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sábado, 21 de julho de 2012

Restauração do complexo arquitetônico do Convento de Santo Antônio


Um tijucano que reconstrói a História


Aos 77 anos, arquiteto comanda as obras de restauração do complexo arquitetônico do Convento de Santo Antônio

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Olínio Coelho ao lado de um lavabo de pedra de Lioz na antessacristia da Igreja de Santo Antônio
Foto: Dani Dacorso
Olínio Coelho ao lado de um lavabo de pedra de Lioz na antessacristia da Igreja de Santo Antônio Dani Dacorso
RIO - Bem, há quem tire rugas. Até da cidade. Se não, ainda teríamos o Palácio Monroe na nossa paisagem e o prédio da Brahma interrompendo a passarela do Sambódromo. Mas, no que depender de Olínio Coelho, rugas e qualquer outro sintoma de velhice podem ser restaurados. Ou passar por uma acurada cirurgia plástica. É o que ele faz, por exemplo, como arquiteto responsável pelo restauro do complexo do Convento de Santo Antônio, no Largo da Carioca. É o que ele tem feito há 54 anos como arquiteto, período no qual, entre outras vitórias, chefiou o pioneiro Patrimônio do Estado da Guanabara, elaborou o decreto de tombamento do Parque Lage, criou o curso de restauro da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e formou algumas gerações de profissionais com suas aulas de Teoria e História da Arquitetura em, pelo menos, cinco faculdades do Rio.
— É difícil encontrar um arquiteto na cidade que não tenha sido aluno do Olínio — atesta Felipe Borel, um dos arquitetos do projeto de restauração do convento.
Aos 77 anos, que serão completados hoje, Olínio já pensa no próximo trabalho: a restauração da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência.
— Restauro é um vírus — diz ele. — Depois que você entra, não quer mais sair.
Filho de Olívia e Antônio
A Igreja da Ordem Terceira fica logo ali, ao lado da de Santo Antônio (na verdade, ela é parte do complexo arquitetônico do convento). Assim, não vai mudar muito a rotina de Olínio — o prenome incomum é a junção do nome da mãe, OLÍvia, com o do pai, AntôNIO —, que sai todo dia de sua casa na Tijuca para estar às 9h no Largo da Carioca.
Ele é um tijucano militante.
— Quem mora na Tijuca não quer saber de Zona Sul. Tentei morar em Copacabana, onde passei seis anos, mas acabei voltando.
A Tijuca está nas raízes do arquiteto. A bisavó tinha uma chácara no bairro. A casa onde nasceu, na Rua Uruguai, ainda está lá, mas transformada numa loja de produtos para noivas. É no bairro também que ele encontra as memórias de juventude passada na Praça Saens Peña.
— Minha turma ficava na frente do Café Palheta. Do outro lado da praça, tinha um botequim, onde eu sempre via o (compositor) Lamartine Babo. E as sessões de cinema no Cine Olinda eram um acontecimento.
O trabalho na Ordem Terceira ainda vai demorar para começar. A previsão é de que o restauro no convento, que teve início há cinco anos, só se complete daqui a dois ou dois anos e meio.
A tarefa de Olínio e de toda a equipe do Cepac (Centro de Projetos Culturais) é recuperar, numa obra avaliada em R$ 45 milhões, a riqueza original de um dos prédios mais antigos da cidade (a pedra fundamental da construção é de 1608, rivalizando em antiguidade com o Mosteiro de São Bento). Grande parte do trabalho é descobrir o que está por trás das reformas feitas durante a ocupação militar no complexo, entre 1885 e 1901, e as primeiras décadas que se seguiram a ela, quando o convento foi administrado por um grupo de freis alemães, ou simplesmente “os alemães”, como se refere a eles a equipe do Cepac. Entre os religiosos alemães, havia um arquiteto, o frei Schlag. Este período é chamado, no projeto do grupo atual, de período de “restauração do convento”. Esta “restauração”, considerada no projeto como “totalmente extemporânea”, teria reproduzido “apenas o gosto pessoal do frade arquiteto alemão, Frei Schlag, descartando qualquer compromisso com a história da arte e a história cultural, cujos valores impregnados no monumento conseguiram atravessar, incólumes, três séculos até então”.
