Santo Antônio dos Pobres
08/03/2011 - 17:35
Enviado por: Paulo Pacini
JB
Como toda cidade antiga, o Rio de Janeiro foi palco de inúmeros acontecimentos, dos quais sua configuração urbana é de certo modo testemunha, ainda que silenciosa e indireta.
A área de destaque da história carioca sempre foi a região central, a qual, irradiando-se do Morro do Castelo, ganhou inicialmente a várzea próxima à Praça XV e interiorizou-se rumo a uma área então indefinida, chamada de Campo da Cidade.
A expansão ocorrida durante o século XIX incrementou a urbanização em trechos relativamente periféricos, sendo drenadas as últimas áreas alagadas e desmembradas as grandes chácaras em terrenos menores, onde se ergueram imóveis residenciais ou comerciais, trazendo gente para regiões pouco povoadas.
Foi em um local deste tipo que, em 1807, iniciou-se a construção da Igreja de Santo Antônio dos Pobres, por iniciativa de Antônio José de Souza Oliveira, que comprou um terreno na esquina da Rua dos Inválidos com Senado, e doou-o à Venerável Irmandade de Santo Antônio dos Pobres.
Em 1811, há 200 anos, portanto, era inaugurado o templo de linhas modestas, mas prestigiado pela nobreza da época, a qual incluía D. João VI e sua esposa Carlota Joaquina.
De 1828 a 1832 nela residiram os Capuchinhos italianos, retirando-se após vários desentendimentos.
Em 1854, é elevada a matriz da recém-criada paróquia de Santo Antônio, tendo sido iniciada uma restauração geral do templo, que se encontrava em más condições.
Antiga igreja de Santo Antônio dos Pobres, dois séculos sob a ameaça das novas e monstruosas construções
A deterioração posterior do prédio em mais de um século tornou necessária sua reconstrução, iniciada em 1940.
Seis anos depois, os trabalhos eram concluídos, legando à cidade o prédio atual, com diferenças estéticas em relação ao antigo templo, mas com mesmo valor histórico.
Esta velha igreja, completando dois séculos no presente ano, enfrentou últimamente problemas provávelmente causados pela construção de um prédio monstruoso no terreno ao lado, originalmente formado por desapropriações ocorridas durante o governo Moreira Franco em 1988 para as obras de construção da Linha 2 do metrô, que deveria passar pela Av. Henrique Valadares rumo à Estação Carioca, onde seria feita a transferência para a Linha 1.
Nada disso: em vez de transporte, mais um espigão.
A construção de um prédio de tais proporções em uma área até o presente relativamente conservada, com seu comércio tradicional em casas e sobrados, certamente irá inaugurar um ciclo de especulação imobiliária no local, da qual não se deve esperar boa coisa.
A tradicional igreja de Santo Antônio dos Pobres certamente resistirá a essa próxima maré, mas o destino dos prédios à sua volta é mais incerto, podendo ceder lugar a novas, antiestéticas e desumanas construções ou então se transformar em mais um terreno baldio convertido em estacionamento.
Resta orar ao santo, na esperança que sua força possa proteger e conservar este trecho pouco conhecido da cidade, pelo menos por mais algum tempo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário