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domingo, 10 de março de 2013

CASA DE MACHADO DE ASSIS ? . . .


A casa da polêmica




Esta casa caindo aos pedaços, na Ladeira do Livramento, na Gamboa, está no centro de uma polêmica.
O professor de História Milton Teixeira diz que foi ali que nasceu Machado de Assis. Seus estudos levaram a vereadora Laura Carneiro a propor o tombamento da casa.

Mas...

Os imortais da Academia Brasileira de Letras, depois de examinar alguns documentos, acreditam que não há elementos convincentes de que o lugar tenha sido um dia a casa do maior escritor brasileiro de todos os tempos.
É. Pode ser.

Raridade

O primeiro livro de história da arte do Brasil, fora de catálogo desde o século XIX, vai ganhar nova edição.
“Belas artes: estudos e apreciações”, escrito pelo crítico Félix Ferreira, em 1885, ganhou um estudo minucioso do pesquisador da USP Tadeu Chiarelli, e será relançado pela editora Zouk.


Igreja do século XVII sofre com má conservação em Itaboraí


Igreja do século XVII sofre com má conservação em Itaboraí

  • Paredes estão com infiltrações, e uma árvore cresce na torre principal
  • Imóvel já tem projeto de restauração pronto
Leonardo Gorges, com a leitora Yanae Saldanha de Moraes 
Publicado:
Atualizado:

Igreja é tombada pelo Iphan desde a década de 1970 -
Foto: Foto da leitora Yanae Saldanha de Moraes / Eu-Repórter
Igreja é tombada pelo Iphan desde a década de 1970 -Foto da leitora Yanae Saldanha de Moraes / Eu-Repórter
RIO - Um dos principais patrimônios de Itaboraí pede socorro. Construída no século XVII, a Paróquia São João Batista, no Centro, sofre com a falta de conservação, que deixa marcas dentro e fora da arquitetura colonial. Quem passeia pela principal praça da cidade, na Região Metropolitana do Rio, pode ver uma árvore crescendo ao lado da torre principal.
Andar pelo interior da Igreja Matriz do município também reserva algumas surpresas desagradáveis. As paredes estão tomadas por infiltrações e mofo, e algumas imagens sagradas tiveram de ser retiradas, pois os suportes de madeira estavam destruídos devido à ação de cupins. As más condições deixam os fiéis apreensivos, preocupados com a segurança no local, onde continuam sendo celebradas as missas.
— O pior de tudo é ver que ninguém toma iniciativa para recuperá-la. A Igreja é um patrimônio histórico muito importante da nossa cidade, que se desenvolveu ao redor da construção — conta a leitora Yanae Saldanha de Moraes.
O imóvel é tombado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional (Iphan) desde a década de 1970. De acordo com a Prefeitura de Itaboraí, uma reforma teria de ser feita pelo órgão federal, que já fez uma licitação para um projeto executivo, que servirá de base para a restauração. O Iphan confirma a informação e diz que o projeto de recuperação e conservação já está pronto.
De acordo com o instituto, o trabalho foi entregue nesta quarta-feira e as obras já estariam autorizadas. A responsabilidade pela coleta de recursos, no entanto, é do proprietário. Segundo a assessoria do órgão, “o Iphan só disponibiliza recursos no caso de comprovada impossibilidade financeira por parte do proprietário”.
O Eu-Repórter tentou entrar em contato com os responsáveis pela igreja ao longo da semana, mas não obteve retorno das ligações.


A Igreja do Sacramento


Quarta, 18 Julho 2012 11:40

A Igreja do Sacramento

Escrito por

Em abril de 1816, na rua do Erário ou Lampasosa, começavam as obras da Igreja do Sacramento da Antiga Sé, em terreno comprado recentemente onde havia um pântano coberto com tábuas. Junto ficava a imunda lagoa da Pavuna, que abrangia o atual Largo de São Francisco, existindo também uma vala que se estendia até a rua dos Inválidos. O campo em frente era popularmente chamado da polé, pois era onde se executavam os soldados.
Mas por que motivo a Irmandade do Sacramento da Antiga Sé, das mais antigas da cidade, construiria seu templo em local tão afastado e sem ligação com sua história? A irmandade, como consta no nome, estava instalada originalmente na Igreja de São Sebastião no Morro do Castelo, concluída em 1583. Com a deterioração do templo, o Cabido da Sé decidiu abandonar o local de qualquer maneira, mesmo que às custas dos outros, e, em 1734, invadia a Igreja de Santa Cruz dos Militares. A Irmandade do Sacramento compartilhou sua sorte, e, quando em 1737 o cabido se mudou para a Igreja do Rosário, ela foi junto.
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Igreja do Sacramento na Av. Passos, uma das mais imponentes do Rio de Janeiro
A chegada da côrte portuguesa em 1808 mudaria tudo, pois a Sé foi transferida para a Igreja de NSª do Carmo, em junho do mesmo ano. A Irmandade do Sacramento permaneceu na Igreja do Rosário, mas lá não queria ficar, por causa dos conflitos com os donos da casa invadida, bastante compreensíveis. Tentaram se transferir para outra casa alheia, a Igreja do Bom Jesus, na rua da Vala (Uruguaiana – demolida com a Av. Pres. Vargas), mas a congregação local se opôs veementemente, rechaçando a tentativa.
Só restava a opção de construir casa própria, o que aconteceu, como foi dito acima, a partir de 1816. Com apoio do governo, do povo e de várias personalidades, foi possível arrecadar os fundos necessários, e a capela-mor pôde ser inaugurada em julho de 1820. As obras, contudo, estavam longe de terminar, e o projeto do arquiteto João da Silva Muniz só se concluiria em 1859, quando o bispo Conde de Irajá finalmente a benzeu e consagrou.
A rua em frente, já urbanizada décadas após o início das obras, recebeu o nome de Sacramento, permanecendo assim até as reformas de Pereira Passos, quando lhe foi dada o nome deste. O templo, de aparência imponente e estilo de tipo barroco, tem fachada limpa e harmoniosa, encimada por três estátuas, a central, da Fé, em um nicho, tendo a seu lado as da Esperança e da Caridade. Internamente, tem cinco altares, o principal mais os dedicados a N.Sª das Dores, S. Sebastião, N.Sª do Terço e S. Miguel. A pia do batistério é a mais antiga da cidade.
O magnífico templo é tombado, e passou recentemente por processo de restauração que lhe devolveu a aparência dos primeiros tempos, livrando-o de décadas de poeira acumulada e também de depredações de vagabundos, considerados por muitos "artistas". Só a vigilância permanente poderá manter em boas condições a quase bicentenária Igreja do Sacramento, uma das maiores e mais majestosas da cidade do Rio de Janeiro.

A Casa de Machado


Quarta, 25 Julho 2012 12:48

A Casa de Machado

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Dentre os fatos que marcaram a história do Rio de Janeiro, um dos mais peculiares é sua ligação com a França, acontecida desde os primórdios, quando, em 1555, chega na Guanabara uma esquadra comandada por Villegagnon com o intuito de instalar uma colônia, a futura França Antártica. Em uma ilha afastada do litoral construiu-se um forte, chamado de Coligny, em homenagem ao almirante de França e protetor da empreitada. A ilha, chamada até hoje de Villegagnon, está ligada ao continente há décadas, e é onde fica a Escola Naval.
A iniciativa não prosperou por acontecer durante o período das guerras de religião, quando católicos e protestantes se trucidavam contínuamente. O patrono da expedição, almirante Coligny, era protestante, e as oscilações de seu prestígio político não permitiram que fosse enviada uma segunda leva de colonos, dessa vez com milhares de pessoas. Além disso, os ódios religiosos também estavam presentes aqui, com brigas e desentendimentos que dividiram e enfraqueceram a colônia. Tudo facilitou a retomada das terras pelos portugueses, ocorrida em 1567, dando origem à história da cidade atual, desde sua instalação no Morro do Castelo.
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Prédio da França durante a Exposição de 1922, foi doado à ABL no ano seguinte
O outro episódio conhecido da era colonial aconteceria em 1710 e 1711, quando invasões de piratas franceses causaram grande comoção entre os habitantes. A primeira, de 1710, feita por Duclerc, foi rechaçada, mas a segunda, de Duguay-Trouin em 1711, capturou a cidade, a qual teve de pagar vultoso resgate. Esses eventos fecharam ainda mais a colônia aos estrangeiros, mal que só desapareceria em 1808 com a vinda da côrte portuguesa e a abertura dos portos. Durante o século XIX estabeleceram-se relações amistosas entre os dois países, e a influência francesa progressivamente dominou toda a cultura, desde a moda até a filosofia, impondo-se como modelo de civilização ao qual todos almejavam.
Em 1922 seria comemorado o centenário da Independência, e para tal se planejava uma grande exposição universal, em proporções maiores que a de 1908. Dessa vez o local escolhido para o certame seria obtido às custas da destruição do Morro do Castelo, a verdadeira cidade original do Rio de Janeiro. Após seu arrasamento, grande parte da área foi ocupada por pavilhões, e o material obtido com o desmonte do morro também serviu para aterros e para criar a Avenida Beira-Mar. Em um dos trechos aterrados, próximo à igreja de Santa Luzia, naquela que seria futura Av. Pres. Wilson, a França montou seu pavilhão, construído em pouco mais de quatro meses.
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O Petit Trianon em Versalhes (foto: Wikipedia)
Mas essa obra não era de arquitetura ordinária: o governo francês decidiu erigir nada menos que uma réplica do palácio Petit Trianon, situado no parque do Castelo de Versalhes, de longa e famosa história. Construído por Luís XV para sua amante, Mme. Pompadour, situava-se em meio a um jardim e uma granja com vários animais. Lá o rei podia espairecer em boa companhia, pois o pequeno palácio era bem mais agradável que o Grand Trianon de Luís XIV. O imóvel foi dado de presente a Maria Antonieta por Luís XVI, e foi nele que, em 1789, ela recebeu a notícia da insurreição, a qual a levaria à prisão e à guilhotina.
O belo prédio construído para a exposição chamou especialmente a atenção do Dr. Júlio Peixoto, que pleiteou junto ao embaixador francês sua doação à Academia Brasileira de Letras, após a conclusão do evento. Houve concordância por parte das autoridades francesas, e, em cerimônia no dia 15 de dezembro de 1923, foi realizada a entrega do prédio. Sua doação à ABL foi muito oportuna, pois esta se encontrava precáriamente acomodada no Silogeu, junto ao Passeio Público, onde o espaço era exíguo.
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Estátua de Machado de Assis na ABL, obra do
escultor Humberto Cozzo
A doação do pavilhão francês tornou-se dessa forma mais um momento importante em uma relação de mais de quatro séculos entre o Rio de Janeiro e a França, e de fato não poderia haver melhor destino para a réplica do prédio dos monarcas franceses que tornar-se sede da ABL, a casa de Machado de Assis, filho da terra e maior escritor brasileiro de todos os tempos.

