14/09/2009 - 09:49
Enviado por: Paulo Pacini
JB
Em meados dos anos 1810, desembarcava no Rio de Janeiro aquele que se tornaria um dos personagens mais conhecidos do século XIX, e uma das forças originais na transformação dos costumes locais pela introdução de uma cultura mais metropolitana.
Louis Pharoux, nascido em Marselha, lutou ao lado de Napoleão e decidiu exilar-se e reconstruir sua vida nos trópicos por razões políticas, segundo ele próprio. Após conhecer melhor nossa cidade, o que constatou só fez reforçar sua intenção original de construir um novo hotel, oferecendo serviços em nível compatível com os padrões europeus. Na verdade, a capital do reino era muito mal servida neste aspecto. Fora algumas exceções, as hospedagens eram pouco mais que pousadas pulguentas, e Pharoux transformaria radicalmente essa situação.
Cais e Hotel Pharoux na Praia Dom Manuel, século XIX
Em 1816 surgia seu hotel, que se tornaria uma das mais conhecidas instituições do século XIX carioca. Localizava-se na rua Fresca (depois rua Clapp), esquina do Largo do Paço (Praça XV), com os fundos dando diretamente para o mar, onde havia um cais de desembarque, que acabou sendo óbviamente consagrado como Cais Pharoux.
Além de boas acomodações, o público foi imediatamente conquistado pela boca, pois a cozinha era excelente, além de serem oferecidos vinhos franceses de qualidade, tornando o Pharoux um verdadeiro oásis de civilização e bom gosto em uma terra embrutecida e isolada do mundo por séculos de administração despótica.
Fora os serviços, o hotel incluiu em sua rica história um capítulo ligado aos primórdios da fotografia no Brasil e no mundo. Em 1839, chegava em viagem de instrução a corveta francesa L'Orientale, que funcionava como uma escola flutuante, trazendo vários professores, e, dentre eles, um padre chamado Combes.
Quando estava hospedado no Pharoux, Combes fez demonstrações da recém-descoberta daguerreotipia, e tirou aquela que talvez tenha sido a primeira fotografia no Brasil, retratando o Largo do Paço e adjacências. Alguns anos depois, em 1843, se instalou no mesmo local o primeiro atelier deste gênero, iniciativa de dois ingleses.
Hoje em dia, apesar do mar ter recuado dezenas de metros por sucessivos aterros, e de obras como a Perimetral terem destruído e desfigurado a maior parte da região, o cais em frente ainda é chamado de Pharoux, homenageando o antigo hoteleiro que conquistou seu nome na história pela simpatia e bons serviços, há quase duzentos anos.
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