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domingo, 10 de março de 2013

E o Rei chegou...


Quarta, 23 Janeiro 2013 12:16

E o Rei chegou...

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Após longa e cansativa viagem, com passagem por Salvador, o príncipe-regente D. João e a côrte portuguesa chegavam na baía de Guanabara em 7 de março de 1808, fugindo das tropas francesas que haviam invadido Portugal. No dia seguinte aconteceria o desembarque, aguardado com ansiedade por toda população, sobressaltada desde o momento que soube da vinda da côrte para a capital da colônia.
O protocolo pedia que, após os primeiros rituais no Largo do Paço (Praça XV), o príncipe e toda côrte fossem celebrar uma missa de ação de graças na Sé. Só que havia um pequeno problema: não havia uma Sé na cidade pois, após o abandono da sede original na Igreja de São Sebastião no Morro do Castelo, o Cabido foi sucessivamente invadindo igrejas alheias, a contragosto dos donos.
djoao_rosario

O príncipe-regente D. João é recebido na frente da Igreja do Rosário pela
Irmandade de N.Sª do Rosário e S. Benedito dos Homens de Côr,
cujo templo estava ocupado desde 1737.

A primeira tentativa ocorreu na Igreja de São José, em 1659, da qual foram rechaçados. Décadas depois, os religiosos voltaram à carga, e, em 1734, na calada da noite se apossaram da Igreja da Santa Cruz dos Militares, os quais, na manhã seguinte, se depararam com a inesperada e desagradável surpresa. Mas os militares não engoliram a afronta, e sua pressão fez com que em 1737 os religiosos da Sé fossem de lá expulsos quase — sem trocadilho — manu militari.
A próxima vítima, presa fácil, foi a Igreja da Irmandade de N.Sª do Rosário e S. Benedito dos Homens de Cor, a Igreja do Rosário, pertencente a uma irmandade de negros que havia sido justamente expulsa da Sé no Morro do Castelo em 1710, e que, a muito custo, levantou casa própria na rua da Vala, local bastante êrmo. Os negros não tiveram como opor resistência a seus antigos algozes, e tiveram de engolir sua presença.
Décadas de conflito e humilhações se seguiram, e quando correu a notícia de que D.João e a côrte iriam até sua pobre igreja celebrar a primeira missa, se encheram de orgulho e resolveram oferecer uma bela recepção ao monarca, para tal fazendo um belo pálio, todo bordado e sustentado por varas de prata. Recuperava assim a irmandade um pouco de seu amor próprio, esmagado pela ocupação do cabido.
Quando os invasores souberam da novidade, reagiram imediatamente proibindo, pois além de ser uma irmandade de negros, seria o rompimento do protocolo. Quando a côrte já estava na direção do templo, os negros foram colocados em seu interior, e na porta de entrada estavam o bispo e outros religiosos orgulhosamente esperando, personagens de destaque em uma situação histórica inesperada.
Foi então que os donos do templo viram a oportunidade de dar o troco pelos anos de humilhações sofridas. Um dos membros lembra que podiam utilizar as saídas dos fundos da igreja, e contornar o bloqueio do cabido na frente. Saem pela sacristia e dão na rua do Fogo (Rua dos Andradas), vão correndo para a frente carregando o pálio, dão várias voltas e conseguem chegar no caminho do príncipe e da côrte. Os invasores percebem a manobra e vão correndo tentar impedir, mas já é tarde... e D. João é recebido na entrada da Sé pela irmandade de negros.
Sua vitória, somada à exigüidade das dimensões do templo para servir como sede religiosa principal, levariam à transformação da Igreja do Carmo na nova Sé, que lá continuou até a construção da catedral da Av. Chile. Mas para sempre ficou registrado na história o momento em que os usurpadores foram forçados a engolir o revide da humilde irmandade, que após o episódio resgataria a posse plena de sua casa, igreja tradicional e palco de acontecimentos memoráveis. 

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