Nada era mais estranho à juventude carioca do século XIX que a prática de esportes.
Ao contrário de hoje, o esforço físico era tido como prejudicial e sempre que possível evitado para proteger a saúde, pois qualquer enfermidade podia tornar-se fatal.
As poucas exceções à regra provinham de indivíduos ligados às forças armadas ou à canoagem na baía de Guanabara, cuja origem se perdia no tempo, sendo muito anterior à chegada dos colonizadores portugueses.
As primeiras disputas da modalidade se deram em torno de 1850, por iniciativa de alguns adeptos.
Um dos registros mais antigos é de 1846, com uma regata entre duas canoas de Jurujuba à praia de Santa Luzia, no Rio.
Uma curiosidade para a época, este tipo de competição se repetiria esporadicamente, como em 1851, 1855, 1862 e 1888.
Ao se aproximar o final do século, o esporte ganha popularidade, coincidindo com a fundação de alguns dos clubes mais conhecidos, como Flamengo, Botafogo e Vasco, que posteriormente desenvolveriam sua divisão de futebol.
Outros, famosos na época, como o Boqueirão do Passeio, iriam desaparecer.
Domingo de festa, regata em Botafogo na década de 1910
Neste tempo, a enseada de Botafogo era a preferida dos esportistas. Águas relativamente calmas e proximidade com o centro da cidade, onde estavam as sedes da maioria dos clubes, consagraram o local.
Na praia, uma estreita faixa de areia recebia os barcos após as regatas, tendo à sua volta um público empolgado, cuja presença conferia mais brilho aos eventos.
Mas em realidade ainda se lidava com a improvisação, pois eram necessários investimentos mínimos em infraestrutura para maior sucesso dos espetáculos.
Tal ocorreria no início do século seguinte, sob o comando de Pereira Passos na prefeitura do Distrito Federal.
No processo de urbanização da orla, do centro à zona sul, a linha costeira foi retificada no Flamengo e em Botafogo, e construída a avenida Beira-Mar.
Do traçado original, o mar recuou dezenas de metros em Botafogo, através de um grande aterro.
Foram construídas pistas de acesso e jardins, e, junto à orla, um muro de pedra que resistisse às imprevisíveis ressacas.
Coroando a obra, em 1905, foi erigido um pavilhão no meio da enseada, com elegante estrutura metálica.
Ponto de chegada das regatas aos domingos, esta novidade contribuiu para o fim do preconceito contra a modalidade, que passou a atrair a elite da sociedade, cujos filhos adotariam o esporte que décadas antes era tido como atividade socialmente inferior e inadmissível.
O pavilhão de Passos testemunhou inúmeros eventos, como o primeiro Campeonato de Remadores do Brasil, em 1911, disputado com barcos de quatro remos e vencido pelo Rio de Janeiro, e uma regata internacional em 1922, em comemoração ao centenário da Independência.
A partir de 1927, as competições seriam disputadas na Lagoa Rodrigo de Freitas, levando a seu abandono e desaparecimento.
Suas imagens, contudo, permanecem como testemunho do nascimento esporte como atividade popular e indissociável da vida moderna do Rio de Janeiro.
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