É prática comum, tanto aqui quanto noutras
cidades, homenagear personagens do passado atribuindo seu nome a ruas e outros
logradouros, como praças, largos, etc. Isso muitas vezes ocorre de forma
arbitrária, eliminando a expressão popular baseada em longa tradição local,
cortando os vínculos com a história e mutilando assim a memória coletiva. Em
alguns momentos, contudo, a lembrança é mais que justa, sobretudo quando até
então não se havia recompensado um grande vulto. Foi o caso da rua e posterior
avenida Gomes Freire.
Avenida Gomes Freire nos anos 30, vista da
Visconde do rio Branco
Talvez o mais importante dos governadores do período
colonial, Gomes Freire de Andrade iniciou seu mandato em 1733, tendo realizado
inúmeras obras em favor da cidade de sua adoção. É mais conhecido por ter
construído os Arcos da Carioca, em substituição aos antigos, que se encontravam
em estado precário, mas também efetuou a reconstrução de todo aqueduto, desde
sua captação na serra do Corcovado. O Paço dos Governadores, posteriormente
Imperial, também é iniciativa sua, auxiliado pela perícia de seu engenheiro, o
Brigadeiro Alpoim. Iniciou as obras da nova Sé, que deram origem a Escola
Politécnica, prédio onde funciona o Ifics da UFRJ, no Largo de São Francisco,
além de trabalhos em fortalezas, abertura de ruas e muito mais. Gomes Freire
faleceu em 1763 e foi enterrado no Convento de Santa Teresa, mais uma obra que
também havia tornado possível, merecendo por esta razão a gratidão das
religiosas reclusas.
O ilustre personagem, contudo, não havia até
1917 recebido a justa homenagem pelos seus trinta anos de serviços em favor do
Rio de Janeiro, prestados aliás em uma época assaz difícil. A nova via foi
aberta entre a rua do Riachuelo e a Visconde de Rio Branco, em uma área
originalmente ocupada por diversas valas, e que foi lentamente drenada. O grande
quadrilátero formado pelas ruas do Riachuelo, Inválidos, Lavradio e Visconde do
Rio Branco começou a ser conquistado pelo vice-rei Marquês do Lavradio em 1771,
abrindo a rua que até hoje leva seu nome. A dos Inválidos foi aberta pelo Conde
de Resende 20 anos depois, sendo assim chamada após a construção do asilo dos
Inválidos em 1794, para soldados desvalidos ou enfermos. O nome original da rua
era São Lourenço, e o asilo ficava em uma chácara onde está hoje um prédio
monstruoso que tantos problemas causou aos imóveis da região.
Mapa de 1796 feito pelo
engenheiro Correia Rangel mostrando as diversas valas na região onde foi
aberta a Avenida Gomes Freire
A Avenida Gomes
Freire cruzava a Avenida Mem de Sá, aberta durante gestão de Pereira Passos na
prefeitura, e seu encontro logo foi chamado de Praça dos Governadores, em
lembrança aos ilustres personagens. O local foi posteriormente rebatizado de
Praça João Pessoa, iniciativa política totalmente estranha à história local.
Seria oportuno e mais que justo que voltasse a ser chamado pelo seu nome
original, resgatando à memória coletiva, ainda que de forma modesta, um pouco de
sua própria história.
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