O Quartel do Campo


Quarta, 01 Agosto 2012 13:48

O Quartel do Campo

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A vida nas cidades trouxe enormes vantagens, sendo ela a expressão viva, em nível mais elevado, da natureza gregária do homem, cuja sobrevivência sempre dependeu da força e união do grupo. Segundo a arqueologia, uma das primeiras cidades conhecidas foi Jericó, na Palestina, cujas origens remontam a 9000 anos antes de Cristo. Lá foram descobertas dezenas de moradias em espaço limitado, comprovando sua densidade urbana. A proximidade possibilitava todo tipo de trocas, como hoje em dia, e também facilitava a defesa, seja contra inimigos ou animais, através da construção de muralhas defensivas, característica que perdurou até o século XIX.
Mas com ela também surgiam vários problemas, por nós bastante conhecidos. A densidade, uma das maiores vantagens, é contudo fonte de grande vulnerabilidade, especialmente no passado, pois amplificava os efeitos de um dos maiores flagelos à sociedade humana, que são os incêndios. A disposição de prédios lado a lado sem espaçamento tornou-se ameaça em potencial, pois a propagação seqüencial do fogo tornava-se bastante provável, dependendo do posicionamento dos imóveis, seu material de construção, etc.
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Quartel central do Corpo de Bombeiros, construção notável e grande
destaque no Campo de Santana desde 1908
Se esse perigo continua pairando sobre todos, mesmo com modernos recursos, pode-se imaginar o que seria na época do Brasil imperial, quando a única coisa que se podia fazer era utilizar baldes, além de algumas bombas manuais, esforço gigantesco e geralmente inútil, com a extinção dos incêndios ocorrendo sozinha, pelo fim do material combustível. A revolução industrial, contudo, começava a transformar esse domínio, e as primeiras bombas d'água movidas a vapor multiplicariam a quantidade de líquido utilizado no combate ao fogo, serviço que no mundo inteiro passava por processo de organização e reestruturação.
No Rio de Janeiro, o imperador D.Pedro II cria em 1856 o Corpo Provisório de Bombeiros da Côrte, reunindo em uma só corporação diversos grupos de combate ao fogo espalhados em organismos do estado. O material da época compunha-se de bombas manuais, escadas, mangueiras, cordas e baldes de lona. Em 1865, chegava a primeira bomba a vapor, e anos depois eram importados novos carros-pipa, permitindo levar o combate a qualquer lugar, pois deve ser lembrado que não existia uma rede de distribuição de água como hoje conhecemos.
Em 1880 o Corpo de Bombeiros é militarizado, e é concedida ao Diretor-Geral a patente de Tenente-Coronel. Até então, a corporação não era considerada militar, em que pese estar como tal organizada e aquartelada. A sede do Corpo de Bombeiros da Côrte, e, depois da República, do Distrito Federal, localizava-se no Campo de Santana, no qual estavam vários prédios da administração governamental, como a Casa da Moeda, o Senado, o Museu Nacional, a Câmara Municipal e outros imóveis excepcionais do século XIX.
No intuito de prover a instituição com melhores instalações, fez-se uma reforma e ampliação de seu quartel, entre o Campo de Santana e a rua do Senado. Com a presença do presidente, Dr. Afonso Pena, e diversas autoridades, incluindo o coronel-comandante Sousa Aguiar, o prédio foi inaugurado em 23 de maio de 1908, com grande pompa. No novo quartel foi inclusive construída uma torre central para treinamento, de onde podia se admirar o panorama da cidade. O grande pátio central podia abrigar várias viaturas, além de constituir excelente área de movimentação.
Desde então, há mais de cem anos, o quartel central do Corpo de Bombeiros tornou-se um dos elementos mais destacados do Campo de Santana, ilustrando, com sua presença, um dos mais importantes conjuntos de imóveis históricos da época do Rio de Janeiro Imperial.

A Igreja do Terço


Quinta, 09 Agosto 2012 16:28

A Igreja do Terço

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No início do século XVIII, a área próxima a atual Avenida Passos ainda era um espaço indefinido e semi-agreste. Pouca gente morava em tão afastado e desvalorizado rincão, quase sem casas ou construções de qualquer tipo, sendo esse exatamente o motivo pelo qual um grupo de escravos e libertos ergueu uma capela dedicada a São Domingos de Gusmão, que emprestou seu nome a toda área para além da rua da Vala (Uruguaiana).
Nesse espaço de contornos ainda indefinidos, foram instaladas a polé dos militares (pelourinho) e a fôrca, sendo essa uma das razões pelas quais muitos acreditam ter sido Tiradentes aí enforcado, e não onde se situa a escola que leva seu nome. Além disso, era uma área onde eram executadas punições a militares, como o alferes Joaquim José da Silva Xavier.
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Igreja de N.Sª do Terço, quase trezentos anos de história
no coração do Saara
Não muito distante da fôrca foi construída em 1747 a Igreja de São Elesbão e Santa Ifigênia, conforme em artigo nosso abaixo, no único caminho ali existente, o de Capueruçu, que recebeu no trecho o nome de Santa Ifigênia, após a construção do templo. A antiga vereda é hoje a rua da Alfândega. Em um terreno próximo, o padre Inácio Fernandes Fortes levantou em 1737 uma capela dedicada ao Senhor dos Passos, a qual daria seu nome ao caminho paralelo à rua de Santa Ifigênia (Alfândega) progressivamente aberto bem em frente. O padre Inácio legou a capela ao seu parente capitão José Fernandes Fortes, o qual não teve recursos para sua manutenção e a transferiu para a Mitra, o que não impediu sua decadência.
Na mesma época da construção da capela, era fundada na Igreja de São José a Irmandade de N.Sª do Terço, que lá permaneceu até 1815, quando foi iniciada a reconstrução do templo, e a imagem da Virgem do Terço teve de ficar na sacristia. O sonho da casa própria só se concretizaria em 1842, quando a Capela do Senhor dos Passos foi cedida à Confraria de N.Sª do Terço, assim permanecendo até os dias de hoje. Foram feitas obras de recuperação, que permitiram ao templo iniciar essa nova etapa de sua existência.
A Igreja de N.Sª do Terço foi desde suas origens uma construção bastante modesta, mas é apesar disso mais uma peça valiosa do patrimônio histórico carioca, com quase trezentos anos de idade. Tem a vantagem de se situar no interior de um conjunto arquitetônico homogêneo e antigo, que compõe um contexto visual consonante, diferentemente de outros templos que desapareceram entre as massas opressivas dos espigões, símbolo enganoso de progresso cujo crescimento desordenado quase sempre leva ao desaparecimento de trechos inteiros da cidade.

