O belo teatro São Pedro, onde brilhou João Caetano no século XIX
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O teatro brasileiro do século XIX foi marcado por aquele que talvez tenha sido seu personagem mais importante, pelo menos históricamente, o ator e empresário João Caetano.
Suas mais célebres e consagradoras apresentações aconteceram no palco do mais famoso teatro da época, o São Pedro, na Praça Tiradentes, antigo Largo do Rocio da cidade.
O nascimento desta casa de espetáculos é devido a Fernando José de Almeida, o Fernandinho, barbeiro e cabeleireiro de D. João VI, que, como hábil puxa-saco, acabava conseguindo todo tipo de favores.
Assim recebeu um terreno no canto da praça, na esquina com a rua do Sacramento (Av. Passos), e com o patrocínio real, a construção terminaria em 1813, três anos após seu início.
Obra impressionante para os padrões da época, pois só a platéia tinha capacidade para 1020 espectadores, além de acabamento primoroso. Recebeu o nome de Real Teatro São João, em deferência ao rei português.
Além dos espetáculos, foi cenário de um importante acontecimento político quando, em 1821, o príncipe D. Pedro comunicava de sua varanda a aceitação, por parte de D. João VI, da Carta Constitucional, pressionado pela ameaça de sedição das tropas portuguesas presentes na cidade.
Em 1823, acontecia o primeiro dos incêndios, ao qual o povo atribuiu uma maldição oriunda do fato de que, na sua construção, foram aproveitadas pedras originalmente destinadas à construção da nova Sé, obra iniciada e abandonada. Fernandinho agiu rápidamente e, com um empréstimo do Banco do Brasil, logo o reconstruiu.
A reinauguração ocorreu em 1828, quando o nome foi mudado para D. Pedro de Alcântara, homenageando o imperador brasileiro.
O não pagamento do empréstimo fez com que o teatro mudasse de mãos, e, em 1839, após novas reformas, reabriu como São Pedro de Alcântara, sendo em 1843 arrendado a João Caetano, já então o mais consagrado ator brasileiro. Em 1851, grande infortúnio se abate sobre a casa, com mais um incêndio a destruindo.
João Caetano assume a responsabilidade e o reconstrói, voltando à ativa no ano seguinte, mas, em 1856, ocorre outro incêndio, desta vez com destruição completa, só restando as paredes externas. Mais uma vez renasce, e, no ano seguinte volta como Teatro São Pedro.
A reforma foi excelente, com camarotes amplos, decoração bem cuidada e uma acústica excepcional.Em 1923, o São Pedro recebe o nome de João Caetano, justa homenagem àquele que mais brilhou em seus palcos e que tanto lutou pela sua existência, quando a tragédia na vida real aconteceu.
Em 1928, contudo, a trajetória mais que centenária da casa é interrompida quando, com o pretexto de reformas, o prefeito Prado Júnior demole o venerável prédio e constrói o atual, que, apesar de ser uma importante casa de espetáculos, não se compara ao original, tanto em termos históricos como estéticos.
Após sobreviver a três incêndios destruidores, nada pôde contra aqueles para os quais o legado do passado é um obstáculo incômodo, a ser arrasado sempre que possível.
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