Após a guerra do Paraguai, em 1870, a paisagem carioca ganhou um novo elemento, que nos anos seguintes se disseminaria por grande parte da cidade.
Não se tratava de nenhuma melhoria do serviço público, mas de inúmeras unidades comerciais de pequeno porte, espalhadas pelas ruas, as quais, pela sua peculiaridade visual, receberam o nome de quiosque.
Imitação de congêneres europeus, eram estruturas de madeira de formato hexagonal, pintadas de côres diversas, evocando uma atmosfera oriental pelas suas formas, especialmente a cobertura de zinco.
Originalmente destinados à venda de livros, cartões-postais, revistas e jornais, como um complemento e adorno às ruas, sua utilização com o tempo acabou se desviando bastante da original.
Após algum tempo, a maioria deles passou a vender cachaça, café de má qualidade, sardinhas fritas, bilhetes de loteria e jogo de bicho.
O antigo quiosque e seu público, para muitos um incômodo vizinho
Tornando-se fundamentalmente um ponto de venda de bebidas, seus clientes, de condição modesta, geralmente não primavam pelo asseio e educação, tornando sua vizinhança altamente inconveniente, que ninguém desejava por perto.
Uma das melhores descrições da repulsa existente na época foi feita pelo escritor Luiz Edmundo:
"Contra o monstro do quiosque e sua freguesia reclamam as famílias, os homens de negócio e até as gazetas... mas ninguém tem coragem de com eles acabar, os homens de estado encolhem-se, os prefeitos desconversam, os fiscais engordam...".
Por trás desse comércio está Luiz de Freitas Vale, o Barão de Ibirocaí, dono do negócio desde 1898.
Milionário com pretensões a origens aristocráticas, a fortuna de Freitas Vale era aumentada pelos pequenos botequins, sustentando mansão em Petrópolis e hábitos dispendiosos.
O povo passou a chamá-lo de barão de Ibiroquiosque, uma mordaz ironia, referindo-se a este seu ramo de negócios.
Com as reformas da gestão de Pereira Passos na prefeitura, a situação dos quiosques se tornou insustentável, pois, pelo menos na área central, não se desejava nada que pudesse macular os ares progressistas.
A burguesia se apossou do território e desejava escamotear e banir para longe a pobreza e a lembrança do passado, incompatíveis com a nova Paris tropical, o que levou, em 1906, a um ataque aos quiosques do centro, no qual vários deles foram destruídos e incendiados com querosene por grupos revoltados.
Os quiosques continuaram a existir até 1911, quando seu contrato encerrou e recolheram-se-se os restantes.
A história dos velhos quiosques mostra o quanto é difícil e complexa a administração do espaço público, arena onde se encontram interesses diversos, com freqüentes conflitos.
É preciso conciliar o direito da maioria à livre locomoção e limpeza com as concessões ao comércio de rua que, se bem organizado e localizado, pode oferecer uma contribuição positiva à cidade.
Seja como for, a omissão por parte do poder público em enfrentar a questão, como várias vezes aconteceu ao longo do tempo, é algo que simplesmente não pode mais acontecer.
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