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domingo, 10 de março de 2013

Granjas e Laranjais


Quarta, 19 Dezembro 2012 08:15

Granjas e Laranjais

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Durante o século XVII, a Câmara emitia as primeiras concessões de terras no vale do rio Carioca, que descia a serra do Corcovado rumo à praia do Flamengo. Os primeiros moradores construíram engenhos e olarias em seus vastos terrenos, que se beneficiavam da abundância de água oferecida pelo rio logo em frente. Em trechos entre as grandes propriedades surgiram granjas, nas quais cresceram abundantes laranjais. Essas plantações deram nome ao bairro de Laranjeiras.
A situação continuou durante o século seguinte, com engenhos e chácaras abastecendo os mercados, e a vida do lugar, uma mescla de campo e cidade, seguia tranqüilamente. Nada seria o mesmo, porém, após a chegada da côrte portuguesa em 1808. A súbita mudança do Rio a capital do reino unido exigiu grandes transformações, com criação de novas estruturas de serviços e remodelação da cidade, elevando-a a um nível condizente com a nova situação.
rua_laranjeiras

A tranqüila e quase campestre rua das Laranjeiras no final do século XIX.
À esquerda passa a céu aberto o rio Carioca.
Os moradores de Laranjeiras tiveram de fazer sua parte no esforço, contribuindo para as obras de melhorias viárias e saneamento. O bairro ficou em evidência por conta da nova casa da rainha Carlota Joaquina, construída próxima ao Largo do Machado, a qual incluía uma pequena capela, que ficava onde é hoje o Liceu Franco-Brasileiro. Com a volta da família real a Portugal, em 1821, a mansão acabaria sendo vendida tempos depois para saldar dívidas da soberana.
Durante o século XIX, o processo de divisão das antigas propriedades continuou, e a cada geração de herdeiros, os novos lotes mudavam de mãos, o bairro assumindo uma feição predominantemente residencial, esquecendo seu passado agrícola. Iam surgindo palacetes, pois o local tornou-se preferido pelos mais abastados, os quais podiam construir suas residências de sonho. Ao longo da rua das Laranjeiras corria a céu aberto o rio Carioca, e as casas do lado esquerdo de quem sobe necessitavam pequenas pontes para cruzá-lo, conferindo uma aparência ainda mais campestre ao bairro. O único trecho aberto remanescente do rio pode ser visto no final da parte plana rua Cosme Velho.
As transformações ocorridas no século passado mudaram completamente o aspecto do bairro, como aliás em toda cidade, que se tornou uma coleção de prédios de apartamento. O trânsito aumentou tremendamente com a abertura do túnel Rebouças e seu acesso no final dos anos 60, trazendo um movimento de veículos que não pertence ao local, degradando o ambiente com barulho e poluição atmosférica. No século atual, em que são questionados os valores que levaram à situação presente da maioria das cidades, abrem-se novas perspectivas de resgate pela colocação em primeiro plano dos valores ligados à vida humana e ao meio ambiente. Em várias cidades européias, há décadas, têm sido adotadas medidas que transformaram completamente o ambiente, incluindo redes eficientes de transporte coletivo, restrição ao tráfego automobilístico, reciclagem de recursos, etc.
Toda cidade, incluindo o bairro de Laranjeiras, muito poderia se beneficiar de mudanças que colocassem em primeiro plano os novos valores acima, resgatando um pouco de seu passado tranqüilo. A diminuição do tráfego poderia mesmo permitir a abertura ao ar livre de trechos do rio Carioca, o qual deu nome à própria terra, e hoje não é mais que uma canaleta subterrânea. É o que ocorreu, por exemplo, com o riacho Cheonggyecheon, que corre pelo centro de Seul, Coréia do Sul, cidade com 10,5 milhões de habitantes, bem mais que o Rio. Nada há que não possa ser feito quando há vontade política, especialmente se pressionada opinião pública.

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