— As maiores intervenções foram feitas pelos alemães — revela Olínio, lembrando, porém, que, em 1953, ouve uma “limpeza” promovida pelo arquiteto Lúcio Costa.
— Embora desastrosas, as intervenções dos alemães, de certa forma, também preservaram a obra original.
A “preservação” aconteceu por conta de as obras dos “alemães” apenas esconderem a construção original, com pinturas sobre pinturas ou detalhes arquitetônicos “emparedados”. Foi assim que se descobriu agora como era o frontão (a forma triangular que ornamenta topo de fachadas) original, registrado numa foto de Marc Ferrez (1843-1923), que já pode ser visto do Largo da Carioca.
— É um frontão que o Rio não vê desde 1924 — orgulha-se o arquiteto.
Um frontão secular do lado de fora e, do lado de dentro, uma sacristia que, como Olínio gosta de citar, foi considerada pelo escritor Joaquim Manuel de Macedo como “a mais bela sacristia do Rio de Janeiro”. São muitos os encantos que estão para aparecer no histórico complexo arquitetônico do Centro da cidade. Durante as obras, Olínio convive com algumas histórias que, no futuro, vão fazer parte da lenda do prédio. A mais divertida delas é, sem dúvida, a que envolve a recuperação da estátua do pai de São Francisco.
Na restauração das cinco capelas do claustro, estava faltando uma imagem no altar da Capela do Nascimento de São Francisco. Era uma pequena estátua do pai do santo. Acreditava-se que fora roubada, que quebrara-se ou que, simplesmente, desaparecera. Até o dia em que um jovem frei do convento foi assistir à comédia “A guerra dos Rocha”, filme brasileiro de 2008. Lá estava, numa cena, como objeto de decoração, a imagem desaparecida do pai de São Francisco. A Ordem Terceira de São Francisco da Penitência já a recuperou.
O entusiasmo com que esse tipo de caso é dividido entre todos que trabalham no convento mostra, na opinião de Olínio, que o projeto é “uma escola de restauro”. Pouco a pouco, a pintura dos claustros volta a ter a cor azul, a altura do telhado é reduzida com a substituição das telhas francesas pelas telhas coloniais originais, a azulejaria portuguesa é recuperada.
— Quando você restaura, não pode procurar a finalidade — ensina ele. — Tecnicamente, temos um compromisso com a teoria do restauro. O uso tem que ser adaptado ao estado do monumento. Você não pode mudar o monumento por causa do uso.
Santo de casa faz milagre
É difícil estabelecer os limites do trabalho de Olínio Coelho ali no Largo da Carioca. Ele mesmo diz que “arquiteto é metido a fazer tudo, é um estado de espírito especial”. Sobre o prédio específico no qual ele agora se debruça com seu conhecimento, lembra que “o uso constante manteve o monumento”.
— Se não tivesse sido usado pelos franciscanos desde sua construção, hoje estaria em ruínas, como muitos conventos por aí — ensina.
Mas seu papel na restauração do complexo arquitetônico pode ser atestado pela declaração da coordenadora do projeto, Ana Lúcia Pimentel, que, funcionária aposentada do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), com formação em Administração e das primeiras técnicas brasileiras a se especializar em Lei Rouanet, atualmente, admite ter “o sangue da restauração correndo nas veias”:
— O Olínio tem uma experiência enorme que nos embasa a lutar por esta causa.
Na última quinta-feira, numa espécie de visita guiada pelas obras do convento, o repórter teve outro exemplo do respeito com que é visto o trabalho do arquiteto, ao se meter numa discussão surrealista com a restauradora Rejane Oliveira dos Santos. Comentando algumas imagens que estava recuperando, ela disparou:
— Santo Antônio é o santo das causas impossíveis.
O repórter desconfiou:
— Ué, mas este não é São Judas Tadeu?
— Também, mas é Santo Antônio quem nos ajuda a encontrar objetos perdidos.
— Não, este é São Longuinho, aquele dos três pulinhos.
Ana Lúcia Pimentel cortou a discussão com uma afirmação definitiva:
— O importante é que nosso santo protetor é Santo Olínio.