O Arsenal


Quarta, 15 Agosto 2012 09:31

O Arsenal

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Em 1º de janeiro de 1763 falecia o governador Gomes Freire, um dos que mais fez pelo Rio de Janeiro, vítima do grande choque causado pela perda da colônia do Sacramento (Uruguai) no sul, sob sua responsabilidade. Para substituí-lo, a metrópole enviou no mesmo ano o Conde da Cunha, que se tornaria o primeiro vice-rei estabelecido na cidade, promovida a capital da colônia.
Arbitrário e antipático, porém trabalhador e eficaz, o Conde da Cunha dedicou especial atenção às obras de defesa, pois ainda era viva a lembrança e o trauma das invasões francesas de décadas antes, que cobraram alto preço à comunidade. Além da melhora das fortificações, o vice-rei criou, em 1764, o primeiro Arsenal de Marinha do Brasil, em terrenos doados pelo Mosteiro de São Bento no século anterior.
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Antiga Praia de São Bento, onde foi instalado o Arsenal de Marinha em 1764,
local do atual 1º Distrito Naval
Nas modestas instalações coloniais foi construída em 1770 a nau D. Sebastião, que serviria a coroa portuguesa por muitos anos, tendo inclusive transportado em 1817 a princesa D. Leopoldina da Europa para nossas terras, onde se tornaria esposa de D. Pedro I. Apesar de suas grandes realizações, principalmente quando se leva em conta as limitações materiais, o Arsenal não impressionava, sendo descrito pelo inglês John Lucock, como um grupo de "miseráveis telheiros".
Sua situação mudaria a partir de 1822, na Independência, com a compra de equipamentos e contratação de oficiais estrangeiros, como Lord Cochrane, Primeiro-Almirante da Marinha Imperial. Mas o desenvolvimento técnico e a expansão do Arsenal se transformariam em trabalho contínuo, secular. Uma das primeiras e necessárias obras era a construção de um dique seco, pois o único existente se localizava no Maranhão, distante e com limitações.
O primeiro dique teve as obras iniciadas em 1824, mas só seria inaugurado em 1861, depois de quase quarenta anos, e seu primeiro nome foi Dique Imperial. Em 1874, entrava em serviço o dique Santa Cruz, e, em 1928, mais cem anos após o inicio das obras do primeiro, finalizou-se o terceiro dique, chamado então de Rio de Janeiro, a maior instalação de reparo da América do Sul.
Durante este período, o Arsenal de Marinha sofreu grande evolução tecnológica, habilitando-se na construção de diversos tipos de embarcações destinadas à defesa das águas territoriais, sendo inclusive capaz de produzir submarinos, um feito excepcional, pelo menos em termos do panorama sul-americano.
No momento em que a economia brasileira se encontra em plena expansão, torna-se cada vez mais necessária a renovação e ampliação das estruturas de transporte do país, com destaque para o transporte marítimo, além do ferroviário, por décadas relegados ao segundo plano por um rodoviarismo cego e sem futuro, o qual impediu a construção de uma infraestrutura que permitisse uma ligação eficaz do Brasil com o mundo e as trocas comerciais que este possibilita. Além disso, as riquezas existentes na plataforma continental que começam a ser exploradas vão com certeza demandar uma maior proteção do que a atual. Tudo isso coloca em destaque o papel do transporte marítimo e a defesa das águas brasileiras, na qual a Marinha tem papel fundamental.
Nesse sentido, torna-se oportuna a lembrança do Conde da Cunha e suas preocupações, as quais o levaram a fundar o Arsenal 1764 para melhor proteger a colônia dos ataques de aventureiros, sempre a espreitar a riqueza alheia desprotegida, tanto então como agora.

O Campo das Pitangueiras


Quarta, 22 Agosto 2012 11:40

O Campo das Pitangueiras

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Ao chegar ao Rio de Janeiro em 1808, a esposa do príncipe-regente D. João, Carlota Joaquina, apesar de ter moradia no Paço dos Vice- Reis, na Praça XV, e depois na Quinta da Boa Vista, adquiriu vários imóveis em áreas afastadas do Centro, até mesmo, dizem as más línguas, para ficar longe do marido.
Das mais conhecidas residências da rainha, duas se situavam na zona sul, uma na praia de Botafogo esquina com rua Marquês de Abrantes, e outra em Laranjeiras, próxima ao Largo do Machado. Nesse local, ela também comprou uma antiga capela, construída em 1720, e a reformou para uso pessoal.
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Largo do Machado, antigo Campo das Pitangueiras, antes da construção da
igreja de N.Sª da Glória. À esquerda, a antiga capela de Carlota Joaquina
(in Ferrez, G. - A Muito Leal e Histórica Cidade do Rio de Janeiro)
A presença real acelerou a urbanização de toda região, e também atraiu outras personalidades da côrte, que ali passaram a residir. Até então, essa área, conhecida inicialmente como Campo das Pitangueiras, e depois das Laranjeiras, não tinha especial interesse, estando ainda em parte alagada pelos restos de uma lagoa chamada da Carioca, formada pelo rio de mesmo nome que passava perto. Sua drenagem foi acelerada por uma vala que levava suas águas através da atual rua Dois de Dezembro até o braço norte do Rio Carioca, que passava no meio dos quarteirões entre a Praia do Flamengo e a rua do Catete. Esse mesmo braço norte delimitava a área do Campo das Pitangueiras, que passaria a se chamar do Machado desde aproximadamente 1810, quando um açougueiro colocou na frente de sua loja um grande machado de madeira, símbolo inequívoco de sua atividade comercial, acessível a qualquer um, mesmo analfabeto. Essa idéia, criada por um gênio anônimo da comunicação, dá nome ao local há mais de duzentos anos.
Com a volta de D. João a Portugal, as propriedades de sua mulher acabariam nas mãos do Banco do Brasil, sendo o templo da rainha vendido a Antônio José de Castro e esposa. Em 1834, foi criada a nova freguesia de N.Sª da Glória, desmembrada da de S. José, o que levou à fundação, no ano seguinte, de uma Irmandade correspondente, cuja matriz provisória foi instalada em uma capela na chácara pertencente a Antônio Pereira de Velasco, na esquina da rua Pereira da Silva com a das Laranjeiras, e dedicada a N.Sª dos Prazeres.
A capela era entretanto muito pequena, o que levou à compra, logo a seguir, daquela que pertenceu a Carlota Joaquina, bem maior, e nela fez-se devida reforma. Contudo, o aumento da freqüência tornava cada vez mais necessária a construção de uma igreja de grandes dimensões, que atendesse à demanda de uma população sempre crescente.
Ao fim de várias negociações, conseguiu-se a posse de um grande terreno no meio do largo, e, em 26 de junho de 1842, com a presença do Imperador D.Pedro II, foi lançada a pedra fundamental da igreja de N.Sª da Glória. A primeira fase de construção foi concluída em 1856, sendo as imagens trasladadas do antigo para o novo templo. As obras, contudo continuariam até 1872, e a antiga capela colonial desapareceria.
Apesar de muito ter mudado ao longo do tempo, o Largo do Machado, antigo Campo das Pitangueiras, mantém sua característica essencial de ponto de convergência dessa parte da zona sul, por onde passam muitos que se dirigem a Botafogo, Flamengo, Laranjeiras, Cosme Velho, etc. O início do desenvolvimento deste verdadeiro hub do trânsito de pessoas e veículos, contudo, foi também mais uma conseqüência da mudança da situação da cidade, com sua súbita transformação em sede da côrte portuguesa, o que levaria a esposa de um casal que não se suportava a morar o mais distante possível do marido.

O Parc Royal


Quarta, 29 Agosto 2012 11:44

O Parc Royal

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Tempos atrás — não muito tempo — era quase impossível a uma pessoa nesse país comprar o que fosse do exterior. Tudo era proibido, bloqueado por interdições de toda ordem, na maioria das vezes para beneficiar os muitos protegidos associados da corrupção e ineficiência estatal, para os quais eram feitas leis e portarias que eliminavam qualquer competição, obrigando a população a consumir produtos inferiores e com preço absurdo. O exemplo mais conhecido é o do setor automobilístico, o qual, de 1974 a 1990, teve as importações "temporariamente suspensas", sendo esse o jargão burocrático usado pelo governo para transformar o país no único em que multinacionais (VW,GM, Ford, etc) tinham reserva de mercado.
Esse tipo de fato, ainda presente em grande escala se comparado a outros países, reflete na verdade uma longa e ambígua relação do Brasil com o exterior, passando alternadamente por períodos de maior ou menor liberalização, a atitude não se resumindo a sua dimensão econômica, sendo mais um tipo de convicção profundamente enraizado na psiquê de gerações sucessivas de burocratas governamentais. É talvez o setor mais sujeito a arbitrariedades, com regras mudando ao sabor dos interesses.
É possível que esse tipo de postura esteja diretamente ligada ao nosso passado colonial, onde toda relação com o exterior era controlada pela metrópole portuguesa, e onde durante muito tempo proibia-se a entrada de estrangeiros, salvo em casos específicos. Os navios que aqui vinham só podiam ter como destino Portugal, e a coroa procurava bloquear o acesso a tudo que não viesse de lá, mantendo a colônia no maior atraso possível, pensando assim melhor defender seus interesses.
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O magazine Parc Royal ao lado da igreja de São Francisco, em um Largo
ainda distante do caos e imundície atuais
Esse esquema viraria de cabeça para baixo a partir de 1808, quando a côrte foi transplantada para o Rio de Janeiro. De uma hora para a outra, a cidade passou a ser a própria metrópole, para onde convergiam bens de toda parte do mundo, assim como autoridades e delegações estrangeiras de vários países. Com a abertura dos portos às nações amigas, em 28 de janeiro de 1808, a até então obscura colônia ligava-se ao mundo, o qual respondeu enviando um fluxo contínuo de mercadorias e pessoas, que começaram a definir o próprio país.
Essa lufada de ar fresco de proporções míticas geraria um sem-número de transformações, como por exemplo na construção de novos tipos de residência, amplas e ajardinadas, uma influência inglesa, à criação do setor hoteleiro, através do primeiro hotel decente, o Pharoux na praça XV, francês, o qual também introduziu a culinária sofisticada com seu restaurante, além da entrada de um número infinito de mercadorias européias, utensílios domésticos como móveis e outros, máquinas, além de bens culturais como livros, etc.
Como não poderia deixar de acontecer, uma das facetas da vida cotidiana mais afetada foi a moda, pois agora era imperioso, principalmente para a elite, seguir os padrões da côrte, que eram os da Europa. Os navios desembarcavam sem parar tecidos e outros implementos, os quais vinham acompanhados de uma multidão de alfaiates e modistas, chapeleiros, etc. Agora estar na moda era uma necessidade, e esse setor de atividade só fez prosperar, desde o tempo de D.João.
Seu pleno florescimento aconteceria durante a época de D.Pedro II, com a transformação da rua do Ouvidor em passarela da moda e na rua mais conhecida do Brasil, onde se podia comprar quase tudo que de melhor existia, desde que se tivesse dinheiro. E as opções eram muitas, como a famosa loja Notre-Dame de Paris, de 1848, a Torre Eiffel, de 1889, a Raunier, de 1854, e muitas outras. A expansão dessa atividade continuou com a República, e um dos estabelecimentos mais destacados ficava perto da Ouvidor, no Largo de São Francisco. Foi o magazine Parc Royal.
Fundado em 1875, na esquina do Largo com rua dos Andradas, era uma loja com grande movimento, e introduziu a novidade de venda a preço fixo, além de distribuir catálogos à freguesia, através dos quais podia se fazer encomendas que seriam enviadas de sua filial em Paris, sem problema algum. O magazine tornou-se o principal fornecedor de tudo que se refere ao vestuário na antiga capital.
O crescimento da loja levou à construção de uma nova instalação, em frente a seu antigo endereço e ao lado da igreja de São Francisco. O prédio foi inaugurado em 9 de março de 1911, continuando sua tradição como endereço da moda. Mas infelizmente não duraria para sempre. Após várias décadas de existência, em 9 de julho de 1943 o Parc Royal pegava fogo, em um dos maiores incêndios da história do centro do Rio. As chamas foram tão fortes que o prédio desabou do lado da rua Ramalho Ortigão, e a igreja ao lado teve vários de seus vitrais quebrados. Só resistiu por conta de sua forte construção colonial com paredes extremamente espessas.
O fim da famosa loja talvez prenunciasse o ocaso da região da rua do Ouvidor como lugar da moda e sofisticação, pois a seguir o Largo entraria em processo de decadência contínua ao ser transformado primeiro em terminal de ônibus, nos anos 60, e depois dos anos 80 em um infernal centro de comércio de rua ilegal, que a tudo suja além de atrapalhar a circulação. A Prefeitura completou o quadro ao retirar vários bloqueios à circulação que impediam uma maior degradação pelos veículos, sujando o local ainda mais e transformando-o em estacionamento de motos e carros.
Longe estão os dias do Parc Royal, verdadeiro símbolo de uma era em que ir ao centro do Rio era um prazer, ao invés da experiência desagradável de hoje em dia. Seria importante para a revalorização da imagem da cidade que toda essa área histórica fosse disciplinada e protegida, resgatando para o cidadão ruas e locais de passado tão histórico e destacado.

