A Prainha
24/01/2011 - 21:24
Enviado por: Paulo Pacini
JB
Há algum tempo é notícia que a região portuária do Rio de Janeiro passaria por um processo de resgate ou revitalização, sendo feitas algumas obras, como o aproveitamento de armazéns para finalidades culturais.
O porto, construído no início do século passado, diminuiu progressivamente de importância ao longo do tempo, interrompendo um ciclo comercial que acontecia há longa data.
A área da Praça Mauá foi ocupada desde os primórdios da cidade, sendo conhecida então como Prainha.
A proximidade do Mosteiro de São Bento, e também do Palácio Episcopal no Morro da Conceição, junto a uma boa posição geográfica tornou-a interessante para os negociantes.
O Armazém do Sal — produto cujo monopólio pertencia à Coroa — foi transferido da Misericórdia para a Prainha no século XVIII, reforçando seu caráter predominantemente comercial.
Para a defesa da cidade havia sido construído, em meados do século anterior, um reduto local, complementando outro colocado na base do morro de São Bento, próximo ao mosteiro.
Essas obras, contudo, não foram lá de muita valia na invasão francesa de 1711. O Reduto da Prainha finalmente desapareceria em fins dos anos 1700.
A chegada da Côrte em 1808 inflacionou a demanda por todo tipo de mercadoria, incluindo a alimentação, cujos diversos gêneros eram em grande parte recebidos nos trapiches, oriundos dos portos do fundo da baía, onde embarcava-se a produção local e ítens provenientes de Minas Gerais, que desciam a serra em tropas de mulas.
Em 1854, contudo, surge a grande novidade, uma ferrovia construída por Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, indo do porto Guia de Pacopaíba até a raiz da serra de Petrópolis.
A Prainha tornou-se ponto de embarque das Barcas de Petrópolis, cumprindo os passageiros a primeira parte do trajeto pela água, para depois mudarem para o trem.
O Trapiche Mauá tornou-se assim passagem obrigatória para a elite do Império em suas viagens à serra.
Trapiche Mauá na Prainha, início da viagem à Petrópolis do século XIX
Dentre as casas locais do século XIX, era destaque a de Felipe Néri, a qual, após seu assassinato em 1842, abrigaria a Escola Naval até 1867, e daí até o século seguinte o Liceu Literário Português.
Terminaria demolida para dar lugar ao edifício do jornal "A Noite", que tem o mérito duvidoso de ser o primeiro arranha-céu da cidade, inaugurando a descaracterização da Avenida Central de Pereira Passos, a qual previa-se durar "cem anos".
O aproveitamento de áreas subutilizadas para fins culturais sempre deverá ser apoiado, e o investimento nessa área nunca é bastante, pois sempre virão novas gerações ansiando e necessitando ter acesso ao conhecimento.
Contudo, dada a longa e histórica ligação do porto do Rio com a atividade produtiva, deve-se ter critério ao desativar estruturas comerciais tais como ferrovias ou armazéns, que poderão voltar a ser necessárias em um renascimento econômico da cidade, e cujo desaparecimento poderá ser prejudicial a esse mesmo resgate.
Nenhum comentário:
Postar um comentário