sexta-feira, 20 de julho de 2012

SEMINÁRIO SOBRE TRENS




Enviado por Bairros.com -
17.7.2012
13h21m

Aenfer organiza seminário sobre transportes ferroviários



De 8 a 10 de agosto, a Aenfer - Associação de Engenheiros Ferroviários do Rio de Janeiro vai promover o seminário "TransTrilhos - O transporte sobre trilhos que o RIO precisa", no Clube de Engenharia do Rio de Janeiro. Serão três dias de palestras e discussões, comandadas por engenheiros renomados, sobre o atual modelo de transporte ferroviário na cidade. Todos os participantes ganharão um certificado.

- A expectativa é reunir profissionais e pessoas interessadas no transporte sobre trilhos, além de despertar o interesse da população para a implantação do transporte que o estado precisa. Propostas ambientalmente mais adequadas para a malha ferroviária no Rio de Janeiro também serão discutidas - explica o presidente da Aenfer, o engenheiro Luiz Lourenço de Oliveira.

Em sintonia com a preservação do meio ambiente, o painel abordará o tema do transporte e a sustentabilidade, além de projetos da área ferroviária ligados ao transporte de carga e de passageiros de médio e longo percurso voltados para o desenvolvimento do nosso estado.

A participação é gratuita. As inscrições podem ser feitas pelo e-mail: seminario@aenfer.com.br  ou pelos telefones: (21) 2509-0558 e (21) 2221-0350. O Clube de Engenharia fica na Avenida Rio Branco 124, auditório do 25º andar.

terça-feira, 17 de julho de 2012

A ZELADORA VISCONDESSA DE MAUÁ E A REFORMA DA IGREJA DA IMPERIAL IRMANDADE DE NOSSA SENHORA DA GLÓRIA DO OUTEIRO EM 1862.





A ZELADORA VISCONDESSA DE MAUÁ E A REFORMA DA IGREJA DA IMPERIAL IRMANDADE DE NOSSA SENHORA DA GLÓRIA DO OUTEIRO EM 1862.


D. Maria Joaquina Machado d´Avila e Souza Baronesa e Viscondessa de Mauá, nascida em Arroio Grande a 6 de julho de 1825 e falecida em Petrópolis a 15 de março de 1904, casou-se a 11 de abril de 1841 com seu tio Ireneo Evangelista d´Avila e Souza Barão e Visconde de Mauá.

O casal foi admitido como Irmãos da Imperial Irmandade de Nossa Senhora da Glória do Outeiro a 15 de agosto daquele mesmo ano.

A Viscondessa de Mauá em 15 de agosto de 1856 é feita Aia de Nossa Senhora sendo eleita Zeladora da mesma Senhora em 20 de agosto de 1862.

Neste mesmo ano seu marido que era Presidente da Companhia de Gáz do Rio de Janeiro, doa e manda instalar os lapiões e oferece a gratuidade da iluminação da Igreja, adro e dependências, gratuidade esta que permaneceria até 11 de agosto de 1920 por ocasião da falência da Société Anonyme du Gaz de Rio de Janeiro e incorporação desta pela Light & Power Company.

Na qualidade de Zeladora da Imperial Irmandade para os anos de 1862 a 1864, ofereceu a Viscondessa a reforma da Igreja quando foi colocado uma passarela de ferro fundido no Estaleiro e Fundição da Fabrica da Ponta d´Areia, bela armação projetada pelo engenheiro John Milligan, funcionário designado por Mauá para a obra. Terminada em menos de um ano, a nova passarela dava acesso das irmãs pela lateral através portas de vidro ainda existentes nas duas laterais da Igreja. Facilitando assim o caminho entre o coro e a câmara onde se guarda até hoje as vestes da imagem de Nossa Senhora da Glória.

Na ocasião os Viscondes de Mauá encomendam na Casa Victor Resse o manto e o vestido da Senhora da Glória alé das vestes do Menino Jesus, em rico veludo bordado a fios de ouro e prata como era costume nas roupas dos Senadores do Império. Ainda existe na coleção da Igreja esta belíssima peça imperial. A Imperial Irmandade mais tarde em 2 de setembro de 1874 concede ao casal Mauá o titulo de Benemeritos daquela instituição.

No dia da inauguração da passarela lateral em 15 de agosto de 1864, a Imperatriz Theresa Christina sua filhas as Princesas Isabel e Leopoldina além das Aias e da própria Zeladora Viscondessa de Mauá percorreram pelo novo caminho que facilitou muito o acesso a loggia onde se encontra a imagem da Senhora da Glória.

Um fato ocorreu no dia que causou risos a Imperatriz e as Princesas Imperiais:

Ao chegarem atrazadas a cerimônia, a Duquesa de Caxias e a Baronesa de Nova Friburgo foram pegas de surpresa por um forte vento que teimava levantar suas vistosas anaguas. O Barão de Nova Friburgo que se encontrava no terreo vendo o estranho movimentos das anaguas das nobres senhoras esclama assustado..."Ai Jesus está a voar as camisolas de Nossa Senhora...!!!".

Apesar do sucesso das passarelas estas foram retiradas na reforma da Igreja em 1948, restando apenas as portas de vidro que servem agora apenas como janelas de iluminação do interior da Igreja.

C.I. Eduardo André Chaves Nedehf Marquês de Viana
Rio de Janeiro, 16 de julho de 2012

Bibliografia:

GANNS, Claudio, Visconde de Mauá Autobiografia, E. Zelio Valverde Rio de Janeiro RJ 1943
MOYA, Coronel Salvador de, Anuário Genealógico Brasileiro Vol.3, São Paulo SP 1943
NEDEHF, Marquês de Viana Eduardo André Chaves, Memorial Visconde de
Mauá - Arquivo e Memoria Ed. Universidade de Fortaleza Rio de Janeiro RJ 2005

FESTIVAL DO CAFÉ . . . RELEMBRANDO O IMPÉRIO !




Festival Vale do Café agita o sul do
Estado com mais de 30 atrações gratuitas

Cerca de 600 mil pessoas são esperadas até nas 15 cidades até dia 29




Do R7 | 17/07/2012 às 10h31



Nesta terça-feira (17) começa em 15 cidades do sul fluminense o Festival Vale do Café, que está em sua 10ª edição. O evento, segundo os organizadores, tem o objetivo de criar um pólo turístico-cultural e acelerar o desenvolvimento econômico do interior do Estado.

Durante os dias do festival, que irá até 29 de julho, serão oferecidas gratuitamente concertos em fazendas, shows em praças, cortejos e cursos de músicas. São mais de 30 atrações gratuitas para a população e turistas. Os participantes também poderão visitar 14 fazendas históricas da região.

Mais de 600 mil pessoas são esperadas para participar do festival, de acordo com a organização do evento.


Entre as principais atrações do festival estão a cantora Elba Ramalho e a orquestra do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. 

Cidades como Volta Redonda, Barra do Piraí, Vassouras e Paracambi, participam do evento. A listagem completa das cidades e das programações pode ser vista no site do evento: www.festivaldocafe.com.

