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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

RIO IMPERIAL: ELOGIO AO SOBRADO

Elogio ao Sobrado

02/01/2011 - 20:10
Enviado por: Paulo Pacini
JB


O conceito de cultura possui grande número de definições, e é dos mais importantes para a compreensão da especificidade de uma comunidade.

A natureza gregária do homem levou à criação de cidades, e estas tornaram-se fundamentais em seu desenvolvimento, tornando-se uma das maiores conquistas.

Desde então, sua evolução espiritual se entrelaçou com este cenário, criando paginas únicas da aventura humana.



Na história da civilização brasileira, a casa ocupa lugar de destaque enquanto elemento cultural.

Partindo de formas básicas de abrigo, sua transformação testemunha mudanças seculares nas relações sociais, e a paulatina aglutinação de uma nacionalidade.

Dentre as várias encarnações da morada brasileira, o sobrado tem grande importância, por ser a habitação mais comum nas cidades ao longo do tempo.

Tema da obra Sobrados e Mucambos, de Gilberto Freyre, adaptou-se a diversas condições e materiais, e serviu a diferentes classes.





Belo sobrado na rua Senador Pompeu, já desaparecido (Foto: Ronald Murly)



No Rio, abundantes jazidas de pedra tornaram esta a matéria-prima por excelência, junto com a madeira.

Os terrenos, contudo, em sua maioria tinham pequena testada e grande profundidade, e janelas pequenas dificultavam a ventilação interna.

Apesar disso, durante a colônia os sobrados eram geralmente ocupados pelos mais ricos.

A chegada de D. João e sua côrte em 1808 trouxe novos hábitos, como a influência das residências inglesas com amplos terrenos e jardins, que os abastados não tardaram em adotar.

O sobrado paulatinamente perdia a clientela nobre para mansões e solares, mas tornou-se a residência urbana por excelência.



Mudanças de hábitos e códigos de obras favoreceram a construção de imóveis com boa ventilação e luminosidade, a partir das últimas décadas do século XIX.

A maior parte do conjunto histórico atual é deste período, imóveis de dois a quatro andares, agradáveis à vista e parte da paisagem cotidiana.



Este patrimônio discreto, obra de mestres anônimos em sua arte, é em verdade um dos pilares da tradição carioca e suas ruas, criando uma familiaridade visual e existencial, e ligando-nos com um passado talvez mais humano.

Sobre esse velho companheiro, contudo, pairam ameaças permanentes, especialmente agora, com a especulação imobiliária em alta.

Incêndios misteriosos no centro devoram vários imóveis, que renascem — adivinhem só — como estacionamentos.



Os sobrados são parte vital do patrimônio cultural carioca, e uma ação mais decisiva das autoridades seria fundamental, como a supressão dos estacionamentos no centro histórico, pois sempre que um desses imóveis desaparece, é um pedaço da alma carioca e sua história que também se vai.

Para sempre.



domingo, 2 de janeiro de 2011

MULHER NO PODER: DA PRINCESA ISABEL A DILMA ROUSSEF . . .

Mulher no poder




Sun, 02 Jan 2011 07:26:31 -0200

Panorama Econômico

Míriam Leitão

O GLOBO

Até agora foi evento histórico, minoria estatística, exceção à regra, casos que se contam nos dedos. Mas ao longo das próximas décadas, o processo vai se intensificar e mulher no poder será natural, parte da paisagem. Estamos nos anos 10 do século XXI. A última mulher a nos governar foi nos anos 80 do século XIX. Foi uma longa espera. Nunca mais haverá um intervalo tão longo.

Os homens monopolizaram a presidência durante toda a República e mulheres presidentes foram casos esporádicos em qualquer país, apesar de a figura que representa a República Francesa ser Marianne. O símbolo era feminino como enfeite, à moda dos ícones de liberdade na História antiga. Nunca mais será mera ilustração, não porque temos pela primeira vez uma presidente no Brasil, mas porque assim caminha a humanidade. Estamos no meio da estrada, há sinais espantosos de atrasos, há eventos estimulantes, mas a escolha do rumo já foi feita. Este será o século do desembarque das mulheres no poder político, como o último foi o do avanço sobre o mercado de trabalho.

