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sábado, 21 de julho de 2012

Restauração do complexo arquitetônico do Convento de Santo Antônio


Um tijucano que reconstrói a História


Aos 77 anos, arquiteto comanda as obras de restauração do complexo arquitetônico do Convento de Santo Antônio

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Olínio Coelho ao lado de um lavabo de pedra de Lioz na antessacristia da Igreja de Santo Antônio
Foto: Dani Dacorso
Olínio Coelho ao lado de um lavabo de pedra de Lioz na antessacristia da Igreja de Santo Antônio Dani Dacorso
RIO - Bem, há quem tire rugas. Até da cidade. Se não, ainda teríamos o Palácio Monroe na nossa paisagem e o prédio da Brahma interrompendo a passarela do Sambódromo. Mas, no que depender de Olínio Coelho, rugas e qualquer outro sintoma de velhice podem ser restaurados. Ou passar por uma acurada cirurgia plástica. É o que ele faz, por exemplo, como arquiteto responsável pelo restauro do complexo do Convento de Santo Antônio, no Largo da Carioca. É o que ele tem feito há 54 anos como arquiteto, período no qual, entre outras vitórias, chefiou o pioneiro Patrimônio do Estado da Guanabara, elaborou o decreto de tombamento do Parque Lage, criou o curso de restauro da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e formou algumas gerações de profissionais com suas aulas de Teoria e História da Arquitetura em, pelo menos, cinco faculdades do Rio.
— É difícil encontrar um arquiteto na cidade que não tenha sido aluno do Olínio — atesta Felipe Borel, um dos arquitetos do projeto de restauração do convento.
Aos 77 anos, que serão completados hoje, Olínio já pensa no próximo trabalho: a restauração da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência.
— Restauro é um vírus — diz ele. — Depois que você entra, não quer mais sair.
Filho de Olívia e Antônio
A Igreja da Ordem Terceira fica logo ali, ao lado da de Santo Antônio (na verdade, ela é parte do complexo arquitetônico do convento). Assim, não vai mudar muito a rotina de Olínio — o prenome incomum é a junção do nome da mãe, OLÍvia, com o do pai, AntôNIO —, que sai todo dia de sua casa na Tijuca para estar às 9h no Largo da Carioca.
Ele é um tijucano militante.
— Quem mora na Tijuca não quer saber de Zona Sul. Tentei morar em Copacabana, onde passei seis anos, mas acabei voltando.
A Tijuca está nas raízes do arquiteto. A bisavó tinha uma chácara no bairro. A casa onde nasceu, na Rua Uruguai, ainda está lá, mas transformada numa loja de produtos para noivas. É no bairro também que ele encontra as memórias de juventude passada na Praça Saens Peña.
— Minha turma ficava na frente do Café Palheta. Do outro lado da praça, tinha um botequim, onde eu sempre via o (compositor) Lamartine Babo. E as sessões de cinema no Cine Olinda eram um acontecimento.
O trabalho na Ordem Terceira ainda vai demorar para começar. A previsão é de que o restauro no convento, que teve início há cinco anos, só se complete daqui a dois ou dois anos e meio.
A tarefa de Olínio e de toda a equipe do Cepac (Centro de Projetos Culturais) é recuperar, numa obra avaliada em R$ 45 milhões, a riqueza original de um dos prédios mais antigos da cidade (a pedra fundamental da construção é de 1608, rivalizando em antiguidade com o Mosteiro de São Bento). Grande parte do trabalho é descobrir o que está por trás das reformas feitas durante a ocupação militar no complexo, entre 1885 e 1901, e as primeiras décadas que se seguiram a ela, quando o convento foi administrado por um grupo de freis alemães, ou simplesmente “os alemães”, como se refere a eles a equipe do Cepac. Entre os religiosos alemães, havia um arquiteto, o frei Schlag. Este período é chamado, no projeto do grupo atual, de período de “restauração do convento”. Esta “restauração”, considerada no projeto como “totalmente extemporânea”, teria reproduzido “apenas o gosto pessoal do frade arquiteto alemão, Frei Schlag, descartando qualquer compromisso com a história da arte e a história cultural, cujos valores impregnados no monumento conseguiram atravessar, incólumes, três séculos até então”.