domingo, 15 de julho de 2012

Nireu Cavalcanti: uma história de paixão pela cidade do Rio de Janeiro


Nireu Cavalcanti: uma história de paixão pela cidade


O arquiteto e pesquisador prepara mais um livro para ajudar a conhecer o Rio

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Nireu Cavalcanti: novo livro vai abordar pontos da História que não o convencem
Nireu Cavalcanti: novo livro vai abordar pontos da História que não o convencem
Nireu Cavalcanti é um apaixonado pela História do Rio e, consequentemente, um apaixonado pela cidade.
— Sempre tive paixão pelo Centro da cidade — admite ele. — Somos privilegiados por viver numa cidade que é a própria História do país, a história da formação de um povo, da formação da brasilidade. Os baianos que me perdoem, mas o Rio de Janeiro tem uma característica mais heterogênea do que a própria Bahia, só pelo fato de ter sido capital do país desde 1763 até a segunda metade do século XX, e por abrigar um porto altamente cosmopolita.
A ironia é que um professor tão ligado às raízes do Rio não é carioca. Alagoano de Batatal, chegou aqui com 17 para 18 anos — está com 66 — para se desenvolver como escultor, talento que trazia de Alagoas. Na dúvida entre cursar a faculdade de Belas Artes ou a de Arquitetura, optou pela segunda. Não se lembra de, na escola, ainda em Alagoas, ter se destacado nos estudos de História.
— Eu não era bom em nada. Eu era escultor! — reage.
Mas foi justamente no curso para tornar-se arquiteto que passou a se interessar pelo assunto, destacando-se nas aulas de História da Cidade, História da Arquitetura, História de Estilos, História da Arquitetura Brasileira...
— Quando me formei, vários professores me convidaram para ser seu auxiliar.
Ele especializou-se em Planejamento Urbano Regional e acabou fazendo doutorado em História, quando elaborou uma tese que transformou-se em seu livro mais famoso, “Rio de Janeiro Setecentista”, cujo conteúdo ele descreve como “a vida e a construção da cidade da invasão francesa até a chegada da corte”.
Conhece-se melhor a História do Rio com os livros de Nireu Cavalcanti. Ele é autor de “Santa Cruz”, volume da coleção “Cantos do Rio”, editada pela Prefeitura, no qual, com pesquisa documental, narra a História do bairro e de seus monumentos. Em “Crônicas — Histórias do Rio Colonial”, ele traz uma coleção de artigos que escreveu para o “Jornal do Brasil” em que trata dos costumes cariocas, com a leveza de um dos maiores cronistas da cidade, o autor de “O Rio de Janeiro no tempo dos vice-reis”, Luís Edmundo (1878-1961). Ele rejeita a comparação:
— Eu não gosto de coisa impostada. Luís Edmundo interpreta muito o documento. Quem fez História Urbana foi Maurício Abreu — corrige ele, lembrando o geógrafo, autor de “Evolução urbana do Rio de Janeiro”, que morreu no ano passado.
Nireu Cavalcanti espera lançar este ano mais um livro, “Conflito colonial”, no qual aborda “pontos da História que não estão convencendo a mim”. O principal deles é a versão consagrada de que a Corte portuguesa chegou aqui, em março de 1808, com 15 mil pessoas.
— Não eram nem 500 — contesta.
O historiador não aceita nem a versão de que, na conta tradicional, estava incluída a tripulação dos navios.
— Mesmo assim. Com os tripulantes, não chegamos nem a oito mil pessoas. E é preciso se levar em conta também que todos os navios, com suas tripulações, voltaram para Portugal em agosto. Não foi mesmo um número significativo. Eles não poderiam desarmar a administração de Portugal, nem o Exército. Esta versão foi criada num livro de memórias de um soldado da Marinha inglesa, Thomas O’Neil. Mas ele não viu nada. Apenas reproduziu o relato de um sargento português.
Parte da paixão de Nireu Cavalcanti pela cidade passa por pontos que o Rio nem possui mais.
— O Rio de Janeiro é a cidade de prefeitos que provocaram grandes perdas. A mais significativa é a derrubada do Morro do Castelo. Temos uma história de governantes muito desqualificados do ponto de vista da importância do patrimônio da cidade. Em 1922, o prefeito Carlos Sampaio derrubou o começo da História do Rio para comemorar os cem anos da Independência. Quando vou à área da Ladeira da Misericórdia, que foi o que sobrou do morro, fico muito emocionado. Eu sei que por aquele pedacinho de ladeira caminharam grandes figuras da História do Brasil.
E o professor continua reclamando:
— Quando Dom João VI chegou ao Brasil, havia um projeto na Câmara dos Vereadores para derrubar o morro. A justificava era a de que ele impedia a circulação do ar. Já na época, provou-se que isso não era verdade. Mais de cem anos depois, a mesma justificativa eliminou da cidade o seu ponto mais marcante.
Desafiado a escolher um ponto importante do Rio que não seja caracterizado pela perda, Nireu Cavalcanti não titubeia: o Passeio Público.
— Na Colônia, nossos governantes não podiam ter a sua representação em espaços públicos. A cidade do Rio não tinha estátuas, nem monumentos. Era despida. Isso só veio a ser rompido pelo vice-rei Luís de Vasconcelos (1742-1809) na construção, em 1783, do Passeio Público.
A Corte não permitia que fossem realizadas na cidade obras de grande porte. O Campo de Santana era um descampado. A Casa do Governador era modesta. Nenhum prédio podia ser chamado de palácio e nem tinha características que justificassem este nome.
Sem pedir dinheiro à Coroa — até por que, se pedisse, a Coroa não daria — o vice-rei construiu nosso primeiro parque público e espalhou por ele os até então inéditos estátuas e monumentos.
No apartamento de Laranjeiros, onde vive com a mulher, Regina (eles têm dois filhos, o designer Tiago, de 36 anos, e a dentista e cineasta Andréa, de 34), Nireu Cavalcanti se empolga com a história do Passeio Público:
— É a nossa primeira obra de caráter não utilitário.
E não tem medo de afirmar:
— O Luís de Vasconcelos foi o maior governante que nós já tivemos.


