A perplexidade do homem diante do universo fez com que criasse idéias e conceitos religiosos e filosóficos, para tentar compreender qual seu lugar na grande confusão cósmica, e o sentido de uma vida que, um dia, acaba terminando. Além disso, as diferentes trajetórias individuais, muitas vezes determinadas por eventos involuntários, sugeriram a existência de uma mão invisível, que dispensaria a seu bel-prazer quinhões de sorte, quase sempre injustamente, dando muito a poucos e pouco a muitos. A essa entidade chamou-se destino, e, por mais que a mente racional-científica-individualista da cultura atual tente negar, sua presença em certos casos é difícil de ser ignorada.
Um personagem da história do Rio cuja vida bem poderia ilustrar o que está acima foi o Barão de Nova Friburgo, que viveu durante o século XIX. Antonio Clemente Pinto, era esse seu nome, português de nascença, era mais um a tentar a sorte em terras brasileiras, seguindo o exemplo de muitos patrícios, que, após anos de esforço e privação, conseguiram juntar um cabedal suficiente para uma aposentadoria confortável. Mas o destino — é forçoso dizer — quis de outra forma. Um belo dia, seu caminho cruza com o do Barão de Ubá (João Rodrigues de Almeida), que sofre um acidente e é socorrido por Antonio Clemente, o qual recebe a gratidão do barão, que decide auxiliar o jovem sem recursos.
O Palácio do Catete ainda com as estátuas originais, no começo do século XX
Optando pela lavoura do café, então em plena expansão, começa a plantar em Cantagalo, Estado do Rio, e, com o passar dos anos, torna-se um dos homens mais ricos do Império. Sua fortuna permitiu, em dado momento, construir um palácio de grandes dimensões na Côrte, em parte para atender às demandas da esposa. O terreno adquirido era enorme, indo da Praia do Flamengo até a rua do Catete. Um fato curioso a respeito da construção é sua singular posição, em frente à rua, quando seria mais natural estar no centro do terreno, com maior privacidade. A esse respeito, o historiador Brasil Gerson conta que, ao ver o projeto, a esposa do Barão lhe disse: "— Ó Barão, pensas que vou descer lá da fazenda, no meio do mato, para ficar também cercada de mato aqui? Quero a casa com janelas para a rua!"
Assim se fez, e o palacete estava concluído em 1862, ornando o Catete com seu símbolo mais conhecido, até hoje. O barão faleceria poucos anos depois, e seus herdeiros venderam a propriedade a uma empresa que pretendia transformá-la em hotel, mas, com a República, o negócio não foi adiante, e as dívidas fizeram com que acabasse nas mãos do Banco do Brasil, e, posteriormente, do governo. Em 1897 passou a ser sede do poder federal, até a construção de Brasília.
Outra vista do palácio com as antigas estátuas em seu topo
Além de mudanças internas, foi feita no início do século passado uma alteração na fachada do prédio, talvez a mais visível. Essa era originalmente encimada por um grupo de estátuas clássicas representando o comércio, a indústria, etc., as quais foram substituídas por águias, feitas pelo escultor Rodolfo Bernardelli, sem dúvida belas, mas que mudaram um pouco o aspecto original. Por que os ocupantes do poder escolheram águias? Não sabemos, mas a mensagem subconsciente era bastante reveladora, com elas muitas vezes simbolizando a rapacidade dos governantes, sempre dispostos a predar o bolso do contribuinte, quando a ocasião é favorável...
A longa história republicana do Palácio do Catete é pontilhada de acontecimentos marcantes, como é notório, sendo o mais trágico e importante o suicídio do presidente Getúlio Vargas, em 1954. Esse ciclo se encerra em 1960, com a mudança da capital para o planalto central. Completando 150 anos de existência, é hoje sede do Museu da República e visita obrigatória para todos que desejam conhecer uma parte importante de nossa história.
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