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domingo, 15 de julho de 2012

Nireu Cavalcanti: uma história de paixão pela cidade do Rio de Janeiro


Nireu Cavalcanti: uma história de paixão pela cidade


O arquiteto e pesquisador prepara mais um livro para ajudar a conhecer o Rio

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Nireu Cavalcanti: novo livro vai abordar pontos da História que não o convencem
Nireu Cavalcanti: novo livro vai abordar pontos da História que não o convencem
Nireu Cavalcanti é um apaixonado pela História do Rio e, consequentemente, um apaixonado pela cidade.
— Sempre tive paixão pelo Centro da cidade — admite ele. — Somos privilegiados por viver numa cidade que é a própria História do país, a história da formação de um povo, da formação da brasilidade. Os baianos que me perdoem, mas o Rio de Janeiro tem uma característica mais heterogênea do que a própria Bahia, só pelo fato de ter sido capital do país desde 1763 até a segunda metade do século XX, e por abrigar um porto altamente cosmopolita.
A ironia é que um professor tão ligado às raízes do Rio não é carioca. Alagoano de Batatal, chegou aqui com 17 para 18 anos — está com 66 — para se desenvolver como escultor, talento que trazia de Alagoas. Na dúvida entre cursar a faculdade de Belas Artes ou a de Arquitetura, optou pela segunda. Não se lembra de, na escola, ainda em Alagoas, ter se destacado nos estudos de História.
— Eu não era bom em nada. Eu era escultor! — reage.
Mas foi justamente no curso para tornar-se arquiteto que passou a se interessar pelo assunto, destacando-se nas aulas de História da Cidade, História da Arquitetura, História de Estilos, História da Arquitetura Brasileira...
— Quando me formei, vários professores me convidaram para ser seu auxiliar.
Ele especializou-se em Planejamento Urbano Regional e acabou fazendo doutorado em História, quando elaborou uma tese que transformou-se em seu livro mais famoso, “Rio de Janeiro Setecentista”, cujo conteúdo ele descreve como “a vida e a construção da cidade da invasão francesa até a chegada da corte”.
Conhece-se melhor a História do Rio com os livros de Nireu Cavalcanti. Ele é autor de “Santa Cruz”, volume da coleção “Cantos do Rio”, editada pela Prefeitura, no qual, com pesquisa documental, narra a História do bairro e de seus monumentos. Em “Crônicas — Histórias do Rio Colonial”, ele traz uma coleção de artigos que escreveu para o “Jornal do Brasil” em que trata dos costumes cariocas, com a leveza de um dos maiores cronistas da cidade, o autor de “O Rio de Janeiro no tempo dos vice-reis”, Luís Edmundo (1878-1961). Ele rejeita a comparação:
— Eu não gosto de coisa impostada. Luís Edmundo interpreta muito o documento. Quem fez História Urbana foi Maurício Abreu — corrige ele, lembrando o geógrafo, autor de “Evolução urbana do Rio de Janeiro”, que morreu no ano passado.
Nireu Cavalcanti espera lançar este ano mais um livro, “Conflito colonial”, no qual aborda “pontos da História que não estão convencendo a mim”. O principal deles é a versão consagrada de que a Corte portuguesa chegou aqui, em março de 1808, com 15 mil pessoas.
— Não eram nem 500 — contesta.
O historiador não aceita nem a versão de que, na conta tradicional, estava incluída a tripulação dos navios.
— Mesmo assim. Com os tripulantes, não chegamos nem a oito mil pessoas. E é preciso se levar em conta também que todos os navios, com suas tripulações, voltaram para Portugal em agosto. Não foi mesmo um número significativo. Eles não poderiam desarmar a administração de Portugal, nem o Exército. Esta versão foi criada num livro de memórias de um soldado da Marinha inglesa, Thomas O’Neil. Mas ele não viu nada. Apenas reproduziu o relato de um sargento português.
Parte da paixão de Nireu Cavalcanti pela cidade passa por pontos que o Rio nem possui mais.
— O Rio de Janeiro é a cidade de prefeitos que provocaram grandes perdas. A mais significativa é a derrubada do Morro do Castelo. Temos uma história de governantes muito desqualificados do ponto de vista da importância do patrimônio da cidade. Em 1922, o prefeito Carlos Sampaio derrubou o começo da História do Rio para comemorar os cem anos da Independência. Quando vou à área da Ladeira da Misericórdia, que foi o que sobrou do morro, fico muito emocionado. Eu sei que por aquele pedacinho de ladeira caminharam grandes figuras da História do Brasil.
E o professor continua reclamando:
— Quando Dom João VI chegou ao Brasil, havia um projeto na Câmara dos Vereadores para derrubar o morro. A justificava era a de que ele impedia a circulação do ar. Já na época, provou-se que isso não era verdade. Mais de cem anos depois, a mesma justificativa eliminou da cidade o seu ponto mais marcante.
Desafiado a escolher um ponto importante do Rio que não seja caracterizado pela perda, Nireu Cavalcanti não titubeia: o Passeio Público.
— Na Colônia, nossos governantes não podiam ter a sua representação em espaços públicos. A cidade do Rio não tinha estátuas, nem monumentos. Era despida. Isso só veio a ser rompido pelo vice-rei Luís de Vasconcelos (1742-1809) na construção, em 1783, do Passeio Público.
A Corte não permitia que fossem realizadas na cidade obras de grande porte. O Campo de Santana era um descampado. A Casa do Governador era modesta. Nenhum prédio podia ser chamado de palácio e nem tinha características que justificassem este nome.
Sem pedir dinheiro à Coroa — até por que, se pedisse, a Coroa não daria — o vice-rei construiu nosso primeiro parque público e espalhou por ele os até então inéditos estátuas e monumentos.
No apartamento de Laranjeiros, onde vive com a mulher, Regina (eles têm dois filhos, o designer Tiago, de 36 anos, e a dentista e cineasta Andréa, de 34), Nireu Cavalcanti se empolga com a história do Passeio Público:
— É a nossa primeira obra de caráter não utilitário.
E não tem medo de afirmar:
— O Luís de Vasconcelos foi o maior governante que nós já tivemos.


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