Os fortes do Rio sofrem com abandono !


Os fortes do Rio sofrem com abandono


Das dez fortificações que cercam a Baía de Guanabara, apenas quatro estão abertas à visitação e uma se encontra em ruínas

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O Forte da Lage, na Baía de Guanabara: construção, iniciada no fim do século XVII, está abandonada, com janelas corroídas pela maresia, canhões enferrujados e cacos de vidro espalhados pelo piso de madeira
Foto: Custodio Coimbra / Agência O Globo
O Forte da Lage, na Baía de Guanabara: construção, iniciada no fim do século XVII, está abandonada, com janelas corroídas pela maresia, canhões enferrujados e cacos de vidro espalhados pelo piso de madeira Custodio Coimbra / Agência O Globo
RIO — Símbolo da arquitetura militar do século XVIII, o Forte da Lage ajudava a formar — com as fortificações de Santa Cruz e São João — uma barreira quase intransponível aos corsários franceses, em suas recorrentes investidas na busca por ouro, açúcar e especiarias. Convertido a área operacional do Exército, serviu de presídio, acabou desativado em 1997 e hoje apresenta-se em petição de miséria. Janelas corroídas pela maresia, cacos de vidro espalhados pelo piso de madeira e canhões enferrujados contrastam com a imponência visual dos fortes da Baía de Guanabara. A Lage representa o descaso das autoridades fluminenses com um patrimônio mundialmente reconhecido e referendado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). A falta de visibilidade das fortificações do Rio e de Niterói também é nítida: das dez existentes na baía, apenas quatro estão abertas à visitação (Santa Cruz, Pico, São Luiz e São João).
O Forte da Lage — com “g” mesmo, na grafia antiga — fica a três quilômetros da Praia da Urca, e o acesso do GLOBO à ilha foi feito por uma canoa havaiana. Partindo da Urca, navega-se por 20 minutos até a formação rochosa. O acesso, dificultado pelo mar constantemente revolto, é feito por uma escada de pedra, depois de um curto trajeto a nado. O fisioterapeuta Antônio Magnago conta que os adeptos da canoagem costumam fazer piquenique por lá:
— Eu tirei serviço aqui em 1988, quando era soldado — conta Antônio, caminhando pelas escuras salas do forte. — Era uma base do Forte São João, e a gente vinha de bote a motor. Quem vinha para cá ficava sem fazer absolutamente nada. Tinha alojamento, cozinha. Havia um sumidouro que fazia um barulho estranho, e o pessoal botava medo nos soldados, dizendo que era o monstro da Lage. É uma pena que esteja abandonado. Isso é um patrimônio de todos nós e deve ser preservado.
Há infiltrações por todos os cantos. Numa parede, uma inscrição indica que a última obra de restauração foi feita em outubro de 1902, durante o governo Pereira Passos. Na fortificação, estiveram detidos vários personagens da história do Brasil, como José Bonifácio e Olavo Bilac, este por críticas ao marechal Floriano Peixoto. De acordo com o Comando Militar do Leste (CML), a Ilha da Lage é hoje um patrimônio sob responsabilidade do Centro de Capacitação Física do Exército, que fica na Urca. Em 2002, a corporação chegou a levantar os custos de sua recuperação, mas os valores foram considerados muito altos, inviabilizando o projeto. O Exército diz que limpa periodicamente as sujeiras trazidas pela maré e de “pessoas não autorizadas a entrar no recinto (pescadores, banhistas etc)”. Atualmente, diz o CML, a iniciativa privada tem interesse em tornar a Lage um ponto turístico.