— As maiores intervenções foram feitas pelos alemães — revela Olínio, lembrando, porém, que, em 1953, ouve uma “limpeza” promovida pelo arquiteto Lúcio Costa.
— Embora desastrosas, as intervenções dos alemães, de certa forma, também preservaram a obra original.
A “preservação” aconteceu por conta de as obras dos “alemães” apenas esconderem a construção original, com pinturas sobre pinturas ou detalhes arquitetônicos “emparedados”. Foi assim que se descobriu agora como era o frontão (a forma triangular que ornamenta topo de fachadas) original, registrado numa foto de Marc Ferrez (1843-1923), que já pode ser visto do Largo da Carioca.
— É um frontão que o Rio não vê desde 1924 — orgulha-se o arquiteto.
Um frontão secular do lado de fora e, do lado de dentro, uma sacristia que, como Olínio gosta de citar, foi considerada pelo escritor Joaquim Manuel de Macedo como “a mais bela sacristia do Rio de Janeiro”. São muitos os encantos que estão para aparecer no histórico complexo arquitetônico do Centro da cidade. Durante as obras, Olínio convive com algumas histórias que, no futuro, vão fazer parte da lenda do prédio. A mais divertida delas é, sem dúvida, a que envolve a recuperação da estátua do pai de São Francisco.
Na restauração das cinco capelas do claustro, estava faltando uma imagem no altar da Capela do Nascimento de São Francisco. Era uma pequena estátua do pai do santo. Acreditava-se que fora roubada, que quebrara-se ou que, simplesmente, desaparecera. Até o dia em que um jovem frei do convento foi assistir à comédia “A guerra dos Rocha”, filme brasileiro de 2008. Lá estava, numa cena, como objeto de decoração, a imagem desaparecida do pai de São Francisco. A Ordem Terceira de São Francisco da Penitência já a recuperou.
O entusiasmo com que esse tipo de caso é dividido entre todos que trabalham no convento mostra, na opinião de Olínio, que o projeto é “uma escola de restauro”. Pouco a pouco, a pintura dos claustros volta a ter a cor azul, a altura do telhado é reduzida com a substituição das telhas francesas pelas telhas coloniais originais, a azulejaria portuguesa é recuperada.
— Quando você restaura, não pode procurar a finalidade — ensina ele. — Tecnicamente, temos um compromisso com a teoria do restauro. O uso tem que ser adaptado ao estado do monumento. Você não pode mudar o monumento por causa do uso.
Santo de casa faz milagre
É difícil estabelecer os limites do trabalho de Olínio Coelho ali no Largo da Carioca. Ele mesmo diz que “arquiteto é metido a fazer tudo, é um estado de espírito especial”. Sobre o prédio específico no qual ele agora se debruça com seu conhecimento, lembra que “o uso constante manteve o monumento”.
— Se não tivesse sido usado pelos franciscanos desde sua construção, hoje estaria em ruínas, como muitos conventos por aí — ensina.
Mas seu papel na restauração do complexo arquitetônico pode ser atestado pela declaração da coordenadora do projeto, Ana Lúcia Pimentel, que, funcionária aposentada do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), com formação em Administração e das primeiras técnicas brasileiras a se especializar em Lei Rouanet, atualmente, admite ter “o sangue da restauração correndo nas veias”:
— O Olínio tem uma experiência enorme que nos embasa a lutar por esta causa.
Na última quinta-feira, numa espécie de visita guiada pelas obras do convento, o repórter teve outro exemplo do respeito com que é visto o trabalho do arquiteto, ao se meter numa discussão surrealista com a restauradora Rejane Oliveira dos Santos. Comentando algumas imagens que estava recuperando, ela disparou:
— Santo Antônio é o santo das causas impossíveis.
O repórter desconfiou:
— Ué, mas este não é São Judas Tadeu?
— Também, mas é Santo Antônio quem nos ajuda a encontrar objetos perdidos.
— Não, este é São Longuinho, aquele dos três pulinhos.
Ana Lúcia Pimentel cortou a discussão com uma afirmação definitiva:
— O importante é que nosso santo protetor é Santo Olínio.


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