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domingo, 10 de março de 2013

Destino Final


Quarta, 30 Janeiro 2013 09:32

Destino Final

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Certos locais, no mundo inteiro, exercem uma atração quase irresistível não só para quem os conhece, mas também àqueles que nunca lá foram. Esse fenômeno é frequentemente explicado pela sua fama, como é o caso, por exemplo do Cristo Redentor ou da torre Eiffel, verdadeiros magnetos de turistas. Mas para cada atração famosa há outras relativamente anônimas, freqüentadas pela população local cotidianamente. Geralmente, quem lá vai é atraído por alguma característica pitoresca, como uma paisagem ou para encontrar pessoas, enfim, pela notoriedade do ponto. Contudo, e a bem da verdade, a alma humana não é só um repositório de idéias cândidas — alguns diriam até muito pelo contrário — e seu lado sombrio a todo instante surge, como constatamos nas manchetes diárias.
Assim, aos lugares freqüentados por conta de uma disposição positiva e celebratória da vida, contrapõem-se outros cuja fama é mais sinistra, como que complementando a unidade indissociável do bem com o mal, talvez a construção humana mais importante nas reflexões sobre o significado último da existência. Um dos pontos mais conhecidos atualmente nesse sentido é a ponte Golden Gate, em São Francisco, nos EUA. A bela construção, cartão postal famoso, é também um dos locais mais procurados por suicidas naquela cidade. Essa fama levou à produção de um documentário em 2007 chamado The Bridge, do diretor Eric Steel, no qual são capturados vários suicídios e tentativas.
praia_sluzia_2

A Praia de Santa Luzia há mais de cem anos. Durante o século XIX era procurada
por suicidas, como retratou José de Alencar em seu conto "A Viuvinha".
Por que as pessoas procuram tal lugar para dar cabo de suas vidas? Isso ainda é um mistério, mas com certeza sua dimensão simbólica, encorajada pelo histórico anterior, que criou uma tradição, tem certamente papel fundamental. Aqui no Rio de Janeiro, durante o século XIX, tivemos um local que, embora não tão espetacular como a Golden Gate, cumpriu função similar. A localidade, um tanto surpreendente, foi a antiga praia de Santa Luzia, desaparecida com os aterros do início do século passado.
Aquela região, onde se situa a Santa Casa, nunca teve lembranças muito alegres, pois, antes da construção do prédio atual em 1852, havia um cemitério, além do antigo hospital. O necrotério ficava próximo, e durante séculos funcionou também, logo ao lado, a prisão do Calabouço, onde desde o século XVIII os escravos eram por lei castigados, na verdade para escapar — pasmem — de punições potencialmente mais cruéis nas mãos de seus donos. Portanto, de um modo ou de outro, o trecho transpirava a morte e sofrimento, um precedente sem dúvida macabro.
O melhor testemunho nos foi legado por José de Alencar em seu conto "A Viuvinha", onde o personagem Jorge da Silva, jovem que dissipou a fortuna legada por seu pai, decide dar fim à própria vida. Além de playboys sem um vintém, o local era também procurado pelos que tudo perdiam no jogo ou os desiludidos do amor, ainda sob a poderosa influência do livro Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe, que tantos levou ao suicídio. Alencar também cita dois lugares fama similar na época, o Arco das Águas Livres, em Lisboa, e o Pont-Neuf, em Paris. Como se vê, em qualquer momento da história, sempre existem pontos que atraem os que sofrem.
A fama sombria da praia, contudo, não durou muito, e no final ela desapareceu algumas décadas depois, estando hoje soterrada sob o asfalto e os engarrafamentos. Essa passagem pouco conhecida, contudo, não desmerece em nada o valor e a expressão histórica de um dos primeiros locais ocupados do Rio de Janeiro do século XVI, quando a cidade ainda se resumia à povoação no alto do Morro do Castelo.

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