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domingo, 29 de abril de 2012

CAIS DO PORTO: A PEQUENA ÁFRICA RENASCE . . .


Pequena África renasce no cais do porto do Rio


Celina de Xangô é voluntária nas escavações do Porto Maravilha
Celina de Xangô é voluntária nas escavações do Porto Maravilha Foto: Gustavo Azeredo / EXTRA

Clarissa Monteagudo
EXTRA

Aos olhos da mãe de santo Celina de Xangô, os canteiros de obras do Porto Maravilha escondem uma realidade mística. Tratores e operários, em sua visão espiritual, revolvem uma terra sagrada: a Zona Portuária, chamada de Pequena África. Desde agosto, a religiosa é voluntária no reconhecimento de peças extraídas do Cais do Valongo, o maior porto de escravos das Américas no século 19.
Soterrado pelo Império para ocultar os horrores da escravidão, o sítio arqueológico foi revelado pelas obras de drenagem na Avenida Barão de Tefé. Onde todos veem pedras, Celina enxerga orixás e objetos sagrados usados pelos africanos para suportar com fé as dores do cárcere:
— A pesquisadora achou nas escavações uma imagem de Bara, que é o orixá Exu. Como é católica, ficou até com medo de pegar, achando que era uma coisa ruim. Expliquei que ele é um orixá mensageiro, que tem a ver com virilidade e poder, por isso foi demonizado. Imagina, ele era o gostoso da história!
Lágrimas nos olhos, a sacerdotisa afro destaca a importância das peças trazidas pela equipe da professora Tânia Andrade Lima, arqueóloga do Museu Nacional da UFRJ, responsável pelo sítio.
Celina já reconheceu otás (pedras que representam os orixás), monjolós e seguis (contas sagradas). Todos vindos do Cais do Valongo, que deverá ser aberto para visitação em junho. Um presente das obras do porto para a história da cidade.
— Encontrar os objetos mágicos religiosos nos causou forte emoção. Eles mostram que, no meio da mais absoluta dor, escravos mantinham a esperança. É comovente — declara Tânia, que buscou três sacerdotes afros para reconhecer e comprovar os significados das peças.
Radialista criada em São Gonçalo e diretora do Centro Cultural Pequena África, Celina se mudou para a Rua Sacadura Cabral, na Zona Portuária. Não quer mais tirar os olhos do campo sagrado de suas descobertas.
— Se sou Celina de Xangô (Ydaobá), agradeço aos ancestrais. Não fecharei meus olhos a isso. Minha raiz está toda enterrada aqui.
Circuito vai valorizar a cultura negra
A Pequena África compreende a região entre os bairros Gamboa e Saúde, a Praça Mauá e um pedaço de São Cristóvão. Nesse lugar, baianas como Tia Ciata realizavam encontros musicais e religiosos — as festas de candomblé — em suas casas, além de seduzir o povo com os sabores de seus tabuleiros. Essa história será contada aos cariocas e turistas que visitarem a Zona Portuária.
— Quando as obras ficarem prontas, o circuito será um grande museu a céu aberto. É a preservação do patrimônio material e imaterial da cidade — explica o vereador Paulo Messina, autor da emenda que criou o circuito histórico e cultural.
Identidade da região
Já o memorial do Cais do Valongo terá 1.350 metros quadrados e arquibancadas onde cariocas poderão ver preservada parte da história.
— A transformação do Cais do Valongo num monumento à herança africana afirma o Porto Maravilha como processo de renovação urbana. Mas, ao mesmo tempo, de preservação da identidade da região portuária — define Alberto Silva, coordenador do Programa Porto Maravilha Cultural.
Memória africana
- Cemitério dos Pretos Novos
Proprietários de uma casa na Rua Pedro Ernesto, na Gamboa, levaram susto ao fazer a reforma no imóvel: encontraram ossadas enterradas. A construção foi erguida em cima de um cemitério. Pesquisadores acreditam que tenham sido sepultados no terreno até 30 mil escravos africanos. Muitos já chegavam doentes da dolorosa travessia nos navios negreiros.
- Pedra do Sal
Palco de rodas de samba até hoje, tem uma escadaria esculpida na rocha. Ali, desembarcava o sal trazido dos navios de Portugal (brasileiros eram obrigados a comprar sal importado). Mais tarde, sambistas foram morar na região. No século 20, funcionou o bar João da Baiana. É claro que deu samba!
- Largo de São Francisco da Prainha
Antes do aterro que deu origem ao porto do Rio, o mar ia até o Largo da Prainha, altura da Rua Sacadura Cabral. As obras revelaram as pedras do antigo cais e do píer, onde barcos aportavam. Entre os monumentos da região, está a Igreja do Largo de São Francisco da Prainha.
Saiba mais sobre o projeto
Realizado com cerca de R$ 8 bilhões em investimentos durante 15 anos, o projeto do Porto Maravilha prevê, por exemplo, a construção de quase quatro quilômetros em túneis e a demolição do elevado da Perimetral. Ciclovias, 70 quilômetros de vias reurbanizadas e dois museus estão entre as novidades.
Com a escavação para construir galerias pluviais na Avenida Barão de Tefé, também foram encontradas as ruínas do Cais da Imperatriz, construído em cima do Cais do Valongo para receber Teresa Cristina de Bourbon-Duas Sicílias, que se casaria com Dom Pedro II.
Os pesquisadores também planejam construir o Memorial da Diáspora Africana na Zona Portuária. O objetivo não é reviver o horror da escravidão, mas celebrar a força, a riqueza e a diversidade da cultura e da religiosidade dos povos africanos.
A arqueóloga Tânia Lima é auxiliada por Mãe Meninazinha de Oxum, pelo professor e babalaô Fernando Portugal e por Celina na identificação das peças encontradas no sítio arqueológico.

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