As Barcas Ferry


Quarta, 05 Setembro 2012 10:53

As Barcas Ferry

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Em 29 de junho de 1862, com a presença do imperador D.Pedro II, era inaugurado um novo serviço de transporte de pessoas e cargas, feito pela empresa Companhia de Barcas Ferry. Uma grande multidão aguardava a cerimônia na Praça XV, ansiosa em conhecer a novidade. As embarcações, de origem americana, eram completamente diferentes das aqui conhecidas, pois tinham duas proas, além de serem movidas a rodas de pás nas laterais, como nos barcos que percorriam o rio Mississipi. Além disso, foi construída uma estação para embarque com pontes flutuantes, pois até então eram usadas simples pontes de madeira.
Todas as melhorias aumentaram tremendamente a facilidade de se viajar a Niterói, e tanto foi o sucesso que a empresa estendeu o horário das barcas até 11:30 da noite — isso no ano de 1862, acreditem se quiser.
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Estação Ferry na Praça XV, em seu aspecto original de 1862
O transporte a vapor para Niterói começou na verdade bem antes, na época de D. João VI. O monarca outorgou uma concessão a dois ingleses em 1817, que contudo não levaram a iniciativa adiante. Quatro anos depois, em 1821, surgiu um serviço irregular ligando o Rio a Niterói e também à ilha de Paquetá, feito por uma barca chamada Bragança. Também não durou muito tempo. Em 1834 surgia finalmente a primeira empresa destinada a colocar em ação um sistema de transporte eficaz entre a capital e Niterói. A Sociedade de Navegação de Nichteroy começou o serviço no ano seguinte com três barcas: Nichteroyense, Praia Grande e Especuladora. Com capacidade para 250 pessoas, trafegavam de hora em hora, criando a primeira ligação de fato com Niterói.
A empresa se fundiria em 1852 com a Companhia de Inhomirim, que realizava serviço para Porto da Caixas e Porto da Estrela, e que havia obtido permissão para estender suas linhas. Além de levar passageiros até Niterói e ao rio Inhomirim e as ilhas de Paquetá e do Governador, a empresa regularizou o transporte até São Cristóvão e Botafogo, onde os passageiros podiam desembarcar em frente à rua Marquês de Olinda ou na São Clemente.
A Companhia Nichteroy-Inhomirim, contudo, não conseguiu resistir à concorrência da Barcas Ferry, que fazia as viagens em muito menos tempo e com mais conforto, e encerraria suas atividades em 1865, três anos sómente após a entrada da concorrente no mercado. A Cia. de Barcas Ferry, por sua vez, se fundiria em 1889 com a Empresa de Obras Públicas no Brasil, a nova empresa passando a se chamar Companhia Cantareira e Viação Fluminense, a qual dominaria o transporte marítimo na Baía da Guanabara até os anos 50, sendo famosa pela péssima qualidade dos serviços em seu período final, fato que levou em 1959 à Revolta das Barcas, com diversos incêndios, mortos e destruição da estação de barcas de Niterói.
A utilização do transporte marítimo em uma cidade banhada pelo mar como o Rio de Janeiro é uma opção óbvia, e, como por se depreender do pequeno resumo histórico acima, era isso mesmo que se pensava no século XIX, quando surgiram essas iniciativas. Mas, durante o século passado, principalmente após a Segunda Guerra, procurou-se tudo sucatear em favor do transporte rodoviário, uma opção estúpida que deixou o país sem uma infraestrutura de transporte adequada à suas dimensões, gerando uma carência responsável por boa parte do famoso "custo Brasil", pago por todos cotidianamente. Assim, por exemplo, em um primor de irracionalidade, são frequentemente enviadas mercadorias em caminhão do Rio Grande do Sul ao Pará, por falta de uma opção eficiente de transporte por cabotagem.
O transporte marítimo também poderia ser uma excelente opção a nível urbano, pois hoje em dia existem embarcações do tipo catamarã que enfrentam com facilidade o mar aberto, como por exemplo entre a Espanha e o Marrocos ou entre a Dinamarca e a Suécia, que poderiam ligar a Barra ao Centro ou a outros pontos da baía de Guanabara, ou quem sabe até o Rio a Cabo Frio. Todas essas soluções, assim como a modernização do transporte ferroviário, são possíveis, e poderiam representar um avanço na qualidade dos serviços ao resgatar uma parte do atraso e da pobreza que representa o transporte rodoviário, imposto há décadas a toda população como única opção.

A Ressaca


Quarta, 12 Setembro 2012 10:36

A Ressaca

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Quase todas as obras feitas ao longo do litoral do Rio de Janeiro, principalmente entre o centro e a zona sul, tiveram como denominador comum o fato de que o mar era cada vez mais afastado do convívio com os habitantes. No começo do século passado, durante a administração Passos na prefeitura, fizeram-se vários aterros que retificaram a linha costeira do centro até Botafogo, onde se abriu a avenida Beira-Mar. Desapareceriam o Cais da Glória, a praia do Russel, e no Flamengo o mar ficou mais distante das casas, apesar de ainda poder ser ouvido e percebido pelo olfato. Após o Aterro, contudo, tem de se andar muito para chegar até a água, a qual não pode ser mais vista como antigamente.
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Ressaca na Praia do Flamengo, no começo do século passado
(Revista Eu Sei Tudo, 1919)
A mania dos aterros continua até hoje, e parece que existe uma compulsão incontrolável de colocar sempre mais alguma coisa junto ao mar, que com certeza irá prejudicar a vista. Além de não ser visto, a não ser que se esteja no alto de um prédio, seu distanciamento também privou os cariocas de seu aspecto mais imprevisível, as ressacas, que periódicamente deixavam sua marca. O poder destrutivo das águas, que, insufladas pelo vento, invadiam ruas e casas, causava grande transtorno, mas ao mesmo tempo atraía a curiosidade de muitos, que se arriscavam para ver o flagelo das ondas.
Muitas ressacas aconteceram na história do Rio, castigando tanto o centro como as praias da zona sul e o interior da baía, sendo consideradas como mais uma entre as várias fatalidades cotidianas, como enchentes, resfriados, impostos ou a morte. Sua familiaridade pode até mesmo ser constatada no romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, onde Escobar, o amigo da onça de Bentinho, o Dom Casmurro, enfrentava com destemor as ondas da Praia do Flamengo, até o dia em que estas levaram a melhor e ele morreu afogado. Nessa época, em torno de 1870, poucas pessoas se aventuravam no mar bravio, que se chocava violentamente contra o paredão de pedra próximo às moradias da praia, substituído por outro após a construção da Av. Beira-Mar, agora em local mais distante.
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Parte da antiga muralha à beira-mar na esquina da Praia do Flamengo
com rua Almirante Tamandaré, exposta em obras no ano de 1998, e
provávelmente contemporânea à ação descrita no romance
D.Casmurro, de Machado de Assis (foto do autor).
Nada disso mais existe, e só em ressacas excepcionais algumas praias são atingidas, como Ipanema e principalmente o Leblon, por conta de sua faixa de areia estreita. É conveniente que não tenhamos mais nossa rotina prejudicada por tal acontecimento natural, mas, ao evitarmos esse contratempo, também perdemos o contato com uma das mais importantes características da vida carioca, presente ao longo de toda sua história.
Ir à praia é muito bom, mas sempre que possível deveria ser restituída a vista do mar, como se fez recentemente na Praça XV, com a desativação de um infeliz estacionamento de automóveis existente ao lado da estação das barcas que impedia sua visão. Iniciativas nesse sentido podem trazer de volta um pouco da convivência com esse elemento tão indissociável de nosso passado e sempre inspirador de uma admiração inesgotável.

