Apesar da revolução causada na comunicação humana pela introdução da internet há quase 20 anos, primeiro com o correio eletrônico, e hoje com diversas mídias sociais, o meio de divulgação de notícias de referência continua sendo, para muitos, a imprensa escrita com seus jornais. Embora com tiragem reduzida e em muitos casos só existindo on-line, os jornais continuam firmemente enraizados no imaginário popular, fruto de séculos de existência em uma tradição que certamente custará a passar, se é que um dia irá.
A perspectiva de um futuro sem jornais pode causar estranheza, mas pelo menos nos consolamos em saber que serão substituídos por uma infinidade de outros meios, e que não seremos deixados em um vazio absoluto de notícias.
A casa do Conde da Barca na rua do Passeio, berço da impresa brasileira
Muito diferente foi o que viveram os habitantes do Brasil colonial, quando a coroa portuguesa, em sua política de exploração absoluta, negava a quem aqui morava os mais elementares direitos, tudo fazendo para impedir o desenvolvimento e não investindo em nada, fora o que facilitasse a exportação das riquezas para a metrópole, e o que garantisse a sobrevivência básica. Uma das conquistas da civilização mais temidas para a coroa era a imprensa, pois a difusão de idéias por material impresso era vista como potencial ameaça, pois o esclarecimento poderia fácilmente conduzir à rebelião. Portanto, era imperioso manter a maioria na mais profunda ignorância.
Houveram tentativas de estabelecer uma imprensa durante a colônia, como em 1706, no Recife, e em 1747, no Rio de Janeiro, sob os auspícios de Gomes Freire, que, a contragosto, recebeu ordens de Lisboa para fechá-la. Tudo continuaria assim, caso a côrte portuguesa não tivesse aqui chegado em fuga no ano de 1808. Súbitamente, a situação da colônia virou ao avesso, e, como num passe de mágica, transformou-se na capital do reino. Com isso, a existência da imprensa tornou-se, ao invés de ameaça, uma necessidade. Assim, em 13 de maio de 1808, o príncipe-regente D.João reverte séculos de atraso com uma penada, criando o embrião de toda atividade de imprensa que se seguiu, até os dias de hoje. Nunca será demais agradecermos a Napoleão pela fuga da côrte para nossas terras.
A recém-criada Imprensa Régia precisava de um local, para passar do decreto à palavra escrita, e encontrou abrigo na casa do Conde da Barca, na rua do Passeio. E foi de lá, a 10 de setembro de 1808, que saiu o primeiro número do primeiro jornal brasileiro, a Gazeta do Rio, redigido inicialmente por Frei Tibúrcio José da Rocha. A Imprensa Régia mudaria de endereço várias vezes, indo primeiro para a rua dos Barbonos (Evaristo da Veiga), para chegar em 1860, agora como Imprensa Nacional, ao antigo Largo da Carioca, onde teve prédio próprio, já demolido. Outras iniciativas rápidamente povoaram todo Brasil com grande número de publicações, às quais os leitores se atiravam com avidez, talvez compensando o jejum ancestral de séculos sem notícias.
O prédio que viu nascer a imprensa brasileira, contudo, mudou de mão várias vezes, sendo ocupado no Império pela Secretaria de Justiça e pelo Pedagogium na República, uma escola de formação de professores. Foi demolido nas primeiras décadas do século XX, substituído por prédios de grande porte, como o da Mesbla e aquele onde ficava o cinema Metro-Boavista. Esse local anônimo, com suas calçadas infestadas de camelôs, contudo, foi a origem de um grande movimento de transformação da consciência coletiva através da informação, e, portanto, um dos berços da própria nacionalidade.
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