Múmia de imperatriz surpreende pesquisadores
Segunda mulher de Dom Pedro I, Dona Amélia tem pele e órgãos internos preservados
18 de fevereiro de 2013 | 13h 10
Edison Veiga e Vitor Hugo Brandalise - O Estado 
de S. Paulo
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SÃO PAULO - Uma das 
principais revelações do estudo arqueológico nas figuras históricas foi o fato 
de que d. Amélia de Leuchetenberg, segunda mulher de d. Pedro I, foi mumificada 
- um dado até aqui desconhecido de sua biografia. A imperatriz, que morreu em 
Lisboa em 1876 e cujos restos mortais foram trazidos à cripta do Ipiranga em 
1982, conserva pele e órgãos internos intactos. Cabelos, cílios, unhas, globos 
oculares e órgãos como o útero estão preservados.
"É uma das múmias em 
melhor estado de conservação já encontradas no País. Agora, precisamos pesquisar 
para entender exatamente por que ela ficou assim e, mais importante ainda, 
compreender melhor quem foi essa mulher, uma imperatriz esquecida na História do 
Brasil", diz a arqueóloga Valdirene Ambiel, responsável pelas pesquisas na 
cripta do Ipiranga. "Quando a trouxeram à cripta, em 1982, dizia-se que ela 
estava 'preservada', mas ninguém sabia que poderia ser considerada 
múmia."

As causas exatas da 
mumificação de d. Amélia ainda estão sendo investigadas - não era comum entre a 
nobreza de Portugal que mulheres recebessem tratamento para ficarem preservadas. 
"Pode ter sido um 'acidente de percurso'. Ela foi tratada para ficar conservada 
alguns dias, para o funeral, e isso acabou inibindo o processo de decomposição", 
diz Valdirene. Os exames no Hospital das Clínicas revelaram uma incisão na 
jugular da imperatriz. Por ali, foram injetados aromáticos como cânfora e mirra. 
"No caso de d. Amélia, havia um forte odor de cânfora quando abrimos o caixão. 
Certamente, ajudou a anular o processo de decomposição."
Também 
contribuiu para a mumificação, segundo a pesquisadora, a ausência de fatores 
para a decomposição. "A urna foi tão hermeticamente lacrada que não havia 
microorganismos para realizar a decomposição. É irônico que tenha acontecido 
justamente com Amélia, que pediu expressamente um funeral simples, nos quais não 
se costumava preparar os mortos para preservação", explica Valdirene, 
referindo-se ao testamento de Amélia de Leuchtemberg, no qual consta o pedido de 
um funeral sem ostentações. O documento, porém, só foi lido após o enterro, 
quando a mumificação já havia sido preparada.
Após passar pelo aparelho 
de tomografia do Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas e de receber 
uma biópsia, a imperatriz foi "remumificada" - ela recebeu novo processo de 
embalsamamento, semelhante ao qual havia passado 136 anos antes. Valdirene 
também foi a responsável por preparar e aplicar na múmia uma solução semelhante 
à usada em Portugal no século 18 (500g de naftalina, 500g de cânfora, 300g de 
manganato de potássio, 2,5 litros de álcool a 92%, 2 litros de formol e 500g de 
timol). Com gaze e algodão, passou a mistura em todas as partes visíveis da 
imperatriz - face, pés, mãos e pescoço. "Também passamos a solução nas laterais 
do corpo preservado, para que receba o tratamento por absorção. Nas costas ficou 
do jeito que estava, já que não podíamos levantá-la do caixão", conta a 
arqueóloga.
Com a descoberta, o caixão de d. Amélia recebeu um visor de 
vidro, que permitirá - apenas a pesquisadores - observar seu estado de 
conservação. No plano que apresentou à Prefeitura, Valdirene se propõe a fazer 
visitas semanais à cripta, para checar a preservação da múmia. "Faz parte do 
projeto de preservação dos restos mortais da família imperial. Precisamos tomar 
conta das descobertas", diz. 
 
 
 

 
  
 
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