A Cruz dos Militares
28/11/2010 - 07:31
Enviado por: Paulo Pacini
JB
Na maioria das cidades do mundo, os lugares elevados se destacam e são valorizados, geralmente sendo a opção dos privilegiados para estabelecer residência e distanciar-se da agitação das ruas abaixo.
Entre nós, contudo, a história ocorreu de modo diverso, pois, pouco tempo após a fundação do núcleo urbano no Castelo já se descia o morro, iniciando o esvaziamento da cidadela de Mem de Sá.
Ao chegarmos à várzea, no início do século XVII, quase nada havia para se contemplar, só alguns casebres, além das ermidas de São José e N. Sª do Ó, origem do convento e igreja do Carmo.
Ao longo do caminho para São Bento (Rua Direita), construiu-se junto ao mar, em 1605, um fortim de madeira, chamado Forte da Cruz, que, com a Bateria de São Tiago (no Calabouço), a ilha de Villegagnon e o forte do Castelo, constituíam a defesa do centro da cidade.
Igreja da Cruz na Rua Direita, meados do século XIX
O precário forte não resistiu às ressacas, e, tendo perdido sua função, foi alguns anos depois cedido aos militares para que erigissem uma capela dedicada à Santa Vera Cruz.
A obra, resultado do esforço coletivo, era mantida com dificuldade, o que fez com que se abrissem as portas aos marinheiros, os quais necessitavam de espaço para o culto de seu padroeiro, São Pedro Gonçalves, e que poderiam trazer uma contribuição financeira que viabilizasse o sustento do templo.
Tudo ia bem quando eis que, em 1733, o Cabido, insatisfeito com as condições da Igreja de São Sebastião, no Castelo, resolve abandoná-la e entrar à força em casa alheia, na Igreja da Cruz.
Aproveitando a escuridão, é transferida sorrateiramente a imagem do padroeiro da cidade para o templo, e na manhã seguinte, quando os donos chegam, têm a desagradável surpresa de encontrar os invasores instalados.
Seguem-se quatro anos de lutas até que, em 1737, os intrusos finalmente se mudam para a Igreja do Rosário.
Em 1780 é iniciada a reconstrução do templo, que se encontrava arruinado, origem do prédio atual, belo projeto do brigadeiro José Custódio de Sá e Faria, concluído em 1811.
A parte frontal ganharia, em 1835, uma grade para proteger a entrada contra a sujeira e dar mais segurança.
Muitas igrejas então possuíam grades, tais como São Francisco, Sacramento, e outras, retiradas nas reformas de cem anos atrás. Seria oportuno repensar esta questão, pois atualmente as ameaças a pairar sobre os prédios históricos são infinitamente maiores, e uma tal barreira, equipamento padrão em qualquer prédio, poderia afastar pelo menos uma parte dos predadores contemporâneos.
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