O pequeno forte não é tombado por nenhuma das três instâncias (União, estado e município), mas o historiador do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) Adler Homero lembra que a preservação não é um processo simples.
— Somente a construção do forte custou o equivalente a R$ 2 bilhões. O material está sem conservação adequada há 50 anos. O tombamento tem duas vertentes: uma é a concessão do título, a outra, mais importante, é a garantia da preservação. A dificuldade de acesso à ilha é enorme, o mar chega a encobri-la por completo. A questão financeira pesa: somente a recuperação da Lage custaria R$ 40 milhões. E o orçamento do Iphan é de R$ 120 milhões — compara Homero.
Estudioso da história do Brasil, o arquiteto Nireu Cavalcanti lamenta o descaso com o Forte da Lage e cobra uma rápida atuação para evitar que a história desabe no coração da Baía de Guanabara.
— A paisagem do Rio não existe sem o Forte da Lage. Até hoje ele tem um farol que marca a entrada da Baía. Deve ser restaurado, tombado pelo Patrimônio Histórico. Era uma fortaleza baixinha que dava muito trabalho aos invasores. Sua construção começou no fim do século XVII, mas só foi efetivamente instalada a partir de 1720, depois da exitosa invasão dos franceses comandada por René Duguay-Trouin. O projeto era do arquiteto (engenheiro militar) francês João Massé — comenta Cavalcanti. — O Rio e Niterói precisam ter um programa conjunto de visitação aos fortes.
Levantamento feito pelo GLOBO mostra que somente quatro fortes da Baía de Guanabara (três deles em Niterói) estão abertos ao público: Santa Cruz, Pico, São Luiz e São João. A Fortaleza de Santa Cruz recebe em média 3.500 visitantes por mês. Na cidade, só perde para o Museu de Arte Contemporânea (MAC), que está na faixa dos 20 mil. O entorno da Guanabara conta com outros seis fortes: Ilha da Boa Viagem, Ilha das Cobras, Gragoatá, Rio Branco, Lage e Villegaignon. O presidente da Niterói Empresa de Lazer e Turismo (Neltur), José Haddad, reconhece que falta dar visibilidade a estas maravilhas históricas:
— Estamos discutindo com o Exército a elaboração de um projeto conjunto para consolidar os fortes como produto turístico. A intenção é incluir todas estas estruturas.
A Diretoria do Patrimônio Histórico e Cultural do Exército informou que está em curso um projeto de formalização de um roteiro turístico das fortificações, em parceria com o Laboratório de Tecnologia e Desenvolvimento Social da Coppe/UFRJ e o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio (Faperj). Em 1998, o Exército decidiu que todos os fortes seriam abertos ao público. Mas a decisão acabou sendo revogada.