03/05/2010 - 06:17 Enviado por: Paulo Pacini
No distante século XVI, quando mal havia nascido o Rio de Janeiro, uma mulher — seu nome a história esqueceu — ergueu à beira-mar, na várzea da cidade, uma ermida dedicada a N.Sª do Ó, cujo culto se originou mil anos antes em Toledo, na Espanha.
Quando em 1589 aportaram os frades beneditinos, lhes foi oferecido como residência a dita ermida, assim como a casa de romeiros anexa.
Os religiosos aceitaram, mas tiveram curta estadia, pois em 1590 iniciaram a construção de seu mosteiro.
Nesse mesmo ano, o local receberia hóspedes permanentes, frades da Ordem do Carmo que, após recusarem as terras oferecidas na área do Morro de Santo Antônio, posteriormente cedidas para os franciscanos, decidiram se instalar no arremedo de templo.
Através de numerosas doações, puderam iniciar a edificação de seu convento a partir de 1619, quando foram autorizados a extrair e utilizar as pedras da Ilha das Enxadas.
Nos primeiros anos, o mar ainda batia à porta do prédio, tendo em uma ocasião até mesmo uma baleia encalhado em frente.
A antiga Capela Imperial e Catedral Metropolitana em 1900,
ao lado da igrejada Ordem Terceira de N.Sª do Carmo
Mas os aterros contínuos iam afastando o mar, e o terreno conquistado fronteiro ao convento era reivindicado pelos carmelitas como propriedade sua, o que era tacitamente aceito.
Esta área foi o embrião da atual Praça XV, e sua existência entre nós deve-se à obstinação da ordem religiosa em defendê-la dos golpes e artimanhas que os vereadores do tempo tramaram para lotear e vender as terras públicas, coincidência estranha, para amigos e parentes.
Como se vê, nada de novo sob o sol.
A ermida se transformou na Igreja do Convento, mas, construção fraca e precária, em um dia nefasto desabou, causando a morte de vários fiéis.
Já em 1686 o templo apresentava enorme rachadura, sendo a parede escorada, solução temporária que, ao se prolongar, acabou gerando a tragédia.
Decidiu-se então erigir um novo templo, e em 1761 é dada partida aos trabalhos.
Estes se estenderam por décadas, e quando a família real portuguesa chegou em 1808, as obras ainda não haviam terminado, estando a fachada incompleta.
Como a recente situação política transformou subitamente o templo em Capela Real, foi colocado às pressas um frontão de madeira contendo as insígnias reais, denotando o novo status da casa.
Nesta nova fase, a antiga igreja foi palco de importantes eventos na vida do reino e do império, pois em junho de 1808 foi elevada a Catedral.
Nela aconteceu a sagração e coroação dos imperadores brasileiros, Pedro I, em 1822, e Pedro II em 1841.
Também a Princesa Isabel foi batizada e lá se casou com o Conde D'Eu, só para citar algumas ocasiões de destaque durante o século XIX.
O tempo e as transformações urbanas impuseram algumas reformas que conferiram o atual aspecto, principalmente após o alargamento da rua 7 de Setembro, cem anos atrás.
Depositária de uma história secular, continuou como Catedral Metropolitana até 1979, quando a Sé passou a funcionar no templo da Avenida Chile, obra desproporcional e de gosto no mínimo duvidoso.
Mas essa é outra história.
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