O Chafariz das Lavadeiras


Quarta, 19 Setembro 2012 10:47

O Chafariz das Lavadeiras

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Tiradentes é, sem sombra de dúvida, um dos personagens de maior destaque de nossa história, e sua notoriedade se equipara a de Pedro Álvares Cabral, D. Pedro I ou D. Pedro II. Sua grande estima está ligada ao heroísmo ao abraçar uma causa antiautoritária, cuja defesa teve de pagar com a própria vida, tornando-se assim um modelo a inspirar todos que, em algum momento, foram ou são colocados em situações semelhantes.
Mas o indivíduo Joaquim José da Silva Xavier possuía facetas menos conhecidas, que ficaram em segundo plano por conta de seu envolvimento na Inconfidência Mineira. Além de militar e dentista, como denota o apelido, Tiradentes também formulou propostas no campo da engenharia, sendo a mais conhecida a que visava melhorar o abastecimento de água no Rio de Janeiro.
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Chafariz das Lavadeiras no Campo de Santana durante o século XIX
trazendo água do rio Maracanã, idéia original de Tiradentes
Durante a segunda metade do século XVIII, a maioria da população obtinha sua água a partir do sistema de captação do rio Carioca, distribuída principalmente nos chafarizes da Carioca, Glória e Praça XV. Para quem morava no Campo de Santana, contudo, isso era mais difícil, pois se tinha de ir até o Largo da Carioca ou então transportar em barco, através do mangue de São Diogo, a água da Bica dos Marinheiros, tarefa desgastante e pouco produtiva. Tiradentes então propôs a captação das águas do rio Maracanã, e seu transporte por tubulação até o Campo, idéia considerada completamente louca para a mentalidade tacanha da época, não sendo levada adiante.
A chegada da côrte portuguesa em 1808, contudo, resultou no aumento súbito da população e na necessidade de urbanizar e incorporar novas áreas à cidade, colocando em primeiro plano a questão do abastecimento d'água, e, para tal, D. João solicitou ao seu intendente de polícia, na verdade com poderes de prefeito, que resolvesse o problema. Paulo Fernandes Vianna logo tratou de reforçar o abastecimento do chafariz do Lagarto, através do aqueduto do Rio Comprido, tendo também construído um novo chafariz próximo, chamado de chafariz do Rio Comprido. Ambos ainda existem, e ficam na rua Frei Caneca.
Para atender com mais rapidez a população em torno do Campo de Santana, foi construída uma calha em madeira que levava as águas captadas até um chafariz de madeira no meio do Campo, com dez bicas, inaugurado em 1809. As águas do rio Maracanã, contudo, teriam de aguardar a construção da longa tubulação e de um novo chafariz de pedra no local, inaugurado em 1818.
O chafariz das Lavadeiras, como ficou conhecido, era uma obra antes funcional que bela, tendo uma forma cilíndrica de onde saíam 22 bicas, além de pias utilizadas pelas lavadeiras, e outras menores para os animais. Foram colocadas oito colunas rodeando o chafariz, duas a duas, e era comum em noites de calor os estudantes o transformarem em piscina, sendo enxotados pela polícia. Após anos de intenso uso, foi reformado em 1839 e continuou em serviço até 1873, quando foi demolido durante a reforma do Campo feita pelo paisagista francês Glaziou, por ser considerado muito feio.
O velho chafariz se localizava onde é hoje a pista que segue no sentido Centro da Av. Presidente Vargas, próximo à passagem subterrânea incorporada ao metrô nos anos 70, pois o Campo de Santana, até a construção dessa avenida, se estendia até a outra pista, próximo ao atual monumento a Caxias. Por décadas o chafariz serviu à cidade, como havia imaginado Tiradentes mais de 30 anos antes de sua construção, uma amostra do quanto poderia ter sido feito em um Brasil independente, sonho dos Inconfidentes e de muitos brasileiros de então.

A Ilha Fiscal


Quarta, 26 Setembro 2012 09:51

A Ilha Fiscal

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O desenvolvimento econômico do Brasil no século XIX, especialmente durante o governo de D. Pedro II, fez com que se multiplicassem as trocas comerciais com vários países, principalmente os europeus. Como nessa época toda riqueza circulava através da via marítima, não cessava de aumentar a quantidade de navios que chegavam e partiam da Guanabara, pressionando mais ainda o sistema de fiscalização aduaneira, que estava longe de ser eficiente.
Carregamentos de café sem fim, constituindo o grosso das exportações, e diversos bens de consumo importados deviam ser inspecionados cotidianamente, pois sua tributação constituía uma das principais fontes de renda dos cofres públicos, pois haviam poucos impostos, comparado às dezenas de modalidades atuais que sangram o bolso dos contribuintes, quase nada dando em retorno.
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Ilha Fiscal no final do século XIX, belo e singular projeto do engenheiro
Adolfo José Del Vecchio
A pressão pelo aumento da fiscalização aduaneira fez com que se investisse na ampliação dos recursos materiais e humanos destinados à atividade, e uma das iniciativas foi a utilização de uma ilhota rochosa perto da Ilha das Cobras, chamada de Ilha dos Ratos. O rochedo foi arrasado e aplainado, sendo instalado no local um depósito de materiais e um armazém aduaneiro.
No período final da monarquia foi decidida a construção de um prédio nessa ilhota, destinado se tornar o quartel dos guardas da Alfândega. O projeto escolhido foi do engenheiro Adolfo José Del Vecchio, e o singular edifício de estilo gótico ficou ainda mais destacado pela sua colocação em uma ilha, cercado pelas águas. As obras transcorreram de 1887 a 1889, sendo com frequência visitadas pelo imperador D. Pedro II, que ia ver o progresso dos trabalhos e aproveitar para tomar água de côco proveniente dos coqueiros plantados pelo engenheiro no começo da obra.
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Cardápio das iguarias oferecidas aos convidados do Baile da Ilha Fiscal
em 9 de novembro de 1889
A Ilha Fiscal, contudo, é mais conhecida por ter sido o local do último baile do antigo regime, ocorrido em 9 de novembro de 1889 como uma homenagem ao Chile, representado pelos oficiais de sua armada que haviam recentemente chegado. A festa criou grande expectativa na côrte, sendo muito concorrida. Dançou-se a noite toda com empolgação, e foi oferecido aos convidados um variado e rico bufê, além de diversas bebidas. O baile só terminaria ao raiar do dia. Dentre os presentes estavam vários comandantes militares, muitos já envolvidos nas conspirações do golpe vindouro que, daí a menos de uma semana, daria origem à República brasileira.
A Ilha Fiscal — que hoje não é mais uma ilha, pois está ligada à Ilha das Cobras — tornou-se símbolo involuntário do último suspiro do Império brasileiro, sensação de algum modo enfatizada pela silhueta bela e singular do prédio no meio da baía, de onde ainda parecem reverberar os acordes daqueles tempos de outrora.

A Casa do Major


Quarta, 03 Outubro 2012 13:34

A Casa do Major

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A antiga Praia do Russel, pequena enseada logo após o outeiro com sua conhecida igreja, é dominada pela silhueta volumosa do Hotel Glória, construído durante o século passado. Inicialmente apenas um caminho com algumas casas, só ganharia uma rua em 1870, quando o local já era então conhecido como Russel. Mas qual a origem desse nome estrangeiro?
John Frederik Russel foi um britânico que aqui chegou e acabou como major da Guarda Nacional, tornando-se mais um estrangeiro a ceder aos encantos da terra, transformando-a em seu lar definitivo. Sua perspicácia e espírito empreendedor, contudo, acabaram fazendo com que contribuísse para uma grande melhora na qualidade de vida dos habitantes da cidade.
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A casa do major Russel em 1915, exatamente onde seria construído
o Hotel Glória
Pouco satisfeito com o sistema de eliminação de dejetos, que eram carregados à noite pelos escravos em recipientes chamados "tigres" e jogados nas praias, Russel, que nessa época (1855) estava na Casa de Detenção, resolveu fazer um experimento de coleta de dejetos através de canalização subterrânea, e os resultados o encorajaram a requerer o direito de explorar um sistema semelhante em todo Rio de Janeiro, recebido dois anos depois.
O major, contudo, não conseguiu o capital necessário para a empreitada, e terminou por transferir a concessão para a empresa The Rio de Janeiro City Improvements, conhecida doravante como City, que pôde inaugurar o serviço em 1864. Os dejetos eram conduzidos pelos esgotos até a estação de tratamento da companhia, que ficava junto ao Outeiro da Glória, sendo aí colocados em barcos que os levavam até o meio da baía, onde eram despejados. Processo inadmissível hoje em dia, mas que representou grande progresso na época.
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Hotel Glória, símbolo do século XX e cenário constante na história republicana
da antiga capital
Apesar da inovação ter sido colocada em prática pela empresa britânica, o nome de Russel ficou perenemente associado ao novo serviço, continuando ele como morador notório do bairro que agora levava seu nome. Sua casa ficava exatamente onde é o Hotel Glória, inaugurado em 1922 para atender à demanda por uma hospedagem de alto nível durante a Exposição do Centenário, montada próxima à Praça XV.
Passando no momento por grande reforma, o hotel se tornou símbolo da Glória do século XX, junto com o representante mais belo e célebre, a Igreja da Glória do Outeiro, cuja construção atual é do século XVIII, e o major Russel, sobrevivendo só em nome, mas que, como pioneiro no saneamento da cidade do Rio, foi o personagem do século XIX mais importante desse pequeno e histórico bairro.

