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domingo, 2 de dezembro de 2012

Lapa em Três Tempos


Quarta, 28 Novembro 2012 10:30

Lapa em Três Tempos

Escrito por


Abre a janela formosa mulher, cantava o poeta-trovador

Abre a janela formosa mulher, na velha Lapa que passou
 
Assim começava o samba-enredo da Portela do ano de 1971, de autoria de Ary do Cavaco e Rubens, contando em forma musical a história de um dos bairros mais conhecidos do Rio de Janeiro, sobre o qual pairava a ameaça do desaparecimento.

 
lapa_colonial

A Lapa na época colonial, em tela de autoria provável de Leandro Joaquim. À esquerda, a Igreja 
de N.Sª da Lapa do Desterro, e acima o Convento de Santa Teresa. O Passeio Público ainda 
não existia, e em seu lugar pode ser vista a lagoa do Boqueirão.



No começo nada mais que um acesso à zona sul, e — mais importante — às águas do rio Carioca no Flamengo, a localidade começou a se desenvolver com a construção de um seminário para religiosos, iniciativa do padre Ângelo de Siqueira, com obras iniciadas em 1751. O projeto incluiu uma capela em louvor de N.Sª da Lapa do Desterro, origem do templo atual. O seminário, bastante concorrido na época, teve dentre seus professores o Padre Perereca (Luiz Gonçalves dos Santos), que tempos depois descreveria em detalhes a época de D. João em sua conhecida obra "Memórias Para Servir à História do Reino Do Brasil". Ao lado da Igreja, a Irmandade do Espírito Santo da Lapa do Desterro erigiu em 1773 sua capela, famosa pelas festas do "Império".
 
Vem dos vice-reis e do tempo do Brasil Imperial
Através de tradições, até a República atual
 
A criação do Passeio Público, em 1783, substituindo a suja lagoa do Boqueirão com a primeira área de lazer da cidade, bela obra nascida do talento de Mestre Valentim e da iniciativa do vice-rei D.Luís de Vasconcellos, atraiu mais pessoas àquela que até então era uma área desvalorizada, a qual teve assim sua fortuna súbitamente revertida. O bairro continuou concorrido, e, a partir da segunda metade do século XIX tornou-se um dos pólos mais conhecidos de diversão, freqüentado por vários artistas e público em geral.

 
lapa_noite_01

Cruzamento da Av.Mem de Sá com rua Visconde de Maranguape, nascido com 
as reformas de Pereira Passos a partir de 1904, e uma das marcas mais 
conhecidas da época boêmia do bairro, até sua destruição em 1974.
(foto CPDoc-Jornal do Brasil)



Assim foi até 1904, quando as reformas feitas durante a gestão de Pereira Passos na prefeitura mudaram bastante sua fisionomia. A nova avenida Mem de Sá teve seu prolongamento no lado da Lapa, criando um cruzamento com a rua Visconde de Maranguape, que se tornou uma de suas marcas mais conhecidas. Foram nessas ruas, com vários cabarés,  que nasceu a fama de boemia e reduto de malandragem ao longo do século passado, incluindo personagens famosos como Madame Satã e outros.
 
De algum modo, contudo, a presença do bairro incomodava as elites, e, após o golpe militar de 1964, começou a se pensar na eliminação do "antro de libertinagem e marginalidade". Para tal, os governantes apontaram alguns "gênios urbanísticos", sempre disponíveis — especialmente em regimes autoritários — quando surge a oportunidade de destruir o passado e séculos de patrimônio para impor à coletividade suas idéias estéticas, forçando gerações  presentes e futuras a conviver com um espaço que quase sempre não agrada, além de amputar a conexão histórica anterior. Durante o governo Chagas Freitas, no final de 1974, pouco antes da fusão com Estado do Rio, era completada a destruição do bairro, criando mais um espaço vazio que, como acontece quase sempre, foi usado como estacionamento por muito tempo. A Lapa verdadeira, essa, deixava de existir.

 
Lapa_demolicao

Foto aérea da Lapa, antes de sua destruição. Com a única exceção da Fundição 
Progresso, na rua dos Arcos, todos imóveis desapareceram, e com eles a Lapa 
tradicional. Mais uma vitória daqueles que o historiador Magalhães Corrêa  
apelidou de "construtores de desertos", tão ativos hoje quanto então.
(foto CPDoc-Jornal do Brasil)



A Lapa de hoje, a Lapa de outrora, que revivemos agora...
 
Em um momento que se vive uma explosão da especulação imobiliária, com grande parte da cidade sendo destruída e substituída por construções que poderão causar dano irreparável à sua estética natural e história, tudo em nome da euforia da copa do mundo e da olimpíada — na verdade mais uma coleção de jogadas e negociatas com as quais muitos políticos e seus asseclas irão provávelmente enriquecer mais ainda — é oportuno ter em mente o que ocorreu com a Lapa, assim como o que foi para sempre perdido. Nesse sentido, vale a pena lembrarmos outra música relativa ao bairro, composta por Chico Buarque em 1976, Homenagem ao Malandro. Sua mensagem continua mais atual que nunca:
 
Eu fui à Lapa e perdi a viagem, que aquela tal malandragem não existe mais
Agora, já não é normal o que dá de malandro regular, profissional
Malandro com aparato de malandro oficial
Malandro com contrato, com gravata e capital,
Que nunca se dá mal...

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