A Visita de Sua Alteza Imperial e Real, o Príncipe Senhor Dom Bertrand de Orleans e Bragança, Príncipe Imperial do Brasil, a Jataí – Goiás.
JB SIQUEIRA NETO
O relato que se segue destina-se a demonstrar, mais uma vez, o prestígio natural que os nossos príncipes têm, junto à população.
Não iremos tecer considerações sobre o perfil político-filosófico ou as opiniões pessoais de Sua Alteza o Príncipe Imperial do Brasil.
Insistimos, com o devido respeito às opiniões contrárias, que não nos causa preocupação o perfil pessoal de Sua Alteza Imperial, já que a proposta que ele defende é a da Monarquia Parlamentarista, onde o Imperador – e também a Casa Imperial, conseqüentemente - não interfere diretamente, já que o Governo estará entregue a um Primeiro Ministro (ou Presidente do Conselho de Ministros). Traduzido numa linguagem mais simples, achamos que o Imperador tem todo o direito de ter suas opiniões pessoais e que isto não deva constituir-se em preocupação nacional.
Resolvidos a trazer a Jataí um príncipe brasileiro, já que a visita de D. João Henrique, no ano anterior, não tinha dado certo, optamos pelo convite a D. Bertrand, que já havia demonstrado, no relacionamento epistolar, e por telefone, consideração e vontade inquestionável de efetivar a visita.
Fizemos uma parceria com a Prefeitura Municipal de Jataí, onde ela custearia as passagens aéreas e nós, o restante da despesa (hospedagem, transporte, etc.) e enviamos para São Paulo o convite oficial assinado pelo Senhor Prefeito.
Sabendo da visita, empresa local de promoções sociais resolveu convidar o Príncipe para ser o convidado de honra na solenidade/coquetel de entrega do Troféu Mulher. O Príncipe aceitou.
A programação completa incluiu as seguintes visitas: à nossa escola, ao Bispo, ao 41º Batalhão de Infantaria Motorizada (que tem quartel nesta cidade), ao Museu Histórico, a indústria local do ramo alimentício; palestra em auditório local sobre História do Brasil; e presença no palanque oficial no desfile comemorativo do aniversário da cidade e dos 500 anos do Descobrimento.
Foi uma programação e tanto e só não foi melhor em seus resultados por força das naturais dificuldades para organizar-se um evento desta natureza. Além disso, por razões ainda não bem compreendidas por nós (e nem bem explicadas pelos políticos locais) ficamos praticamente sós para organizar e acompanhar a visita.
Muito bem recebido em todos os locais onde esteve, Dom Bertrand provocava muita admiração e respeito nas pessoas, principalmente porque a maioria desconhecia que o Brasil tinha seus príncipes, de sangue tão azul como qualquer outro da realeza mundial, e todos se sentiam muito orgulhosos disso. Pensando sobre o porquê, ocorreu-me o seguinte: os nossos livros de História do Brasil (pelo menos os atuais) citam o banimento da Família Imperial no início da República, mas não dizem que o banimento foi cancelado em 1920, no Governo Epitácio Pessoa, e que daí em diante os membros da Família Imperial, que viviam no exílio, começaram a retornar ao Brasil.
A presença de D. Bertrand no Troféu Mulher foi simplesmente espetacular.
Discursando, D. Bertrand lembrou que o Brasil era o único país da América a já ter tido mulher Chefe de Estado, que foram Dona Leopoldina, quando D. Pedro foi a São Paulo (onde proclamaria a separação completa de Portugal e a Independência política) e Dona Isabel nas vezes em que foi Regente. Estava presente à solenidade a nata da sociedade jataiense, tendo vindo de cidade próxima, Acreúna, o Juiz de Direito que é monarquista antigo, especialmente para conhecer, pessoalmente, D. Bertrand. A grande maioria dos presentes queria tirar fotos junto a ele. E foi feita, no final, entrevista para a TV local.
Na visita ao Bispo reinou a cordialidade e o entendimento. Estando presentes repórteres da Rádio AM e da Rádio FM, D. Bertrand, a certa altura, lembrou aos presentes que ali estavam dois príncipes. E como as pessoas não se lembrassem de quem era o outro, ele, D. Bertrand, lembrou: o Bispo, já que os Bispos são os Príncipes da Igreja (daí o tratamento de Dom).
Mas, a grande surpresa, pelo menos para mim e para o repórter que nos acompanhava, deu-se na visita ao quartel do 41º BIMtz.
Farei o relato minucioso para transmitir melhor a forte impressão que tive.
Quando ficou confirmada a vinda dele a Jataí, dirigi-me ao senhor comandante do batalhão para consultar sobre a viabilidade de visita ao quartel. O comandante explicou-me que o batalhão estava com visita do General Comandante do Planalto e que, portanto o General deveria ser consultado. Pediu-me que enviasse fax formalizando a solicitação da visita, e disse que daí a uma semana daria a resposta.
Passado o prazo, telefonei para ele e ele me comunicou que Brasília havia concordado com a visita e que ele, comandante do batalhão receberia pessoalmente o Príncipe na entrada do quartel, mostraria as instalações para ele, ofereceria um lanche e apresentaria os oficiais.
Muito bem.
No horário combinado, de manhã, fomos lá para o quartel: D. Bertrand, Voiseau (seu acompanhante), o repórter (que é meio monarquista) e eu. Chegando lá, apareceu um sargento que nos pediu para aguardar na entrada. Havia um grupo de soldados formados. Veio então um corneteiro e tocou um longuíssimo toque, após o qual D. Bertrand foi convidado a entrar. A tropa formada apresentou armas e olhou à direita ao comando do sargento. Aproximou-se então o Tenente Coronel Comandante e prestou-lhe continência, apertando-lhe a mão em seguida e dando as boas vindas.
Após o lanche fomos conduzidos a um enorme salão, pelo comandante, para a apresentação dos oficiais.
A apresentação foi assim.
Todos os oficiais estavam em posição de sentido ao longo da parede do enorme salão. O comandante, após breve apresentação do conjunto, solicitou que cada um se apresentasse. Aí, cada um deles dava um passo à frente, fazia continência para D. Bertrand, dizendo nome, posto e função no batalhão, retornando, após, à posição de sentido original. Durante toda a visita Dom Bertrand foi tratado da melhor maneira possível, com um respeito e uma admiração que nos deixou profundamente impressionados e pensativos. Eram evidentes a natural liderança do Príncipe e o orgulho nacional que a própria existência dele despertava em todos os oficiais presentes. No final da visita ficamos sabendo que o toque muito longo, de clarim, recebendo o Príncipe, era toque de General! A respeito, comento o seguinte: quem tiver olhos para ver, que veja, e ouvidos para ouvir, que ouça. Mais clareza é impossível.
Visitamos indústria de derivados de frango, congelados, onde Dom Bertrand conversou por mais de duas horas com o principal acionista. Lá ele foi homenageado com farto almoço.
Na visita ao Museu Histórico, ele conheceu quitutes regionais que provou com todo o prazer, enaltecendo a importância da preservação dos pratos regionais. Criticou as comidas de lanchonetes do tipo fast-food que padronizam a alimentação no mundo inteiro. Definiu-se radicalmente contra a globalização, também.
O único evento que não teve grande platéia foi a palestra, porque foi anunciada sem a devida antecedência.
A visita ocorreu nos dias 30 e 31 de maio e 1º de junho de 2000. Até hoje, de vez em quando, sua visita é lembrada pela mídia local. Quem tirou fotos com ele as exibe em seus locais de trabalho – quando possível – ou em suas residências.
O sucesso, pois, foi muito grande.
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