A Chácara da Bica


Quarta, 10 Outubro 2012 09:43

A Chácara da Bica

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Dominando o cenário da Lapa há quase duzentos anos, o Convento de Santa Teresa é um dos símbolos mais conhecidos do Rio, formando um conjunto histórico notável junto com outra obra famosa e contemporânea sua, os Arcos, antigo aqueduto da Carioca.
O convento, na verdade, sucedeu a um templo mais antigo, a Ermida de N.Sª do Desterro, construída por Antônio Gomes do Desterro em 1629, que deu o primeiro nome ao morro de Santa Teresa, então chamado de Desterro. A ermida teve grande importância durante a invasão francesa de 1710, pois foi o primeiro lugar a combater o invasor, que buscava o centro da cidade pelo caminho de Matacavalos (rua do Riachuelo). Acabaria derrotado e preso.
vista_muratori

Vista de 1915 da área próxima a antiga Chácara da Bica. À direita está o Convento
de Santa Teresa, e à esquerda vê-se os morros de Santo Antônio e do Castelo,
já tendo perdido uma parte com a abertura da Avenida Rio Branco, onde podem
ser vistas as silhuetas do Teatro Municipal e da Biblioteca Nacional. A rua mais
próxima abaixo da ribanceira de onde está um homem é a Muratori.

Algum tempo depois, o local hospedaria os capuchinhos italianos, lá permanecendo até 1739. Sua peregrinação só terminou — por algum tempo — quando tiveram casa própria, o Hospício dos Barbonos, na atual rua Evaristo da Veiga. A missa dos barbadinhos era bastante concorrida, e uma das devotas mais assíduas chamava-se Jacinta, filha de José Rodrigues Aires. Dotada de extremo fervor e acometida por visões religiosas, aspirava a uma vida de clausura e recolhimento dedicada a Deus.
Acontece que em suas idas às missas dos barbadinhos, Jacinta reparou em uma chácara abandonada em Matacavalos, a qual, cercada pela vegetação, parecia se adequar perfeitamente às suas idéias de recolhimento. Pediu a um tio que a comprasse, ele o fez, e para lá ela foi se encerrar levando uma imagem do Menino-Deus, acompanhada tempos depois por sua irmã Francisca. Vendendo suas jóias, Jacinta conseguiu o dinheiro para a construção de sua ermida, e, em 1743, era benzida a Ermida do Menino-Deus.
Com o passar do tempo, Jacinta e Francisca receberam a adesão de outras mulheres, já em número de doze quando foram visitadas pelo governador Gomes Freire que, comovido com as duras condições de vida assim como com sua dedicação, decidiu lhes construir um novo convento ao lado da Ermida do Desterro. Em 1751 as religiosas já puderam se mudar para a nova casa. Jacinta desejava que fosse praticada a regra de Santa Teresa, mas o assentimento das autoridades eclesiásticas para tal só viria muito depois, em 1780.
A Capela do Menino-Deus foi abandonada por muito tempo, sendo reconstruída em 1920 pelas carmelitas de Santa Teresa com o auxílio da Sociedade São Vicente de Paulo, e está presente até os dias atuais como um marco histórico de importância. A região da antiga Chácara da Bica foi loteada ao longo do tempo, abrindo-se no local ruas bastante conhecidas, como a Muratori e a Sílvio Romero, sempre com bastante movimento por constituir um dos principais acessos ao bairro de Santa Teresa. Mesmo com todas essas mudanças, esse local sempre terá sua história associada às religiosas Jacinta e Francisca, que tudo começaram transformando a antiga Chácara da Bica em sua Ermida do Menino-Deus.   

O Santo de Clemente


Quarta, 17 Outubro 2012 12:03

O Santo de Clemente

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Não foi por vontade própria que Clemente José de Matos voltou mais uma vez à Europa em meados do século XVII, época em que tal viagem ainda representava grande risco. Havia retornado de Coimbra não fazia muito tempo, trazendo em sua bagagem o título de bacharel em Direito, e iniciado a carreira de advogado na cidade do Rio de Janeiro. Segundo dizem, envolveu-se em escândalos amorosos, e, perseguido pela Inquisição, voltou às pressas ao Velho Continente. Foi direto à Roma, se ajoelhou perante o Papa e conseguiu o perdão, sendo, além disso, ordenado padre, voltando tempos depois ao Rio.
Homem de grande competência e conhecimento, o agora Padre Clemente de Matos também pertencia a família importante, pois seu avô, capitão Antônio Martins de Palma, havia construído a ermida de N.Sª da Candelária, origem do templo atual, e amealhou várias propriedades durante sua vida. O Padre Clemente herdou uma delas, uma enorme área que incluía quase todo o atual bairro de Botafogo, que foi chamada de Quinta de São Clemente.
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Um bonde da Cia. Ferro-Carril do Jardim Botânico passa pela tranquila
rua São Clemente de cem anos atrás. O nome da rua é a lembrança
de uma capela do século XVII que não mais existe
Lá foi construída em 1685 uma capela dedicada a São Clemente, existindo um caminho dentro da propriedade que ia desde a praia até ela. Falecendo o padre Clemente em 1702, a grande quinta foi sendo progressivamente dividida pela partilha entre herdeiros, além da venda a terceiros, como Pedro Fernandes Braga e o oleiro Francisco de Araújo Pereira, dono da chácara da Olaria, vendida posteriormente a Joaquim Marques Batista de Leão, o velho, cuja lembrança persiste no Largo dos Leões, no Humaitá. O terreno da chácara da Olaria se estendia até a lagoa Rodrigo de Freitas.
Em 1801, um dos últimos vice-reis do Brasil, D. Fernando José de Portugal, solicitou aos herdeiros que cedessem para uso público o caminho que dava acesso à capela, para que se pudesse ter uma comunicação mais direta com a Lagoa, bem melhor que aquela que acompanhava o rio Berquó, onde é a atual rua General Polidoro. Houve concordância, e assim nasceu a rua São Clemente.
Originalmente, o nome da rua abrangia a extensão que ia da praia até a Lagoa, mas a partir de 1868, o trecho do Largo dos Leões até o final passou a se chamar Rua do Humaitá, em lembrança do famoso episódio da Guerra do Paraguai; o trecho principal também sofreu as tradicionais ingerências políticas, tendo seu nome mudado para Raul Pompéia em 1895 e Rui Barbosa em 1917, para voltar à denominação original em 1922, que persiste até hoje.
Como a capela do padre Clemente, construída há quase 250 anos e reedificada em 1772, e que se localizava no antigo número 110, já desapareceu, o nome de São Clemente é a única ligação restante com uma história envolvendo paixões humanas e devoção religiosa no século XVII, que acabaria por definir a evolução do conhecido bairro de Botafogo. 

O Velho Mercado


Quarta, 24 Outubro 2012 11:47

O Velho Mercado

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Durante milhares de anos, e ainda hoje em muitos países do mundo, o mercado continua sendo o centro da vida da maioria das cidades, onde se obtém todo tipo de gênero, desde alimentos até utensílios domésticos, roupa, e tudo o mais. Em vários centros africanos, as feiras ao ar livre em sua grande agitação transformam-se no turbilhão das trocas sociais, pelo menos para a maioria, como genuíno motor da economia, distante da tradicional corrupção das elites desse continente.
Esse acontecimento, o mercado, que pode ser diário, semanal ou com outra freqüência, também esteve presente por séculos no Rio de Janeiro, práticamente desde sua fundação, e mais particularmente a partir do momento em que a cidade começou a se expandir na várzea que ia desde o Castelo até São Bento, no início do século XVII.

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O velho mercado de Grandjean de Montigny na Praça XV no início do século passado.
No centro estão os pavilhões metálicos junto à rampa onde os barcos descarregavam.
O chafariz à esquerda foi colocado no lugar do Monroe, na Cinelândia, também destruído.
Já em 1636, a Câmara havia delimitado uma área onde os pescadores poderiam vender suas mercadorias, entre a Praça XV e a atual Rua da Alfândega, no trecho chamado de Praia do Peixe. A região tornou-se o centro comercial, com a presença de vendedores com todo tipo de hortaliças, vindas por mar de vários pontos do litoral da baía de Guanabara. As pobres e sujas barracas continuaram abastecendo a cidade por quase dois séculos, com a única mudança ocorrendo durante o governo do vice-rei D. Luís de Vasconcellos, que aproveitou a reforma feita no Largo do Paço (Praça XV), com calçamento e mudança do chafariz, para melhorar a situação das barracas de venda de peixe, dando alguma organização ao caos reinante.
Para a época colonial, tal situação era completamente satisfatória, mas após a chegada da Côrte, em 1808, tornou-se cada vez mais incômoda. Após a Independência, e já no segundo Império, tornou-se intolerável. A presença dessa confusão e imundície no centro da capital era incompatível com as aspirações de progresso e auto-estima da sociedade da época. Algo precisava ser feito.
Em 1834, a Câmara resolve construir um novo mercado, e entrega o projeto aos cuidados de Grandjean de Montigny, arquiteto francês que veio ao Brasil na Missão Artística Francesa de 1816. A planta feita pelo mestre mostrava um edifício quadrangular de dois andares com quatro entradas, uma delas pelo Largo do Paço. O projeto original incluía dois andares, mas no estágio inicial foi feito sómente o térreo, a parte superior foi adiada. O piso do mercado era de lajes de pedra, e em seu centro havia um belo chafariz, formado por uma bacia circular e tendo uma parte central de onde a água saía pela boca de quatro golfinhos, se projetando a partir daí uma pirâmide encimada por um ouriço de bronze.

chafariz_mercado

O belo chafariz do mercado, em desenho do século XIX. Desapareceu junto com
o prédio.
Os dois trechos que davam para o Largo do Paço foram concluídos em 1835, e o restante em 1841. Em 1869, a Câmara decidiu arrendar o mercado a um particular, e dentre as obrigações deste constavam a construção de um segundo pavimento sobre os já existentes e mais dois pavilhões de metal entre o mercado e o mar, onde os barcos descarregavam os gêneros. Esses pavilhões sofreram incêndios duas vezes, em 1876 e 1899.
No final do século XIX, a Prefeitura optou por novo mercado na Praia D. Manuel, cuja inauguração aconteceu em 1907, causando, quatro anos depois, a demolição do mercado de Grandjean de Montigny. Hoje, todos dois mercados foram destruídos, sendo que nenhum deles conseguiu completar sequer 100 anos de existência. Duas obras históricamente importantes que poderiam ter sido conservadas e transformadas em centros comerciais e culturais modernos, ainda que conservando sua aparência original, tal como aconteceu em várias cidades européias, onde a valorização do patrimônio e do ambiente urbano é uma constante.

