Rio -  "Vovó morreu? Chama a Rosário!” Não, ela não trabalha em funerária nem em cemitérios. Rosário de Fátima Nazareth, 57, peregrina por casas e porões do Rio "garimpando", como define sua busca por antiguidades de valor.

É chamada nas mortes porque muitos querem se desfazer de lembranças. Todos os objetos que encontra e avalia de olho como "coisa boa" leva para vender nas feiras do Lavradio, da qual participa desde a fundação, há 16 anos, da Praça 15 e na sua loja na Tijuca.

Melhor amigo: o tempo. Pior inimigo: a internet. “O povo vê gente oferecendo velharia a preços absurdos e acha que vale isso mesmo”, critica.

Essa carioca com olho de lince tem coleção pra lá de inusitada. Desde objetos comuns, como taças e porcelanas, até boneca alemã de 1910 bem maltratadinha que quer vender a R$ 500. Garante que tem comprador.


Foto: João Laet / Agência O Dia
Foto: João Laet / Agência O Dia
“Uma vez comprei por R$ 8 um castiçal de prata de um homem vendendo no chão da rua. Vendi por R$ 800 a um colecionador, que revendeu por R$2.500 em antiquário na Zona Sul”, conta.

Para Rosário, o campo está bom porque as pessoas hoje se desprendem mais: “A gente vai e as coisas ficam. Pra que dar trabalho para os filhos? Deixa com a Rosário”, opina.

Ela começou na profissão, que hoje também é artigo raro, depois que seu marido empresário, rico, faliu.

“A vida toda fui madame. Quando ficamos pobres, precisei me virar”, lembra ela, há 18 anos no ramo. Graças à sua experiência, sabe avaliar bem o valor dos objetos que encontra.

Foto: João Laet / Agência O Dia
Foto: João Laet / Agência O Dia
“Sei se a peça é boa pela dificuldade de ver outra igual. É a raridade. Muitos tentam vender gato por lebre. Às vezes o clima fica tenso, levamos muita tranqueira para ter algo bom”, comenta ela, ressaltando que cada produto vendido tem uma história cheia de sentimento. “Às vezes as pessoas se arrependem e até pedem de volta”.

A única antiguidade com preço tabelado são as moedas. As mais novas, de cruzeiro e cruzado, valem pouco: R$ 1. As mais antigas chegam a R$ 100.

Segundo Rosário, a maior procura é por relógios de parede, rádios antigos, binóculos e óculos de apoio no nariz. Tem coisas que ela pega para si, ‘não aguenta’. Adora biscuit, cristais e pratos.

Pelas suas mãos, já passaram relíquias, como pastas e bengala que pertenciam a Antônio Basílio, que deu nome à rua na Tijuca. Seu filho, professor de História, confisca as moedas mais antigas para colecionar.

Ela já decorou novelas e filmes, como o do Chico Xavier. Mas seu xodó mesmo é fazer a feira do Lavradio. No início, Rosário expunha no chão, na lama. Agora, tem quatro bancas em frente ao hotel Casablanca.

“Isso aqui é minha cachaça, não vivo sem, super astral. Adoro me fantasiar de dama de época, queria que todo mundo da feira se vestisse assim”, sugere.

1 - Quando tem feira do Rio Antigo (Na Lavradio)?
Todo primeiro sábado do mês, mas agora em dezembro haverá edição também no dia 15, por causa do Natal.

2 - São quantos expositores?
Mais de 400. A feira vai da Av. Mem de Sá à Visconde de Rio Branco, das 10h às 19h, e é realizada pela Associação Polo Novo Rio Antigo.

3 - Há outras atrações além da venda de produtos?
À tarde, há apresentação de grupos musicais na entrada da Praça Emilinha Borba, além dos artistas que cirulam pela rua.

4 - Quantos visitantes por edição?
Até 2006 circulavam por lá cerca de 8 mil pessoas. Hoje, são entre 17 e 20 mil a cada edição, muitos deles turistas internacionais.

5 - Há quanto tempo existe?
São 16 anos. Está consolidada como um espaço democrático, reunindo alguns dos melhores antiquários, sebos e artesanatos da cidade.