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segunda-feira, 19 de abril de 2010

A RUA DA CARTOMANTE



19/04/2010 - 06:41 Enviado por: Paulo Pacini


Em 1884, aparecia na Gazeta de Notícias um dos mais populares contos de Machado de Assis, "A Cartomante", que narra a história de um triângulo amoroso terminando mal após os amantes seguirem os conselhos da profetisa, que lhes acenava um futuro cor-de-rosa.


A curta e brilhante narrativa, enredo de dois filmes e de especiais na TV, acontece em conhecido local da época, a rua da Guarda Velha (Treze de Maio), que, além de cenário do conto, tem um rico passado.


No início da colonização, a área que vai do Largo da Carioca até a Cinelândia compunha-se de uma lagoa, chamada de Santo Antônio após a construção do convento franciscano no morro em frente.


Local pouco habitado, iniciaria sua transformação depois da chegada dos religiosos, pois, entre as obrigações assumidas pelo governo da coroa com a ordem, incluía-se a construção de uma vala para sangrar as águas da lagoa, o que ocorreu em meados do século XVII.


Pouco a pouco, conquistava-se o terreno em favor da cidade.



A ainda machadiana rua da Guarda Velha (13 de maio) em 1900


A inauguração do chafariz da Carioca deu novo impulso à urbanização, e, finalmente, durante o governo de Gomes Freire (Conde de Bobadela, 1733-63), fez-se um aterro ligando a Carioca ao Largo da Mãe do Bispo (na Cinelândia), facultando a abertura de uma rua neste trajeto.


O povo a chamou de Rua Bobadela, homenageando seu governador. Iniciava junto ao chafariz, onde havia uma sentinela, destinada a evitar os tumultos entre os escravos que iam buscar água. Gomes Freire a transformou em posto policial, chamado pelo povo de Guarda Nova, em contraste com a anterior guarita da Guarda Velha, nome que com o tempo passou a ser também o da rua Bobadela.


Na época do Império, abrigou vários prédios importantes, como a Imprensa Nacional, o Teatro Lírico e o Liceu de Artes e Ofícios, que funcionou em uma casa construída em 1816 por José Lobato, guarda-jóias de D. João VI.


Este mesmo local foi invadido em 1823 por D. Pedro I acompanhado por soldados, para desbaratar a sociedade secreta "O Apostolado", fundada por José Bonifácio.


Suspeitava estarem tramando seu assassinato, a partir de denúncia anônima.


No dia seguinte, o patriarca da Independência é demitido, partindo para o exílio alguns meses depois.


Próximo ao local ficava a talvez primeira fábrica de cerveja do Brasil, inaugurada em 1863.


A Cervejaria da Guarda Velha, assim chamada popularmente, colocou em seu jardim algumas mesas e cadeiras, onde seus clientes podiam saciar a sede.


Para incrementar ainda mais o negócio, contrataram-se músicos, o que acabaria originando o Café-Concerto da Guarda Velha.


Freqüentado por artistas de diversas nacionalidades, transformou-se em um dos locais mais movimentados da vida noturna do século XIX.


Em 14 de maio de 1888, a Guarda Velha recebeu seu nome atual, 13 de Maio, em homenagem à Lei Áurea, assinada um dia antes.


Pouco reconhecível hoje em dia, sua história nos fala de uma cidade mais pitoresca e tranqüila, com suas ruas e sobrados a evocar imagens de personagens envoltos em romance e mistério.

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