A Rua do Sabão
23/03/2011 - 11:11
Enviado por: Paulo Pacini
JB
Não era fácil a vida durante o distante período colonial, pois, além de se procurar arrancar tudo da terra, qualquer tipo de desenvolvimento material ou intelectual era impedido, reservando a maioria das atividades e as poucas indústrias à Coroa e seus protegidos. Assim, por exemplo, monopolizava-se a produção de sal, óleo de baleia, e proibia-se a imprensa e o ensino de ofícios em muitas profissões, como a de ferreiro, reservando-as aos portugueses.
Uma importante rua do Rio antigo por muito tempo lembrou os tempos difíceis em seu nome, pois nela foi instalado, na primeira metade do século XVIII, o armazém do sabão, cuja fabricação e distribuição era controlada pelo governo. Esta via, porém, existia desde os primeiros anos do século anterior, iniciando como um pequeno trecho desde o mar até a ermida e posteriormente igreja da Candelária, construída antes de 1613. O primitivo templo, já bastante procurado, deu o primeiro nome à rua, chamada de rua do Cruzeiro da Candelária. Estendendo-se a seguir rumo ao interior, interceptava as novas vias abertas com o crescimento da região central.
Rua General Câmara, antiga do Sabão, e seu agradável casario
(Foto: Arquivo Central do IPHAN - Rio de Janeiro)
Aproximadamente na época em que surgiu o armazém do sabão, já alcançava a rua da Vala, a Uruguaiana atual. Exatamente no terreno que fazia esquina com esta, foi construída a igreja do Bom Jesus do Calvário, que mudou o nome do trecho entre a rua da Vala e dos Ourives (Miguel Couto) para do Bom Jesus. A ocupação do antigo Campo da Cidade, formado pela área que se estendia ao norte da Vala prolongou a rua do Sabão e a de São Pedro, vias paralelas começando no litoral, até o Campo de Santana, ainda no século XVIII. Quando a família real portuguesa chegou, em 1808, a rua já tinha um só nome, era simplesmente a rua do Sabão.
Como via cujas origens remontam aos primeiros tempos da cidade, abrigava ou se ligava a logradouros e construções de destacado valor histórico. Além da Igreja do Bom Jesus do Calvário e seu hospital, na esquina com a rua da Conceição estava a Igreja da Conceição do Cônego, construída em 1757. Mais abaixo, no Largo de São Domingos (próximo a atual Av. Passos) estava a igreja de mesmo nome, construída por escravos quando só havia mato no local, e, próximo ao Campo de Santana, o Paço Municipal, obra de José de Sousa Monteiro, discípulo de Grandjean de Montigny, inaugurado em 1882. Dentre os vários moradores famosos, destaca-se Mestre Valentim, que viveu e tinha oficina em uma casa térrea.
A rua do Sabão, conhecida desde 1870 como General Câmara, desapareceu no anos 40 com a construção da Avenida Presidente Vargas, junto com a de São Pedro e tudo que havia entre elas, causando dano irreparável ao patrimônio da cidade. Dos mais de 500 imóveis desaparecidos, uma pequena parte pode ser vista no Largo do Boticário, pois seu material de demolição foi empregado em uma restauração feita por iniciativa da jornalista Sylvia Bittencourt, na época da abertura da avenida. O Largo do Boticário, por seu turno, necessita de cuidados e manutenção, pois está relegado a um estado de abandono incompatível com sua importância histórica e estética.
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