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domingo, 10 de março de 2013

A Mãe d'Água


Quarta, 13 Fevereiro 2013 11:35

A Mãe d'Água

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Durante mais de cento e cinqüenta anos, de 1723 até o final do século XIX, a cidade do Rio de Janeiro foi abastecida, em sua maior parte, pelas águas provenientes da nascente do rio Carioca, na serra do Corcovado. Maior obra do período colonial, a construção do sistema de captação e transporte do líquido até alguns chafarizes no centro da cidade, onde era distribuído, foi um desafio tanto pelas dificuldades técnicas quanto pela escassez de recursos, que, ainda por cima, eram frequentemente desviados.
O primeiro aqueduto, cujos trabalhos iniciaram em 1672 e só concluíram sob o governo de Aires Saldanha, de 1719 a 1725, foi uma obra feita com descuido e materiais inferiores, levando a freqüentes vazamentos e conseqüente prejuízo ao abastecimento, obrigando Gomes Freire, não muito tempo depois, na década de 1740, a reconstruir tudo com projeto e execução de qualidade. Nunca mais sofreria o abastecimento, e a obra só seria desativada a partir de 1889 por não mais atender à demanda da capital Imperial.

mae_dagua_1845

Aspecto da Mãe d'Água em 1845, em desenho de
Thomas Ewbank
O aspecto mais visível do sistema da Carioca era e continuam sendo os Arcos da Lapa, a parte aérea do aqueduto, ligando o morro de Santa Teresa ao de Santo Antônio, destruído entre os anos 50 e 60. Na verdade, a canalização subia por mais de 4 quilômetros até o Silvestre, onde recebia o fluxo combinado de vários pequenos cursos d'água. A recepção e concentração das águas acontecia em uma bacia feita na pedra, protegida por uma construção similar a uma casa, com teto, à qual foi dado o nome de "Mãe d'Água". A primeira adução recebida vinha da Fonte do Beijo, escavada na rocha com o líquido vindo a partir de cinco ramos, conhecidos como Corcovado, Velhas, Serra, Lagunal e Regílio. A esses se somavam as águas do Silvestre e das Paineiras, esta última captada a alguns quilômetros de distância serra acima.

mae_dagua_1920

A Mãe d'Água em 1920. Ainda pode ser visto o aqueduto iniciando o antigo
trajeto até o Largo da Carioca.
Na Mãe d'Água tudo era combinado, e descia pelo aqueduto até o Centro. O fluxo na verdade não era muito expressivo, suficiente para uma população de até uns 50 mil habitantes, levando-se em conta o baixo consumo per capita de então, muito inferior ao atual, e o fato de que à noite os reservatórios dos chafarizes eram reabastecidos, podendo no dia seguinte cumprir sua função normalmente. Contudo, como foi dito acima, o crescimento da cidade tornou o sistema insuficiente, e os períodos de seca agravavam o desabastecimento. A solução para o problema só ocorreu durante o episódio conhecido como "Água em seis dias", ocorrido em março de 1889, quando, sob o comando de engenheiro Paulo de Frontin, foi instalada em 6 dias uma tubulação ao lado da Estrada de Ferro Rio d'Ouro desde o Rio até a serra do Tinguá, na Baixada, trazendo mais de 15 milhões de litros de água por dia.

mae_dagua

Mãe d'Água hoje: desprezo pelo passado levando ao abandono do que
poderia ser uma atração turística e cultural.
O sistema da Carioca caiu em desuso, levando à utilização, desde 1896, dos Arcos da Lapa como passagem para os bondes da Cia. Ferro-Carril Carioca, que servia ao bairro de Santa Teresa. O aqueduto foi sendo demolido aos poucos, e seu trajeto é hoje a rua Almirante Alexandrino, conhecida inicialmente, aliás, como rua do Aqueduto. Lamentávelmente, não existe mais nenhum trecho da canalização do aqueduto, que tinha aproximadamente dois metros de altura.

placa_maedagua

Placa em mármore comemorativa da conclusão dos trabalhos de reconstrução
do aqueduto, em 1744. Totalmente ilegível, graças aos animais modernos.


placa_gfreire_1920

A mesma placa, em foto de 1920. Lê-se: "Reinando el Rey d. João V N.S. e sendo
Gor. e Cap. Cel dasta Capas e das Mªs Gomes Fre. de Andrª do seu concº Sargto.
Mayor de Bª dos seus Excºs ano 1744'"

Restou parte da captação e também a Mãe d'Água, que hoje não mais recebe o líquido, pois a água passa por baixo da construção e deságua no curso do rio Carioca, retornando desse modo a seu local de origem. O prédio da Mãe d'Água, verdadeira relíquia colonial e peça da qual dependeu a sobrevivência da cidade, está abandonada e depredada, coberta por pichações e com sujeira. É mais um exemplo típico de como é tratado boa parte do patrimônio histórico por aqui, fato que diz muito sobre as prioridades e caráter de nossos governantes e políticos.

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