17/02/2010 - 18:01 Enviado por: Paulo Pacini
Quando tornou-se vice-rei do Brasil em 1806, Dom Marcos Noronha, o Conde dos Arcos, desfrutava de grande apreço junto ao povo da Bahia, sob competente administração há anos.
O carinho dos baianos chegou a ponto de, através de doações públicas, construírem uma moradia digna para seu ex-governador no Rio de Janeiro, para onde se mudaria.
A casa, obra de artífices baianos especialmente enviados, foi erigida no Campo de Santana, esquina com rua do Areal, antigo Caminho de Capueruçu, hoje rua Moncorvo Filho.
Nascia o Palácio do Conde dos Arcos.
O Palácio do Conde dos Arcos, um presente do povo baiano
Seu vice-reinado pouco duraria, pois, dois anos depois, chegava no Rio a côrte portuguesa, fugindo de Napoleão.
Os excelentes serviços prestados pelo conde, contudo, garantiriam posição de destaque no novo contexto político, com a elevação da antiga cidade colonial a capital do reino.
Permaneceu no governo da coroa até 1822, quando D. Pedro I o dispensou, retornando a Portugal.
Após a Independência, o palácio foi adquirido em 1824 para sediar o Senado do Império, que realizou sua primeira sessão dois anos depois, em maio de 1826.
A antiga residência tornou-se palco da vida política brasileira, onde ocorreram alguns dos acontecimentos mais importantes, como a eleição da Regência Provisória, em 1831, o juramento solene de Pedro II, em 1840, ao ser declarada sua maioridade, o juramento da Princesa Isabel em 1860 como herdeira ao trono e a votação da Lei Áurea, que aboliu a escravatura, em 1888.
Parada em frente ao antigo Senado, no início do sec. XX
O prédio, adequado como moradia, sofria com o grande movimento decorrente de sua nova função, e uma manutenção precária levou ao desabamento parcial do teto e telhado em 1829 e 1831, decidindo-se neste último ano fechar o edifício para reformas.
Foi reaberto em 1835, mas por pouco tempo. No ano seguinte, 1836, novas obras, para reparar danos causados por cupins, retornando os parlamentares ao local só em 1840.
Apesar das limitações, o senado continuou funcionando no antigo palacete, mesmo após a proclamação da república, em 1889.
Em 1919, nova reforma e ampliação, que lhe deu uma sobrevida até 31 de dezembro de 1924, quando o órgão foi transferido para o Palácio Monroe, na Cinelândia.
Lá ficou até 1960, quando mudou-se para Brasília, recentemente inaugurada.
A casa do Conde dos Arcos, por cem anos lar do senado no Império e República, passou desde então a abrigar a Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, hoje UFRJ, permanecendo até o presente.
É um dos prédios de maior relevância da Praça da República, logradouro com um dos mais expressivos conjuntos arquitetônicos da época do Império a perdurar até os dias de hoje.
Seria oportuno e culturalmente válido estender a recente restauração feita no prédio do Arquivo Nacional a outros imóveis de importância no local, muitos em lamentável estado de abandono.
Sua proteção e valorização são as únicas garantias para a permanência futura de uma parte da cidade que testemunhou acontecimentos históricos marcantes, ao longo de mais de dois séculos de história.
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