Rua Senador Dantas


Quarta, 31 Outubro 2012 09:19

Rua Senador Dantas

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No começo, havia a lagoa do Boqueirão, com suas águas estagnadas e cheias de mosquitos, no local onde, no final do século XVIII, seria construído o Passeio Público, primeiro parque de lazer da cidade que, bem ou mal, sobrevive até hoje. Ao redor, uns poucos e pobres casebres, pois ninguém ali queria morar, na verdade só se passando para ir à zona sul, pois era uma das duas opções, sendo a outra o caminho da Ajuda ao Desterro (Evaristo da Veiga), para pegar a seguir a rua das Mangueiras, alcançar a Lapa e seguir adiante.
Tudo mudaria a partir de 1745, com a construção do Convento da Ajuda, inaugurado 5 anos depois, que abrangia toda a área da atual Cinelândia. O convento foi a realização do desejo de uma viúva chamada Barbalho, que no século anterior desejou recolher-se com suas duas filhas, não existindo contudo nenhuma instituição do gênero. Ela se ofereceu para construí-lo, mas o processo demorou muito, e a autorização foi concedida sómente em 1705. A viúva, portanto, já havia falecido há muito quando foi inaugurado.
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Rua Senador Dantas, aberta à força em 1886 na antiga horta do Convento da Ajuda
As freiras da Ajuda ficaram conhecidas como exímias doceiras, recebendo grandes encomendas quando dos muitos festejos do tempo. O outro lado do convento, menos alegre, é que era o local preferido para o qual filhas desobedientes eram mandadas, principalmente as que recusavam o noivo escolhido, podendo ficar para sempre lá trancadas. Esposas que causassem problemas e incomodassem os maridos também poderiam seguir o mesmo caminho.
A esses dois aspectos conhecidos do convento soma-se outro, que foi a defesa acirrada de seus direitos, e as longas demandas judiciais nas quais a instituição envolveu-se ao longo da história, principalmente em questões de terras. O prédio se estendia longitudinalmente desde a esquina onde é o cinema Odeon até a atual Evaristo da Veiga, e lateralmente seu terreno ia até pelo menos a metade do caminho até a rua das Marrecas. Este trecho compreendia terras disputadas aos herdeiros de Antônio Caminha, o Ermitão da Glória, dando a justiça ganho de causa às religiosas.
No século XIX, principalmente durante o segundo Império, o desenvolvimento material se acelerou, com diversas inovações, inclusive na área do transporte. Até meados do século, os principais veículos eram ônibus de tração animal e gôndolas, pequenos ônibus com capacidade para 9 pessoas. Tal como a maioria ônibus atuais, eram desconfortáveis por conta dos muitos solavancos causados pelo pavimento irregular (em vez da atual estupidez do motorista), ainda de terra em muitos trechos. Tudo mudou com a chegada dos bondes, que, apesar de serem puxados por burros ou cavalos, ofereciam um conforto sem precedentes, pois rolavam suavemente sobre trilhos. Pode não parecer muito, mas para a época fez uma grande diferença.
À primeira linha, de 1859, ligando o Centro à Tijuca, que não durou muito, sucedeu-se, em 1868, o primeiro serviço verdadeiramente regular. Em 9 de outubro desse ano começavam a circular os bondes da Botanical Garden Rail Road Company, empresa de capital estrangeiro com sede nos Estados Unidos. O serviço iniciou com os carros partindo da esquina das ruas do Ouvidor com Gonçalves Dias, e indo até o Largo do Machado. O grande sucesso fez com que fossem criadas várias companhias a seguir, construindo-se aos poucos a maior rede de transporte do país.
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Tabuleiro da Baiana, terminal dos bondes para a Zona Sul, que passavam a seguir
pela rua Senador Dantas. Foi construído em 1937. Ao fundo, o Morro de Santo
Antônio, e à esquerda a rua.
O crescimento levou o deslocamento do terminal das linhas da Botanical Garden (futura Jardim Botânico) para o Largo da Carioca, onde havia um loop pelo qual os bondes retornavam para a zona Sul. O caminho a seguir passava pela rua da Guarda Velha (13 de maio) Ajuda, Passeio, Lapa e assim por diante. Nos anos seguintes, o movimento intenso tornava cada vez mais difícil a passagem pela rua da Guarda Velha, único caminho adiante. Veículos parados obstruíam o tráfego, e uma carroça com roda quebrada podia significar horas de atraso, como retratado no conto de Machado de Assis A Cartomante, onde Camilo, o adúltero, aproveita o engarrafamento para consultar a cartomante, na mesma rua.
A situação tornava-se cada vez mais aguda, o que acabou levando, em 1886, um grupo popular a derrubar à força o muro do convento próximo à rua dos Barbonos, abrir e cordear uma rua até o Passeio, através da horta do convento da Ajuda. As freiras protestaram, mas não puderam evitar. Foi dado o nome de Senador Dantas à nova via, em homenagem a Manuel Pinto de Sousa Dantas, que propôs ao congresso a Lei dos Sexagenários em 1884, libertando todos escravos com mais de sessenta anos.
O novo caminho passou a ser utilizado pelos bondes até seu fim, no começo dos anos 60, e novas construções foram aos poucos povoando a rua. Mas o episódio marcou todos ligados ao convento, e foi certamente um dos fatores que levou à decisão de vendê-lo tempos depois, em 1911, pois a abertura da Av. Rio Branco terminou por acuar pelos dois lados a vidas das religiosas. O desaparecimento do convento, vítima dos novos tempos, foi uma grande perda para o patrimônio, dado o valor histórico da antiga construção de 1750.

A Garagem de Santo Antônio


Quarta, 07 Novembro 2012 09:30

A Garagem de Santo Antônio

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A introdução da tração elétrica nos bondes do Rio de Janeiro, em 1892, significou um tremendo salto de qualidade na história do transporte carioca. Agora, as viagens poderiam ser feitas com mais rapidez, e, além disso, ia desaparecendo do ar o cheiro de estrume com a aposentadoria dos animais de tração, que teriam seu merecido descanso.
A primeira empresa usar a eletricidade foi a Companhia Ferro-Carril do Jardim Botânico, o que era esperado, pois dispunha de mais recursos. Mas a segunda companhia a adotar a nova tecnologia, a Companhia Ferro-Carril Carioca, foi até certo ponto uma surpresa, pois tinha linhas exclusivamente no bairro de Santa Teresa, e era bem menor que outras, como a de São Cristóvão ou Vila Isabel. A inauguração do novo sistema ocorreu em 1º de setembro de 1896, e, além dos bondes elétricos, os passageiros foram brindados com uma grande atração extra.
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Bondes de Santa Teresa na garagem do Morro de Santo Antônio,nos
últimos tempos da da Cia. Ferro-Carril Carioca, começo dos anos 60.
Até essa época, o acesso a Santa Teresa era feito principalmente de duas maneiras: pela rua Monte Alegre, rota usual das diligências, e pelo Plano Inclinado, a partir de 1877, cujo embarque ficava na rua do Riachuelo junto à Ladeira do Castro, levando os passageiros até próximo ao Largo do Guimarães. Ao lá chegar, embarcava-se em bondes de tração animal para ir a Paula Matos ou em direção ao França e Silvestre. A tração elétrica, contudo, abriu uma nova e excitante possibilidade: uma vez que o velho aqueduto da Carioca (os arcos) encontrava-se desativado, pois a maior parte da água então consumida provinha do Rio d'Ouro, porque não utilizá-lo para acessar o morro de Santa Teresa?
Obtidas as devidas autorizações, tal foi feito, e é aliás pelo fato de que esses bondes passam pelos arcos que possuem a incomum bitola de 1,10m, largura máxima possível dadas as limitações da antiga construção. A estação de partida foi instalada no Largo da Carioca, inicialmente entre o prédio da Imprensa Nacional e o chafariz da Carioca, que se localizava próximo à saída Santo Antônio do metrô. Os bondes a seguir iam subindo uma ladeira pelo morro de Santo Antônio para alcançar os arcos, cuja travessia arrepiou os pelos da nuca dos primeiros passageiros.
Próximo à linha no morro de Santo Antônio foi instalada a garagem da Cia. Ferro-Carril Carioca. Com bastante espaço para abrigar os muitos veículos, bem mais que atualmente, pois além das unidades motorizadas haviam reboques, a velha garagem prestou serviços até a destruição final do morro, aproximadamente em 1965. Ela pode ser vista em trechos do filme de Marcel Camus Orfeu Negro, de 1959, onde o personagem principal é funcionário da empresa de bondes. Na verdade, a película mistura cenas da garagem da Ferro-Carril Carioca com bondes da Jardim Botânico (Light) na Cinelândia.
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Bonde de Santa Teresa chegando no Largo da Carioca, com a estação ainda
localizada no edifício da Ordem Terceira da Penitência, na esquina
da rua da Carioca. Ao fundo, o Tabuleiro da Baiana.
Com o desaparecimento do morro de Santo Antônio, a garagem dos bondes de Santa Teresa passou a funcionar nas instalações da estação do antigo plano inclinado, no final da rua Carlos Brandt, e lá continua até hoje. O trecho da rua que vai do Largo do Guimarães até a garagem também foi utilizado em outro filme, este de Carlos Hugo Christensen, Crônica da Cidade Amada, de 1964, no episódio A Morena e o Louro, onde os bondes ainda estão pintados de verde, côr da Cia. Ferro-Carril Carioca.
O desmonte do morro de certo modo marcou o início da decadência do sistema de bondes do bairro, acelerado pela entrada funesta da CTC (Companhia de Transporte Coletivo – empresa estadual) na administração do sistema. As chuvas de 66 e 67 destruíram grande parte das linhas, e nessa época foram introduzidos os ônibus no bairro pela infeliz CTC, enormes monoblocos Mercedes que acabaram causando a retirada dos reboques de circulação, pois se encontrassem um bonde com reboque em algumas das muitas curvas fechadas, não seria possível passar.
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Garagem do morro de Santo Antônio, com os bondes já com as cores da CTC,
em 1965: o início de uma longa decadência.
Quase 50 anos depois, está tudo abandonado, sendo feitas muitas promessas para a recuperação, mas que até o momento não se concretizaram. A longo do tempo, uma série de atitudes infelizes fizeram com que a situação dos bondes só fizesse piorar, incluindo a substituição ilegal do mecanismo de tração original, tombado pelo patrimônio histórico, por um sistema inadequado que acabou causando acidentes com mortes. Isso se somou aos trilhos em péssimo estado, substituídos em 1978-79 por uma verdadeira gambiarra feita por dois trilhos de trem de cada lado, ao invés dos trilhos de fenda utilizados pelos bondes, que, além de serem inadequados, fizeram com que a pista em torno dos trilhos ficasse totalmente irregular, pois o perfil baixo dos trilhos de trem faz com que o pavimento afunde, e os dormentes acabam formando as famosas "costelas de vaca". Some-se a isso o roubo da fiação aérea entre o Corpo de Bombeiros e o Silvestre, dentre as muitas tragédias, para se ter uma idéia do desprezo e descaso de várias administrações sucessivas de prefeitos, governadores, etc, que usam sem hesitar a imagem do bonde em suas propagandas quando lhes interessa, mas que logo a seguir ignoram completamente sua existência.
Melhor destino merecia aquele que é o único sistema de bondes com bancos em platéia sobrevivente do mundo, e um dos símbolos mais conhecidos desta cidade.

