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terça-feira, 15 de março de 2011

OS DOIS IRMÃOS

Os Dois Irmãos

15/03/2011 - 12:03
Enviado por: Paulo Pacini
JB


O conhecido bairro de Santa Teresa talvez seja, dentre os muitos do Rio de Janeiro, aquele que teve sua história e limites determinados por uma obra de engenharia, vital à sobrevivência da comunidade, que foi o aqueduto da Carioca, cujo trecho final, os Arcos, ainda subsistem, transformados em símbolo da cidade.



Na época em que o morro ainda chamava-se do Desterro, pois só seria de Santa Teresa após a criação do convento das freiras Carmelitas Descalças, em 1751, as águas há muito corriam pelo aqueduto, ao longo de seis quilômetros, do Silvestre até o Chafariz da Carioca, desde sua inauguração em 1723. O governador Gomes Freire reconstruiu todo o sistema com material mais durável, incluindo os atuais arcos, em substituição aos originais.





Os Dois Irmãos, marcos do antigo aqueduto da Carioca



A obra, tarefa descomunal então, era formada por um conduto feito de alvenaria, com grande dimensões internas, aproximadamente 1,80 m de altura por 90 cm de largura. Em sua base, onde a água corria e o desgaste era maior, havia uma calha esculpida no granito, formada por peças de enorme peso. O aqueduto era reto por trechos, isto é, as curvas eram feitas por segmentos retos unidos em ângulo, estando ora acima ora abaixo do solo.



Com o crescimento da demanda no século XIX, o aqueduto, mesmo explorado ao máximo, chegou a seu limite, e as obras feitas em 1889 por Paulo de Frontin, trazendo 17 milhões de litros da Serra do Tinguá em 6 dias, tornaram as águas do rio Carioca supérfluas. Em 1896, com a desativação, os bondes da Companhia Ferro-Carril Carioca passam a utilizar os arcos como viaduto, o que ocorre até hoje. Os veículos corriam ao lado do aqueduto, que, sem função, ia sendo aos poucos destruído para a construção de casas ao longo de seu caminho, que continua sendo a espinha dorsal do bairro, formada pelas hoje chamadas ruas Joaquim Murtinho e Almirante Alexandrino, originalmente conhecidas, e muito a propósito, como rua do Aqueduto.



Dentre a várias construções que compunham o antigo sistema, havia em certo ponto duas pirâmides de pedra, assinalando a presença do aqueduto, parcialmente enterrado. Os pioneiros que por lá passaram, quando era simplesmente um caminho para se alcançar as Paineiras e o Corcovado, chamaram as peças de "Dois Irmãos". Mesmo após a inauguração da linha de bondes elétricos, os marcos permaneceram por algum tempo, sendo demolidos posteriormente, legando, contudo, o nome para sempre ao local, uma referência para quem mora ou visita o bairro.



O aqueduto, maior e mais importante obra do Brasil-colônia, deixou para sempre sua marca em Santa Teresa, e é uma pena que nada tenha restado da canalização original. Ainda existem partes do sistema no Silvestre, próximo à bacia de captação, merecedoras de esforços de preservação, pois a ameaça do vandalismo e invasão está sempre presente quando a vigilância é omissa. A conservação e valorização do patrimônio não é só uma questão de auto-estima histórica, mas prova de inteligência, pois incrementa a visitação turística, gerando empregos e oportunidades.

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