de Matacavalos (Riachuelo). A visita do governador Gomes Freire às religiosas em 1748 levaria à construção de um convento na Ermida do Desterro. Sua pedra fundamental foi lançada em 1750, e tempos depois as religiosas carmelitas para lá se mudaram. Como seguiam a regra de Santa Teresa, foi assim que o convento passou a ser conhecido, nome que substituiu Desterro tanto para a construção quanto para o próprio morro, origem do bairro atual.
A igreja, contudo, continua dedicada a N.Sª do Desterro, lembrança da pequena ermida construída por Antônio Gomes há quase quatrocentos anos, época em que a cidade não era mais que uma pequena aldeia perdida em um continente remoto e desconhecido.
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