A Praia da Lapa
22/02/2011 - 08:46
Enviado por: Paulo Pacini
JB
Os sucessivos aterros efetuados no Rio de Janeiro alteraram em demasia a aparência da região litorânea, fazendo com que muitos cariocas, em que pesem morar numa cidade à beira-mar, difícilmente vejam este, recuado centenas de metros.
Esta mania até hoje persiste, sempre procurando se construir obras adicionais a bloquear mais ainda a vista, as quais certamente serão lucrativas para alguns.
Mas nem sempre o motivo deste tipo de intervenção foi a ganância, e nem sempre a paisagem foi prejudicada.
Em 1835, uma grande ressaca atingia a cidade, causando destruição generalizada, principalmente nas casas situadas na Rua da Lapa, as quais faziam fundo com o mar.
O impacto das ondas progressivamente erodiu o terreno, levando consigo também os locais de desembarque de mercadorias, as quais vinham preferencialmente por via marítima.
Este sinistro tornou evidente a necessidade de proteger esta faixa do litoral, e, tempos depois, em 1857, é promulgado um decreto ordenando a execução de obras no local.
A Lapa de 1902, ainda banhada pelo mar
Conhecida originalmente como Areias de Espanha ou Mar de Espanha, antes da existência do seminário religioso que mudou o nome do bairro, a praia teve os trabalhos concluídos em 1861, constando de um cais em curva sobre uma muralha que ficava um metro acima do mar, uma rua com 15 metros, acompanhando o cais, e um paredão na parte alta da Rua da Glória.
Também foram plantadas árvores, para fornecer sombra aos pedestres, transformando a velha praia em uma atração, por onde se caminhava desde o Passeio Público, tendo o mar ao lado.
Durante a gestão de Pereira Passos na prefeitura, em 1904, o paredão foi reconstruído, sendo acrescentada a balaustrada de metal retirada da Praça Tiradentes, que em sua maioria ainda lá está, mas cujas partes são seguidamente roubadas sem que se faça coisa alguma.
A partir desta época, aterros sucessivos recuaram o mar mais de 400 metros, afastando-o do cotidiano de quem passa ou trabalha por ali.
Estas obras também acabaram com a ligação da praia com as origens do esporte do remo entre nós, pois os clubes que lá se encontravam tiveram de mudar.
A história da finada praia, e sua transformação subseqüente, mostra que é sempre necessário refletir sobre mudanças deste porte, e que hoje em dia a opinião da comunidade deve ter poder decisório, relegando ao passado a tradição das intervenções autoritárias, que tantos prejuízos trouxeram ao patrimônio histórico e ao cenário cotidiano.
Participação e ampla discussão de propostas é a possibilidade da conquista futura de um ambiente urbano mais favorável, dando-se ênfase à vontade coletiva ao invés dos interesses velados de uma minoria.
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