Nos anos 1940, as mulheres foram convocadas para as fábricas na falta de homens, que tinham ido para a guerra. Os cartazes da campanha americana mostravam uma operária e a frase: "Nós podemos fazer isso". Ao fim da guerra, foram mandadas de volta ao lar. Como na Revolução Francesa, tinham sido convocadas ao combate e depois, descartadas. A Liberdade, Igualdade, Fraternidade valia apenas para os franceses. Elas só puderam votar em 1945. Mas as americanas do pós-guerra não voltaram ao papel antigo. No ano passado, representaram metade do mercado de trabalho. A revista "Economist" recuperou a figura da mulher operária da campanha da época da guerra, e fez uma capa histórica: "Nós conseguimos".


Era 25 de maio de 1871 quando uma mulher ajoelhou-se diante do Senado e assumiu a regência do Brasil. Parecia apenas o cumprimento da regra imperial, mas Pedro II teve que enfrentar resistência para entregar a coroa à filha, conta o historiador José Murillo de Carvalho num programa que fiz na Globonews (pode ser visto no blog http://www.miriamleitao.com/ ). Era um momento tenso. O Imperador patrocinara o envio da proposta de Lei do Ventre Livre e, nos clubes das lavouras e no Parlamento, as elites escravocratas resistiam. Muita gente achou uma imprudência, até porque, aos 24 anos, a princesa Isabel nunca tinha mostrado a mesma vocação para o poder que a bisavó Carlota Joaquina, nem mesmo a da avó Leopoldina que, nos bastidores, tinha participado da Independência.

A princesa regente assumiu o poder duas outras vezes e acabou governando mais de três anos, quase um mandato presidencial. Na terceira e decisiva regência, entrou para a História. O país estava dividido e ela escolheu o lado certo, isso é o mais relevante. Participou ativamente das negociações que levaram à Abolição. Afastou, por outros motivos, um dos grandes obstáculos à Lei Áurea, o Barão de Cotegipe da presidência do conselho de ministros e nomeou João Alfredo, simpático à libertação dos escravos. Que ela conspirava contra a ordem escravocrata se sabia no Palácio, onde seus filhos editavam um jornal abolicionista, considerado subversivo pelos donos de escravos. Naquele distante 1888, foi a última vez que uma mulher governou o Brasil, até o dia de ontem, quando Dilma Rousseff assumiu a presidência.

O que isso significa? Se nada significasse já seria o fim de um monopólio. Mas as batedoras mulheres, o aumento da presença feminina no Ministério são pequenos sinais de que os próximos quatro anos poderão mostrar novos avanços.

Já se pode dizer que não serão suficientes porque o Brasil está muito atrasado. Num ranking feito pelo demógrafo José Eustáquio Diniz Alves com outros pesquisadores, o Brasil está em 110º lugar em presença de mulher no Parlamento com magérrimos 8,8% de parlamentares mulheres. Isso, 77 anos depois de ter tomado posse a primeira deputada federal brasileira, Carlota Pereira Queiroz. Bertha Lutz, grande líder sufragista não se elegeu, ficou como suplente e nunca assumiu, porque depois veio o Estado Novo, no qual ninguém votava, nem era votado, seja homem ou mulher.

No mercado de trabalho, a brasileira já é 44% da População Economicamente Ativa, mas ganha menos e ainda ocupa apenas 14% dos cargos de direção das 500 maiores empresas brasileiras, mesmo assim, mulheres executivas ou empreendedoras começam a fazer parte da paisagem empresarial brasileira.

A jornalista Ana Arruda Callado acha que até hoje os homens não se sentem confortáveis em serem chefiados por mulher. Que se acostumem, não haverá volta. A escritora Rosiska Darcy reclama que se fala da mulher apenas no espaço público, e que a forma certa de olhar é valorizando-se a vida privada. Para ela, fora ou dentro do mercado de trabalho, a mulher tem sido a grande responsável por humanizar a humanidade, ou seja, transformar o recém-nascido, que ela define como "um bichinho", no ser socializado que é levado à escola.

Ana Arruda completa o raciocínio, dizendo que os homens precisam entrar no movimento feminista, e aprender não só a dividir o trabalho, mas dividir a vida. Alguns já entenderam isso, felizmente. Chieko Aoki, do Grupo de Mulheres Líderes, lembra que há dez anos dava palestras para grupos de executivos formados quase só por homens, hoje, há reuniões em que a maioria é mulher.

Avanços há, basta olhar em volta. Mas os atrasos a serem vencidos também são visíveis. O que as mulheres querem é só a igualdade.