Dentre os vários aspectos que envolvem o nascimento e evolução da cidade do Rio de Janeiro, um dos menos conhecidos talvez seja aquele da história de suas fortificações, em sua maioria despojadas da função defensiva pela evolução tecnológica, mas tendo no passado desempenhado importante papel.
Algumas destas veneráveis estruturas sobreviveram na forma original, um certo número desapareceu e outras se transformaram ao longo do tempo, à medida que a área ao seu redor se urbanizava.
A Praia Vermelha foi um desses locais em que a presença militar precedeu a ocupação, e até determinou sua configuração.
A Escola Militar antes das reformas da Exposição de 1908
A necessidade de postos de defesa avançados justificava-se pelo receio de uma invasão que, desembarcando longe do núcleo urbano, ameaçasse sua segurança atacando pelos flancos.
Assim, em 1698, construiu-se uma modesta fortificação nessa praia, considerada ponto vulnerável, o que foi constatado durante a invasão francesa de 1710, pois o francês Duclerc tentou iniciar sua ofensiva por ali, e, sendo repelido, deslocou as naves até Guaratiba, seguindo por terra até o centro da cidade.
Os justificados temores levaram o vice-rei Conde da Cunha a construir uma verdadeira fortaleza em 1767, fechando a passagem entre os morros da Urca e Babilônia, e, alguns anos depois, o Marquês do Lavradio ampliaria o complexo, transformando em quartel o pequeno forte do século XVII.
Tendo a necessidade por cursos de formação e aperfeiçoamento de pessoal militar se acentuado a partir da chegada da côrte portuguesa em 1808, D. João VI institui a Academia Real Militar, inicialmente sediada na Casa do Trem (Museu Histórico Nacional), de onde se transferiu para a inacabada catedral no Largo de São Francisco (hoje o IFICS da UFRJ), transformada em 1839 na Escola Militar, de onde finalmente se deslocaria para a fortaleza da Praia Vermelha em 1859, devidamente adaptada para a nova finalidade.
O prédio passaria por nova mudança durante a realização da Exposição Nacional, em 1908, quando se metamorfoseou no Pavilhão das Indústrias, com alterações estéticas em sua fachada, acompanhando o estilo dos demais prédios erguidos especialmente para o certame. Após o famoso evento, sediou a Escola de Estado Maior do Exército, e, em seguida , tornou-se sede do 3º Regimento de Infantaria.
Em 27 de novembro de 1935 foi deflagrada uma rebelião militar de esquerda, e o 3º R.I., por se encontrar na vanguarda do movimento inspirado pela Aliança Nacional Libertadora, foi duramente atingido pela repressão das forças governistas, comandadas pelo general Dutra.
O prédio foi seguidamente bombardeado, e, após a contenção da revolta, decidiu-se pela demolição, dado seu estado precário.
A antiga Escola Militar foi sucedida por outras instalações na Praia Vermelha, dentre elas o Instituto Militar de Engenharia, página mais recente em uma história iniciada há mais de trezentos anos, quando alguns poucos e corajosos soldados defenderam a cidade das espadas e bacamartes dos corsários.
Nenhum comentário:
Postar um comentário