07/09/2009 - 20:50
Enviado por: Paulo Pacini
JB
É provável que a passagem mais conhecida na Bíblia seja aquela em que, no Gênese, Deus cria a luz, iluminando as trevas do abismo. A centelha original se esparge pelo universo, de modo bastante análogo à atual teoria cosmogênica do Big Bang. Para gerar a luz na escuridão, foi necessária apenas Sua vontade (Deus é Deus), mas, entre os pobres mortais, o mesmo só era obtido com muito esforço, e, durante eras, a penumbra foi companheira dos homens em suas longas noites.
Não foi diferente no Rio de Janeiro colonial. Por séculos, a única iluminação presente nas ruas era composta por alguns poucos lampadários suspensos em edifícios religiosos e nos nichos e oratórios em algumas esquinas. O combustível era o azeite de peixe, que fornecia uma luz baça e fraca. O número de oratórios era limitado, não mais que 73 em 1790, e, ainda por cima, não eram acesos em noites de lua, mesmo com o céu encoberto, ficando-se em total escuridão.
Oratório na rua da Alfândega,
ainda de pé no começo do século XX
Mas, além de sua pouca utilidade, os oratórios também foram causa de acontecimentos curiosos, que nos falam dos costumes desses tempos.
Em "Memórias de um Sargento de Milícias", Manuel Antônio de Almeida conta que, até uma certa época, as famílias moradoras próximas a um oratório compareciam regularmente para se ajoelhar e rezar em frente à imagem iluminada do santo, e repetidas vezes, no meio do lusco-fusco, a filha de alguém que estava mais atrás acabava desaparecendo.
Não era obra do sobrenatural, mas de algum sedutor que havia combinado dias antes a fuga com a moça, conversando discretamente através das rótulas da casa.
Além disso, a escuridão favoreceu alguns assassinatos, transformando os oratórios em caso de polícia e afastando os fiéis. Eles continuaram a iluminar, mas sem as imagens de santos, perdendo sua função religiosa.
A chegada da côrte em 1808 trouxe melhorias, com a ampliação do número de pontos de luz, apesar de ainda se utilizar o velho azeite de peixe. Após o sucesso da iluminação a gás em Londres, em 1807, pensou-se em modernizar a iluminação carioca através desse sistema.
A primeira tentativa foi em 1828, fracassando a seguir.
Finalmente, em 1854, por obra do Barão de Mauá, o Rio ganhava uma iluminação moderna, a qual transformou a vida e o aspecto da cidade. Deve-se ao pioneirismo de Mauá o fato do Rio de Janeiro ser a primeira cidade com rede generalizada de gás encanado, obra iniciada há mais de 150 anos.
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