Rua Primeiro de Março, ex-Direita, no início do século XX
Diz o bom senso, corroborado pela geometria, que a menor distância entre dois pontos é uma reta, o que faz sentido em nosso pequeno mundo euclidiano.
Entretanto, os nomes de logradouros consagrados pela tradição popular obedecem muitas vezes a uma lógica não lá muito rigorosa, em que dois e dois nem sempre são quatro.
Foi assim que se batizou uma das mais antigas e célebres ruas do Rio de Janeiro, a Rua Direita, atual Primeiro de Março.Conhecida inicialmente como Caminho de Manuel de Brito, nome do sesmeiro do lugar, era uma via curva acompanhando o litoral por uma estreita faixa de terra, terminando no Morro de Manuel de Brito.
Na retaguarda do velho caminho, um enorme terreno alagado, ainda por drenar nas décadas seguintes.
Em 1589, chegam ao Rio os primeiros frades beneditinos, Pedro Ferraz e João Porcalho, para fundar uma casa para sua Ordem.
Recebem os religiosos uma doação de terras do mesmo Manoel de Brito, incluindo o morro que logo seria chamado de São Bento.
Na outra extremidade da rua estava uma pequena ermida dedicada a N. Sª do Ó, que, a partir de 1590, se transformaria no Convento do Carmo, o maior prédio a dominar a nascente Praça XV.
Assim, o caminho passou a ser chamado de Rua Direita do Carmo para São Bento, originando o nome que durou por séculos, Rua Direita.
Na verdade, a rua constituía uma continuação da rua da Misericórdia, ligação com o Morro do Castelo e o núcleo original de povoamento.Com o tempo, principalmente a partir do século XIX, se tornou ponto de concentração dos comerciantes de grande porte, os chamados "de grosso", que eram os intermediários entre os fazendeiros que produziam o café e o mercado, comprando sua produção em troca de escravos e outros bens, além de dinheiro, e auferindo um grande lucro em cima do plantador, que dependia totalmente deste tipo de negociante para transformar o café em riqueza palpável.
Foi numa dessas casas comerciais que, em 1823, aos 9 anos de idade, o futuro Barão de Mauá iniciou sua incrível trajetória.
Neste mesmo século, instalou-se na rua Direita a confeitaria do francês Carceller, cuja fama estendeu seu nome ao local, chamado de "Boulevard Carceller".
Foi aí que, em 1834, os cariocas extasiados conheceram pela primeira vez o sorvete.
Por muito tempo este trecho da rua Direita ficaria conhecido pela sua excelência gastronômica.
Em março de 1870, chegava finalmente a notícia que terminara a Guerra do Paraguai, e D. Pedro II e D. Teresa Cristina, que estavam no Paço, saíram para confraternizar junto com o povo em gáudio o fim do longo conflito.
A partir de então se decidiu mudar o nome para rua Primeiro de Março, comemorando a vitória brasileira em terras paraguaias.
Como logradouro que abriga uma grande quantidade de templos e prédios de importância histórica, deve ser priorizada a conservação do casario ainda restante, e principalmente evitar a construção de prédios que desfigurem o belo conjunto secular que conseguiu chegar, não sem ameaças, até nossos conturbados dias.
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