14/10/2009 - 01:46
Enviado por: Paulo Pacini
JB
É um fato básico da vida a presença do bem e do mal em todo universo, incluindo o âmago de cada um. Mesmo que tal possa ser uma ilusão criada pela mente humana e projetada sobre o mundo, a vida em comunidade exige o gerenciamento das ações consideradas maléficas, em nome da sobrevivência do grupo. Daí a criação do sistema judiciário e seus diversos tentáculos, como polícia, tribunais e prisões.
Não foi outra a situação enfrentada pelos colonizadores do Rio. Mesmo quando provisoriamente no Morro Cara de Cão, antes da criação do núcleo urbano, delitos eram cometidos e punidos, surpreendentemente em um grupo que deveria permanecer coeso para enfrentar um inimigo comum. Tendo sido expulsos os franceses, uma das primeiras providências foi a construção de uma cadeia na cidadela do Morro do Castelo, conjugada com a Câmara dos representantes. À medida que a várzea abaixo ia sendo conquistada, fizeram-se as primeiras gestões para erigir-se uma nova cadeia, que evitaria a subida ao Castelo. A autorização só ocorreu em 1639. O local escolhido localizava-se onde é hoje o Palácio Tiradentes, ao lado da Ermida de São José. As obras se arrastaram por quase um século, pela má qualidade da construção e modificações no projeto, só terminando em 1747.
Assembléia, antiga rua da Cadeia,
início da Via Dolorosa de Tiradentes
A rua em frente, aberta durante o século XVII e dirigindo-se para o interior, acabou recebendo no nome de Rua da Cadeia, e continuava como caminho até a lagoa de Santo Antônio, no futuro Largo da Carioca. Com a drenagem da área, que levou décadas, a rua pôde ser plenamente ocupada, e seu trajeto foi definido em meados do século XVIII.
Chegando a Côrte, em 1808, o prédio foi requisitado, e os presos da Cadeia Velha transferidos para a prisão do Aljube, na rua do Acre. Em 1823, já com o Brasil independente, reunia-se no local a primeira Assembléia Constituinte, fato que acabou conferindo um novo significado para o antigo prédio, como da Assembléia. Por efeito indutivo, a rua da Cadeia acabou se transformando em rua da Assembléia, mas só em 1853, nome que permaneceu até os dias de hoje.
A Cadeia e a rua da Assembléia encontram seu maior significado com a Inconfidência e a prisão de Tiradentes. De lá saiu o mártir rumo ao patíbulo, e, após a demolição do antigo prédio em 1922, foi dado seu nome à então Câmara dos Deputados, em homenagem ao personagem central do episódio talvez mais simbólico de toda história brasileira.
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