Nara Boechat, Jornal do Brasil
RIO - A Escola de Medicina da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro completa 201 anos em 2009 e continua com grande importância na formação profissional da área médica, apesar de todas as dificuldades enfrentadas. Fundada em 1808, com a vinda da Família Real para o Rio, é considerada a instituição de assistência filantrópica mais antiga da cidade e, para muitos, o berço da medicina brasileira. Nomes como o atual ministro da Saúde, José Gomes Temporão, e os secretários, estadual e municipal, Sérgio Côrtes e Hans Dohmann, se formaram passando pelo hospital, que por muito tempo foi vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e hoje está ligado às faculdades Souza Marques e Gama Filho.
Segundo o diretor de Ensino e Pesquisa da Santa Casa, o médico José Galvão Alves, que trabalha há 33 anos na instituição, a Escola é credenciada pela Comissão Nacional de Residência Médica, órgão do Ministério da Educação, desde 1982, e tem atualmente 300 docentes vinculados às duas faculdades, ministrando aulas profissionalizantes para estudantes do 3º ao 6º anos.
– Mas também oferecemos cursos de pós-graduação e residência médica de alta qualidade, com visão social e humanista extremamente apurada – acrescenta o médico.
A boa medicina
Com dificuldades em adquirir equipamentos modernos e de alta tecnologia, o Hospital se caracteriza por investir no profissional, integrando-o ao cenário nacional. De acordo com Galvão, no ensino valoriza-se a história clínica, exame físico adequado e as condições humanas e sociais de cada paciente.
– O melhor da medicina é o bom médico. Com conhecimento, pode-se resolver de 80 a 90% das doenças. Enquanto um mau médico pode tornar-se um risco, mesmo com toda a tecnologia.
Na Santa Casa, os alunos de graduação aprendem todas as etapas de tratamento do paciente. Começam no conhecimento da sua história, depois seguem para a análise, solicitação de exames, interpretação dos mesmos, diagnóstico e receita.
– A Santa Casa paga uma bolsa de estudos para cada aluno. Temos um gasto mensal de R$150 mil – acrescenta Galvão.
Ainda segundo o médico, a escola bicentenária já especializou cerca de 900 médicos em clínica médica, cirurgia geral, ortopedia e traumatologia, patologia, oftalmologia, cardiologia, ginecologia e obstetrícia, radiologia e diagnóstico por imagem e neurologia.
Depoimentos
A aluna do 4º ano da Escola de Medicina Souza Marques, Moema Dias de Alencar, diz que se depara com muitas dificuldades na graduação, mas que tudo o que vive é essencial para a sua formação profissional e pessoal.
– Na primeira vez que entrei na Santa Casa fiquei impressionada pela grandiosidade que ela representa – conta. – Aqui é uma experiência única. Inúmeros médicos passaram pelos mesmos corredores e escreveram suas histórias, por isso me sinto orgulhosa em fazer parte desta instituição.
Rubens Braile, secretário-geral da Sociedade de Gastroenterologia do Rio de Janeiro, foi aluno da Universidade Gama Filho e da Santa Casa de Misericórdia do Rio na década de 1980. Hoje em dia, ele dá aulas na escola e afirma que o hospital se mantém crítico desde sua fundação.
– Lá, aprendi a colher as minhas primeiras histórias, entender o sofrimento daquele que está enfermo e de seus familiares. As riquezas de informações médicas e humanísticas que ali tive ratificaram minha vontade de ser médico – diz Rubens.
O médico ainda acrescenta que na Santa Casa há a oportunidade de conviver com professores importantes, como Magalhães Gomes, Cruz Lima e Castelo Branco.
– Foi o meu berço acadêmico e muito me orgulha ter em meu currículo a grife Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro.
O hospital
A Santa Casa da Misericórdia foi fundada em 24 de março de 1582 pelo sacerdote espanhol José de Anchieta. Desde a sua criação, a missão do Hospital Geral é de acolher e cuidar dos mais carentes.
Hoje em dia, a instituição oferece educandários para receber e cuidar de crianças, repousos para idosos e serviços funerários. No hospital, são feitos cerca de 10 mil atendimentos ambulatoriais por mês pelo Sistema Único de Saúde (SUS), onde mil médicos-residentes concursados cuidam da saúde básica dos pacientes. Além disso, a Casa oferece 600 leitos para internação e dez no Centro de Tratamento Intensivo (CTI).
22:07 - 06/09/2009
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