A Casa da Princesa


Quarta, 14 Novembro 2012 09:58

A Casa da Princesa

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A rua Pinheiro Machado, em Laranjeiras, é uma das mais movimentadas da cidade, famosa pelos engarrafamentos que vão desde de manhã cedo até altas horas da noite, consequência do acesso ao Túnel Santa Bárbara, inaugurado em 1964. O caos e a poluição transformaram-na em algo irreconhecível aos cariocas de antigamente, que jamais imaginariam tal destino para aquele que era um dos locais mais aprazíveis e tranqüilos da zona sul.
Até meados do século XIX, grandes chácaras dominavam a paisagem, e uma delas pertencia a Domingos Francisco Rozo. Após seu falecimento, a propriedade foi dividida e os herdeiros abriram, em 1853, uma rua em suas terras, que recebeu o nome de Guanabara, em homenagem à conhecida baía. Tiveram o apoio de outro proprietário, José Machado Coelho, abastado comerciante de café da rua São Pedro, no centro.
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Palácio Guanabara: residência da Princesa Isabel de 1865 até o fim do Império,
em 1889
José Machado construiu um palacete em seu terreno em frente à nova rua, que se tornou o principal marco local, por suas dimensões e opulência. Anos depois, em 1865, o Conde d'Eu, marido da Princesa Isabel, o compra, entregando a reforma aos cuidados do arquiteto Jacinto Rabelo, discípulo de Grandjean de Montigny. Nascia o Palácio Isabel.
Após a proclamação da República, a propriedade, assim como vários outros imóveis da família imperial, foram incorporados aos bens da nação. No afã republicano de apagar os vestígios do Império, o prédio passou a ser chamado de Palácio Guanabara. Como residência luxuosa que era, foi destinado ao papel de hospedagem para visitantes ilustres, geralmente chefes de estado. O primeiro hóspede chegaria em 1908, o rei de Portugal D. Carlos I, e para acomodá-lo fez-se uma reforma no palácio. Mas ele não veio, pois foi assassinado em fevereiro desse ano. Novas reformas foram feitas em 1922 para receber mais um monarca, o rei Alberto da Bélgica, que teve uma estadia bastante movimentada, tendo até mesmo escalado o Corcovado. Outras autoridades se hospedaram no Palácio Guanabara, incluindo o presidente americano Herbert Hoover e o de Portugal, José Antônio de Almeida.
O último presidente da República Velha, Washington Luís, passou a utilizar o Guanabara como residência oficial em 1926, dele saindo deposto pelo golpe de estado de 1930, que iniciou o período autoritário que culminaria com o Estado Novo e a ditadura Vargas. Os Integralistas, movimento de inspiração fascista, tentaram invadir o Palácio em 1938, em um golpe articulado com oposicionistas de São Paulo, mas fracassaram, e muitos foram fuzilados.
A tradição do Guanabara como residência presidencial terminaria com o presidente Dutra, que se transferiu para o Palácio do Catete, e, com a mudança da capital a Brasília, em 1960, o palácio tornou-se sede do governo do Estado da Guanabara até a fusão deste com o Estado do Rio em 1974, continuando até hoje.
Apesar de quase tudo ter mudado à sua volta, o Guanabara continua sendo uma bela construção, além de um dos mais importantes cenários da história do Império e da República brasileira, onde tantos episódios marcantes ocorreram ao longo de seus mais de cento e cinquenta anos de existência.

O Lido


Quarta, 21 Novembro 2012 12:25

O Lido

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Durante muito tempo, a expansão da cidade do Rio de Janeiro seguiu duas principais direções: a norte-noroeste, acompanhando os trens de subúrbio, e ao sul ao longo do litoral. O exemplo mais importante da última tendência é sem dúvida o bairro de Copacabana, quase inteiramente despovoado até o final do século XIX, quando empreendimentos imobiliários e a chegada do bonde, além de outros serviços essenciais, deslancharam seu crescimento.
Era necessário organizar a ocupação, e assim os incorporadores, representados principalmente pela Empresa de Construções Civis, definiram, já em 1894, um layout para o novo bairro, posteriormente acrescido de extensões e novas ruas, mas essencialmente o mesmo até hoje. Dentre os logradouros criados e nomeados, figuram duas praças importantes e conhecidas: a Praça Malvino Reis, atual Serzedelo Corrêa, em frente à estação de bondes e na parte mais movimentada, e a Praça 26 de janeiro, conhecida há muito como do Lido. Mas qual a origem de seu nome?
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Praça do Lido nos anos 40. Ao fundo, à esquerda, vê-se o restaurante em uma
casa de estilo normando, construído em 1928. Deu o nome ao local e foi
demolido no começo dos anos 60.
A modernização da cidade, iniciada no começo do século passado, teve em Copacabana sua expressão mais viva, sendo o bairro mostrado como antítese ao centro da cidade, velho e decadente. Esse estado de espírito, predominante na época, fazia com que houvesse uma necessidade premente de mostrar ao mundo que éramos também desenvolvidos, em um esforço de auto-afirmação e negação do próprio passado. Esse sentimento foi também acentuado por dois eventos importantes, as exposições de 1908 e 1922. A primeira, marcando o centenário da abertura dos portos às nações amigas, realizada na Praia Vermelha, apresentou o novo Rio ao mundo, com sua Avenida Central, um boulevard parisiense em pleno trópico. A exposição de 1922, centenário da Independência, foi realizada com a destruição do Morro do Castelo, símbolo odioso aos olhos da burguesia de então, que gostaria de anular a própria história. Contentaram-se, contudo — além de ganhar muito dinheiro — com o fim da mais importante peça do patrimônio histórico, a cidade original do Rio de Janeiro, perdida para sempre.
No intuito de promover a nova imagem e oferecer aos visitantes de 1922 um local em Copacabana para seu lazer, o prefeito Carlos Sampaio construiu na Praça 26 de janeiro o restaurante Lido, além de um posto do Serviço de Salvamento, para prestar socorro às vítimas de afogamento. O restaurante foi substituído em 1928 por uma construção de estilo normando, transformando-se em um dos principais pontos de interesse e lazer do novo bairro, sobrevivendo até 1960. Muitos músicos famosos se apresentaram no local, que também realizava diversos bailes de carnaval. A Praça então já se chamava Irmãos Bernardelli, em homenagem a Rodolfo e Henrique Bernardelli, dois dos mais importantes artistas plásticos do período entre o final do século XIX e início do seguinte e moradores do local.
A Praça dos Irmãos Bernardelli, conhecida por todos como do Lido, continua sendo um dos pontos mais conhecidos, oferecendo um oásis de lazer em um bairro que a especulação imobiliária restringiu tal tipo de área quase que únicamente à areia da praia. Mesmo tendo tudo mudado à sua volta, o Lido pode se orgulhar de uma origem que remonta ao tempo em que Copacabana não era mais que um areal recém descoberto pela cidade.