Sociedade desfibrada
Aristóteles Drummond
A elite brasileira sempre soube cumprir com o seu papel perante a história. Defendeu posições coerentes com uma nação civilizada e compromissada com a ordem e o progresso, divisa de nossa Bandeira.
Assim é que o movimento da Independência foi uma realidade tal que influenciou o príncipe regente dom Pedro I desde o chamado Dia do Fico, oito meses antes da proclamação do Ipiranga.
A estabilidade obtida a duras penas, até a maioridade e ao longo de 49 anos do Segundo Reinado, nos deu progresso e uma respeitada presença internacional.
O processo da abolição foi lento, gradual mas seguro e, por fim, reuniu a maioria do pensamento nacional.
Joaquim Nabuco, o abolicionista maior, cujo centenário da morte está sendo lembrado, nunca deixou de respeitar e admirar a família imperial, a começar pelo seu chefe.
Assim foi na Primeira República, com a conscientização da necessidade de se construir um grande país, nos sonhos dos jovens do 18 do Forte, dos movimentos de 24 e com a Revolução de 30.
Neste último, assumimos a maioridade com Vargas, nos seus 15 anos de bom-senso e segurança, com as bases do progresso social e econômico que passamos a ter, entre as maiores taxas do mundo até 1985.
Uma evolução permanente, com respaldo popular, no caso de Vargas confirmada em sua volta em 50.
Os anos JK contaram com barulhenta oposição, mas tiveram o reconhecimento da história com grande velocidade. Quando estávamos na beira do caos, em 64, os civis, empresários, políticos e intelectuais, quase toda a imprensa , agiram fortemente no sentido de forçar a manifestação dos militares.
Estes salvaram a ordem e promoveram o progresso, enfrentando, como tantos outros países, a oposição radical e sangrenta dos movimentos revolucionários além da crítica dos liberais que não entenderam a gravidade da ameaça de o país mergulhar na ingovernabilidade e interromper um processo de grande desenvolvimento econômico e social.
O Brasil tornou-se moderno, competitivo, potência econômica no regime militar, com a orientação de talentosos brasileiros como Roberto Campos, Mário Henrique Simonsen, Delfim Netto, Ernane Galveas, Hélio Beltrão, Mário Andreazza, César Cals, João Camilo Pena e outros tantos.
O trabalhador teve o FGTS e o plano habitacional; o homem do campo, o Funrural; a estrutura de governo foi reformada; houve investimento em grandes obras nos setores de energia, transportes e telecomunicações. Tudo com participação da sociedade, apoio externo e austeridade.
Agora, vivemos um momento grave, com investidas de inimigos da liberdade de imprensa, propostas que ferem o sentimento religioso (e, sobretudo, cristão) do povo brasileiro.
Hostilidades aos nossos mais tradicionais aliados e gestos de generosidade com ditadores que fariam corar o velho Barão do Rio Branco.
O cerco à livre iniciativa pela via fiscal, regulatória, ambiental e até a criação de áreas sem controle entregues a indígenas e não se sabe a quem... Isso tudo deveria provocar uma reação da elite, se ela ainda existisse.
Estamos sem voz para alertar a sociedade e o próprio governo, no seu segmento mais responsável.
Os políticos imaculados são cada vez mais raros, as penas vibrantes de indignação raras e o pensamento militar muito asfixiado, embora vivo nas palavras de oficiais como os generais Augusto Heleno e Santa Rosa.
Mas é muito pouco perto da dimensão do que nos ameaça.
Devemos procurar substitutos para Oscar Correa, Bilac Pinto, Silvio Heck, Odilo Denis, Eduardo Gomes, Rui Gomes de Almeida, Gilberto Huber...
Políticos, militares e empresários que salvaram o Brasil quando este correu perigo.
Aristóteles Drummond é jornalista.
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