O Chafariz do Lagarto
21/11/2010 - 09:19
Enviado por: Paulo Pacini
JB
Dentre todos elementos naturais, o que mais marcou e influenciou a história carioca foi sem dúvida alguma a água. Para começar, foi caminho para os primeiros exploradores que, provenientes da Europa, atravessaram o tenebroso mar em frágeis caravelas. Tendo sido expulsos os franceses e a cidade erigida no Castelo, o abastecimento de água potável tornou-se então a primeira necessidade da colônia.
Apesar da maior parte do terreno conter pântanos e lagoas, não se podia contar com esse suprimento contaminado, e assim, além do pouco obtido nos poços, devia-se peregrinar até o rio Carioca, no Flamengo, para trazer de volta os barris e moringas, uma viagem exaustiva feita por índios e escravos. Este movimento, todavia, foi a origem da ocupação da zona sul, começando pelo Catete e Glória.
Chafariz do Lagarto: obra colonial a ser preservada
O crescimento durante o século XVIII levou à captação e transporte da água do rio Carioca por aqueduto, sendo o líquido distribuído no Chafariz da Carioca, obra que deu nome ao largo construído sobre a lagoa de Santo Antônio. Contudo, a expansão ao norte demandava abastecimento mais próximo. Durante o governo de Luís de Vasconcellos é construído um novo aqueduto que, partindo da Cova da Onça (rua Barão de Petrópolis) seguia pelo Catumbi, na encosta do morro de Paula Matos, terminando em um pequeno chafariz, no encontro da rua de Matacavalos (Riachuelo) com a Estrada de Mata-Porcos (Frei Caneca), próximo à lagoa de Capueruçú.
A obra foi provávelmente encomendada à Mestre Valentim, que criou um arranjo singelo e elegante, composto por um altar similar aos das igrejas, com duas colunas, um nicho e um medalhão com a data de 1786. Abaixo, um lagarto de bronze vertia o líquido pela boca, abastecendo o pequeno tanque. Alívio para os moradores das redondezas e estímulo à ocupação do local, as águas do lagarto serviram a várias gerações, tanto de pessoas quanto animais de carga, até as primeiras décadas do século passado.
O chafariz, contudo, enfrentaria duros tempos, e, apesar de tombado pelo patrimônio histórico em 1938, teve o lagarto de bronze roubado em 1975, sendo substituído por uma reprodução de ferro. Sobre este e outros monumentos paira a permanente ameaça do roubo e vandalismo, este último chamado por alguns, por irresponsabilidade ou pusilanimidade, de "arte". De fácil prevenção e solução, haja vista os abundantes meios de vigilância eletrônica, a proteção ao patrimônio depende de uma ação mais incisiva por parte das autoridades competentes, que, até o presente momento, deixaram muito a desejar.
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